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quinta-feira, 2 maio, 2024

Brasil deixa de ganhar 2 pontos no PIB com educação

Se os países latinos garantissem educação de qualidade, somariam US$ 76 trilhões ao longo do século 21

Por não chegar ao menos à nota média dos estudantes de países desenvolvidos em avaliações internacionais, o Brasil deixa de ganhar 2 pontos porcentuais no Produto Interno Bruto (PIB) ao ano. A conclusão está em um estudo de pesquisadores da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), que faz uma síntese das evidências sobre o impacto da educação no crescimento de uma nação. O Brasil é um dos últimos colocados em rankings de avaliações e seu PIB médio, na última década, foi de 0,26%.

O trabalho também deixa claro que o aumento da riqueza de um país se dá pelo incremento na qualidade da educação e não apenas pela taxa de escolaridade, como se acreditava no passado. As dezenas de estudos analisados levaram em conta resultados dos países em avaliações como o Pisa, feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS). 

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Um dos estudos, de Eric Hanushek, da Universidade de Stanford, de 2022, indica que se os países da América Latina garantissem que todos os estudantes alcançassem o nível básico de proficiência no Pisa, os ganhos para a região ao longo do século 21 somariam US$ 76 trilhões. “A educação é condição necessária para o crescimento sustentável, para um ciclo virtuoso. Não é só que o país produz mais, há melhora da vida das pessoas, em saúde, com menos criminalidade, salários mais altos, inovação, participação política”, diz o professor da FGV e diretor do Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para a África Lusófona e o Brasil (Clear), André Portela, responsável pelo estudo.

Estudos considerados pela FGV mostram também como uma escola de mais qualidade influencia positivamente outros aspectos sociais, reduzindo taxas de homicídios e violência doméstica, por exemplo Há ainda uma pesquisa brasileira que indica que o aumento no Ideb, o índice de desenvolvimento da educação no País, está associado a maiores taxas de geração de emprego nos municípios.

“O verdadeiro motor da economia não é a taxa de juros, é o capital humano. Ele perdura e tem impactos reais a longo prazo”, afirma o diretor de conhecimento, dados e pesquisa da Fundação Lemann, Daniel De Bonis. O estudo foi feito a pedido da entidade “A gente vê sempre o debate econômico ganhando destaque, quando deveríamos estar discutindo o investimento em educação. Cada ano que a gente perde não garantindo uma aprendizagem adequada para as crianças é uma riqueza futura que a gente está perdendo.”

Pesquisas mostram que a melhora na educação impacta ainda mais os países em desenvolvimento. Em países de renda média baixa, o PIB poderia ser elevado em até 28%; entre os de renda média alta, como o Brasil, em até 16%, e nos de renda alta, 10%. Entre os exemplos de nações que tiveram melhora na educação e crescimento econômico nas últimas décadas estão Cingapura, Coreia do Sul, Portugal e Polônia, todos com notas acima da média dos países membros da OCDE.

Na última avaliação do Pisa, que foi feita em 2018 e divulgada em 2019, o Brasil teve nota 382 em matemática, por exemplo, enquanto a média OCDE é de 489. Em Ciência, foram 404 e 489, respectivamente.

Segundo Portela, se os estudantes brasileiros aumentassem a nota em cerca de 50 pontos, o equivalente à metade do caminho até chegar à média dos países desenvolvidos, o PIB do País já cresceria 1 ponto porcentual. Em toda última década (2011-2020), com recessão e pandemia, o Brasil registrou PIB médio de 0,26%, ao ano, o pior desempenho da história.

Básico

Com a nota atual no Pisa, a maioria dos alunos brasileiros está em níveis considerados abaixo do básico em Leitura, Matemática e Ciência, as três áreas avaliadas pelo Pisa. Mesmo com um aumento na nota nos últimos anos, quatro em cada dez adolescentes do País – o exame é feito aos 15 anos de idade – não conseguem identificar a ideia principal de um texto, ler gráficos, resolver problemas com números inteiros ou entender um experimento científico simples.

Segundo estudos analisados, se o Brasil continuar no mesmo ritmo de desenvolvimento de capital humano, demoraria uma década para chegar ao nível do Chile e três décadas para alcançar nações como Portugal e Japão. A situação ainda piorou com a pandemia de covid-19, cujas pesquisas mostram perda de aprendizagem das crianças em todo o País – especialmente na etapa de alfabetização.

Para De Bonis, o estudo é oportuno para o momento atual, de novo governo, federal e estaduais. “Para que tenham perspectiva de longo prazo e menos imediatista. Talvez não consigam fazer em quatro anos, mas podem criar bases, colocando a educação na centralidade da política.”

O Brasil, completa, precisa investir mais em educação, mas também registra desempenho pior do que outras nações de renda semelhante. “É preciso ampliar de forma responsável o investimento na educação, valorizando professor, investindo em infra estrutura.”

Orçamento

Durante o governo de Jair Bolsonaro, o Ministério da Educação (MEC) sofreu sucessivos cortes orçamentários, que afetaram o ensino básico e o superior. Não houve ajuda para as escolas durante a pandemia ou políticas públicas para combater a defasagem educacional.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu garantir na PEC da transição cerca de R$ 10 bilhões a mais para a educação, em especial para o reajuste da merenda escolar, ainda não anunciado. Em fevereiro, foram divulgados aumentos no valor das bolsas de pós-graduação, mas ainda são aguardados novos investimentos.

Com informações de Agência Estado

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