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sexta-feira, 26 abril, 2024

A hora e a vez da energia renovável

A hora e a vez da energia renovávelO Espírito Santo é hoje a unidade da Federação que apresenta um dos maiores consumos de energia per capita no Brasil, segundo informações do Ministério de Minas e Energia. Os responsáveis por esse consumo são as grandes empresas, somadas à população capixaba. Nesse contexto, caso o Estado não invista em novas fontes de energia, não ficará livre de um apagão. A previsão do Operador Nacional do Sistema (ONS), responsável pela coordenação e controle da operação da geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional, é de que o Estado terá entre 2008 e 2012 o maior acréscimo de consumo anual de energia do País em números absolutos.

Os dados destacam que o consumo vai se elevar de 236.614 Gigawats/hora, em 2008, para 288.141 GWh, em 2012 (uma variação bruta de 51.527 GWh), o que pode acarretar um aumento no consumo da carga de energia no subsistema (reservatório de energia) e de, em média, 4,9% ao ano, passando de 32.302 Megawats médios, em 2008, para 39.159 MW/médios em 2012.

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Mas o problema energético não é de exclusividade do Espírito Santo. Desde que o Brasil enfrentou sua maior crise energética, em 2001, o País deparou-se com a necessidade de apostar em novas fontes de energia renovável, uma vez que o investimento em usinas hidroelétricas, responsável por 90% da energia consumida em território nacional, tornou-se uma alternativa cara, esgotável e inviável no aspecto ambiental.

A partir de então, a energia renovável passou a fazer parte da linha prioritária de investimentos em pesquisa e desenvolvimento do governo federal, que tem como objetivo torná-la cada vez mais competitiva e de ampliar percentualmente a matriz energética no País. Nesse contexto, foi levada em conta a possibilidade de que a energia nuclear, tida por especialistas como “não emissora” de gases estufa e “segura”, seria um tipo de energia que apresentaria crescimento.

Contudo, a energia nuclear deixou de ser uma alternativa aclamada pela opinião pública, principalmente depois do terremoto, seguido de tsunami, que causou desastre das usinas nucleares em Fukushima, no Japão. Agora, reaberto o debate, especialistas apontam que a tendência é de que, com a pressão pública, os custos para essa modalidade de geração de energia, já considerados altos, possam ficar ainda mais elevados devido à preocupação com outros desastres, fortalecendo a busca por outros meios alternativos.

Nesse cenário, as energias renováveis, como a eólica, a biomassa e a solar, ganharam força. O professor de Ecologia e Meio Ambiente da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e especialista em sustentabilidade Luiz Fernando Schettino explica que as energias renováveis passaram a ser alternativas importantes para evitar situações difíceis. “Tanto em casos de extremos climáticos, quanto no atendimento do crescimento da demanda, a aposta em energia renovável é fundamental para o crescimento socioeconômico em bases sustentáveis e, sem sustos, por falta de energia. Isso indica grande perspectiva nesses setores tanto para o Brasil, quanto para o Estado do Espírito Santo”, declarou.

Schettino aponta, por exemplo, que a energia eólica, ou seja, produzida pelo vento, foi uma das fontes renováveis de energia que mais cresceram em potência instalada e em tecnologia nos últimos anos em todo o planeta.

Um Brasil de potencial eólico
Mesmo com grandes investimentos para exploração da energia fóssil (gás e petróleo), a energia eólica se transformou numa alternativa que tem atraído investimentos para todo o País. O primeiro documento a medir o potencial de geração desse tipo de energia no Brasil foi publicado em 2001, o “Atlas do Potencial Eólico Brasileiro (2001)”. O documento sinalizou um potencial bruto de 143 GW, sendo que as áreas com regimes médios de vento propícios à instalação de parques eólicos encontravam-se, principalmente, nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste do País.

Dados mais atualizados dão conta que o Brasil tem potencial para gerar até 300 mil MW de energia elétrica a partir de parques eólicos, ou seja, o equivalente a 30 usinas hidroelétricas de Itaipu (que tem capacidade de 14 mil MW, sendo considerada a maior usina geradora de energia do mundo). Além disso, segundo informações da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a capacidade instalada das usinas movidas por ventos crescerá 320% ao longo desta década.

Entretanto, conforme o Ministério da Minas e Energia, a participação eólica dentro da matriz energética no País ainda é pequena, apesar de as projeções serem otimistas. “O fator de capacidade médio das usinas em operação tem se mostrado próximo a 34%, bastante superior aos valores típicos observados na Europa”, afirmou o diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético, ligado ao Ministério, Hamilton Moss de Souza.

Ele conta que a matriz elétrica brasileira aponta uma participação eólica ainda pouco expressiva, com apenas 936,8 MW de potência instalada. “Até 2012, haverá um considerável aumento nessa participação com a entrada do restante das usinas contratadas no Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), por meio dos leilões. Em 2009, um deles, o Leilão de Reserva, foi responsável pela contratação de 71 usinas, totalizando 1805,7 MW. Em 2010, o Leilão de Fontes Alternativas contratou 70 usinas, totalizando 2047,8 MW. Há ainda mais 14 usinas que entrarão em operação que adicionará 528,93 MW”, enfatizou.

Espírito Santo no mapa de investimentos em energia renovável
De que forma o Espírito se insere nesse cenário promissor para a energia renovável, em especial a eólica? Com o lançamento do “Atlas Eólico do Espírito Santo”, em junho de 2009, diagnosticou-se o potencial de geração de energia a partir da força do vento em todo o território capixaba. O documento, elaborado em convênio entre a Agência de Serviços Públicos de Energia (Aspe) com a EDP Escelsa, colocou o Estado no mapa de atração de investimentos eólicos e indicou os municípios de São Mateus, Linhares, Presidente Kennedy, Marataízes, Montanha e Santa Teresa como promissores.

