Presidente do Conselho Regional de Contabilidade, Carla Tasso comenta sobre os principais desafios hoje para o desenvolvimento do contador

Por Amanda Amaral

Nesta quinta-feira (22) é comemorado o Dia do Contador, profissional responsável pela saúde financeira das empresas. Contudo, há muitos desafios para a profissão que se depara com a sua inserção na Era Digital e a formação de mão de obra qualificada para o mercado.

A ES Brasil conversou com a presidente do Conselho Regional de Contabilidade (CRC), Carla Tasso, sobre os desafios atuais. Segundo a contadora, entre os assuntos de maior atenção à categoria no momento, está o metaverso – tecnologia que une o mundo físico ao digital.

Outro tema que ganha cada vez mais espaço no ambiente organizacional é o ESG, que na tradução significa Ambiental, Social e Governança. Com a proximidade da criação de uma norma contábil para o conceito, o Conselho Federal de Contabilidade criou uma comissão para discutir o assunto.

Carla Tasso destacou ainda a nova tendência das empresas contábeis de contratarem especialistas, e a importância de incentivar os jovens a se formarem em contabilidade, pois a falta de profissionais na área já é uma realidade, não só no Espírito Santo, mas em todo o Brasil.

O 5G já é uma realidade em várias capitais brasileiras, inclusive em Vitória, e a promessa é de que ele acelere o desenvolvimento da Industria 4.0, da Internet das Coisas e do e-commerce. Como está sendo a inclusão do profissional contábil na era digital?

Várias empresas de tecnologia estão inserindo o contador nesse momento da Indústria 4.0 e da Indústria 5.0. Estão inserindo o profissional contábil nas novas formas de trabalho, usando a tecnologia a seu favor. Já estão falando, inclusive, em prestação de serviços e atendimento utilizando o metaverso. Nós participamos de várias palestras em todo o Brasil e em todos os eventos abordamos a questão do metaverso e das habilidades, os soft skills. Tudo isso para inserir o contador nesse momento atual.

Esse ano o ICMS foi bem debatido entre o Governo Federal e os entes federados, o que resultou na redução da alíquota. Esse é um exemplo, mas a mudanças tributárias que resultam em novas leis e normas são constantes no Brasil. Como o contador acompanha todas essas mudanças?

Esse é um dos maiores desafios dos profissionais de contabilidade, estar em um país com mais de dez mil atos publicados no ano, em todas as esferas, na municipal, estadual e federal. Conseguir atender isso e ter conhecimento disso tudo é um grande desafio. Uma das formas que temos de conseguir apoio é com as consultorias de legislação. Porém, mais do que acompanhar, precisamos colocar o cliente a par disso, entender como isso influencia os negócios deles. Não se tratando só de legislação tributária, mas também das próprias normas contábeis, que mudam ao longo do ano.

E como lidar com isso visando a saúde financeira dos negócios?

A tendência é não ter mais um profissional generalista e, sim, especialista. Na mesma organização, termos a presença de diferentes especialistas da área no setor de contabilidade. Dentro das empresas de contabilidade, já existem setores direcionados por atividade empresarial para que possa ser prestado um serviço de melhor qualidade.

Falando sobre normas contábeis, a expectativa é de que este ano já sejam divulgados textos da IFRS Foundation a respeito da normatização do ESG. Como o profissional contábil vem acompanhando esse processo?

Foi criada uma comissão, em Brasília, pelo Conselho Federal de Contabilidade para tratar dessas normas. Inclusive, eu mesma fiz essa sugestão para o presidente do Conselho, com a intenção de que saíssemos na frente, pois afinal o Conselho Federal de Contabilidade é o órgão regulador da profissão. Essa nova contabilização vai ter muita importância daqui para frente. Já estamos trabalhando nisso, a comissão já está começando a ser composta. Em breve, teremos novidades.

Aqui no Espírito Santo, eu criei uma comissão, porque nós fomos aceitos no Pacto Global da ONU – Organização das Nações Unidas. É o primeiro Conselho Regional de Contabilidade do Brasil e um dos primeiros conselhos de profissão no país a ingressar no Pacto Global.

E como foi este processo? Qual o motivo da iniciativa?

Fizemos uma comissão para tratar das ações que nós, enquanto conselho de profissão, faremos para se adaptar as metas da ONU. A iniciativa surgiu após a organização de um evento sobre ESG, com apoio do Secretário de Estado de Controle e Transparência, Edmar Camata. Conversando sobre isso, ele me apresentou toda essa questão do ESG e do Pacto Global e de como o Estado está fazendo para apresentar essas questões no Portal da Transparência. Comecei a estudar o assunto e vi a sua grandiosidade, o fato de poder participar e contribuir com a sociedade de uma forma mais efetiva, além de agir para melhorar as coisas. Então, eu cadastrei o CRC. Para nossa surpresa, em menos de seis meses, fomos aceitos pela ONU.

Já trabalhamos a questão do uso da energia fotovoltaica, não usamos mais energia comum. Agora, vamos trabalhar o reaproveitamento da água e a parte de comunicação relativa aos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Esta quinta-feira (22) é comemorado o Dia do Contador, mas ainda há desafios para o melhor desenvolvimento da carreira. Quais são eles?

Acho que nosso maior desafio hoje é a regulação do mercado. Temos ainda no Brasil um sistema muito burocrático para se trabalhar, onde a gente encontra redundâncias de informações nos níveis federal, estadual e municipal. Os órgãos públicos não se conversam com eficiência e isso gera um trabalho muito maior para o profissional contábil.

O segundo desafio é a mão de obra. Hoje temos uma deficiência enorme de mão de obra no mercado. Isso piorou com a pandemia, pois veio toda a questão do trabalho home office e dos regimes híbridos nas faculdades. Então, as contadoras estão com dificuldade de contratar profissionais. Isso em todo o Brasil, não só no Espírito Santo. As empresas contábeis estão com dificuldade de encontrar contadores.

Nós do CRC acabamos de realizar uma parceria com a Secretaria de Estado da Educação para incentivar os alunos do ensino médio a fazerem contabilidade. O CRC também está efetuando uma série de ações na linha da educação continuada. Fizemos mais de 70 cursos on-line e híbridos.

Em razão da data, também gostaria de deixar um recado para os contadores para que eles participem do Conselho Regional de Contabilidade, que além de regular a profissão, é quem protege a sociedade dos maus profissionais.