Esse mapeamento foi feito com uma rede de seis torres anemométricas – mecanismo de medição de ventos – instaladas em locais criteriosamente selecionados. Foram duas torres instaladas no litoral sul (Praia das Neves, em Presidente Kennedy, e Piúma), uma na região serrana (Aracê, em Domingos Martins), duas torres no litoral norte (Urussuquara, em Linhares, e Guriri, em São Mateus) e uma torre no extremo norte do Estado (Montanha). Os resultados indicaram sazonalidade com intensidade de ventos nos meses da primavera (setembro a novembro) e mais brandos nos meses do final do outono e início do inverno (abril a junho). Outros pontos em potencial estão situados em regiões de proteção ambiental, como o Parque Estadual de Itaúnas, em São Mateus, e o Parque Estadual Paulo César Vinha, em Guarapari.

Outra importante revelação do Atlas foi sobre o potencial de geração de energia eólica em terra e mar, que pode ser superior à capacidade das hidrelétricas já instaladas no Espírito Santo. No documento, o Estado apresentou potencial onshore (terra firme) estimado de 0,53 GW a 50 metros de altura, de 1,79 GW a 75 metros e de 4,06 GW a 100 metros. Essa capacidade é superior a de geração de energia da Usina Hidrelétrica Suíça, localizada em Santa Leopoldina e que gera 34,5 MW. Sua matriz vem do aproveitamento do potencial hidráulico do Rio Santa Maria da Vitória, que, além de ser explorado como fonte energética, é responsável pelo abastecimento de água de toda a Grande Vitória. Por isso, o investimento em energia onshore também seria importante para preservar esses recursos natural, que se encontra ameaçado.

O potencial offshore (no mar) também é bastante significativo: 4,7 GW em locais com velocidades maiores do que 7 m/s e a 75 metros. Porém, segundo o Atlas, a sua exploração exigirá uma tecnologia ainda não utilizada no Brasil, mas já existente em outros países.

O Atlas defende ainda que as usinas em mar possuem vantagens em relação às usinas em terra, por causa da qualidade do vento, que é, além de naturalmente mais intenso, também menos turbulento (pois desloca-se sobre uma superfície plana), o que significa menor fadiga e maior durabilidade para as máquinas. Um dos locais de maior potencial eólico capixaba está configurado na Zona de Amortecimento (ZA) do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos (localizado entre a Bahia e o litoral capixaba) e que abrange uma significativa parcela das águas ao longo do litoral. Essas águas respondem por 45,5% do potencial eólico a 75 metros de altura, em locais com profundidades de 0 a 20 metros e velocidades médias de vento maiores que 7 m/s.

Complexo Eólico de Linhares
O desenvolvimento do “Atlas Eólico” foi fundamental para que o Espírito Santo participasse, em 2009, do Primeiro Leilão de Energia Eólica do País promovido pelo governo federal, através da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Ministério de Minas e Energia. Seis projetos foram apresentados, ofertando uma geração de 153 MW de energia. Esses projetos fazem parte do Complexo Eólico de Linhares, do Grupo EDP do Brasil, empresa controladora da Espírito Santo Centrais Elétricas (Escelsa).

Dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado ressaltam a importância do Complexo Eólico de Linhares. Caso ele seja implantado, terá capacidade estimada de produção de cerca de 440.000 MWh/ano, o que seria suficiente para atender 184 mil residências com consumo médio mensal de 200 kWh/mês. Para se ter uma ideia, se partirmos do pressuposto de que cada residência possui, pelo menos, cinco moradores, esse potencial seria suficiente para abastecer as cidades de Vitória, com 322.142 habitantes, e Serra, com 400.659.

As regiões que fazem parte do Complexo de Linhares são Urussuquara (com capacidade de produção de 30 MW), Capões (30 MW), Sol (30 MW), Savonius (30 MW), Veredas (18 MW) e Campos (15 MW). Esses locais possuem uma considerável extensão de terras planas, são despovoados e contam com velocidades médias anuais de vento acima de 7 m/s a 75 m de altura.

Muito potencial, baixo aproveitamento
Apesar das boas projeções, no Estado ainda não há aproveitamento de seu potencial eólico. Das 51 usinas eólicas em operação no Brasil, nenhuma está no Espírito Santo. “Apesar disso, entendemos que há grandes expectativas para um cenário promissor para o Espírito Santo devido a esse elevado potencial eólico apresentado”, destacou o diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético, Hamilton Moss.

O diretor técnico da Aspe, Ayrton Porto Filho, pontua que os projetos capixabas apresentados para o Primeiro Leilão de Energia Eólica não foram selecionados, mas continuam competitivos. Um novo leilão está previsto para o segundo trimestre deste ano, e o Estado tem boas chances em sua participação. Entretanto, segundo o diretor, os leilões realizados atualmente não dividem em sistemas a localização das unidades de geração eólica.

“Enquanto houver muitas áreas disponíveis na região Nordeste, haverá grande concentração de energia eólica. Defendemos a regionalização desses leilões por subsistemas. Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo formariam um subsistema, até porque a maior concentração de energia e demanda está nessa região. Teríamos um leilão específico. Se isso acontecer, os locais que foram identificados pela Aspe vão se tornar extremamente competitivos”, ponderou.

Ayrton relata que em 2009, os vencedores de leilões possuíam os menores preços e os melhores fatores de capacidade, perto de 50 e 55% de tempo de geração de energia elétrica. “Isso significa que durante o ano, ao longo de todas as estações, esses locais são capazes de gerar energia eólica em metade dele”, explicou.

O técnico da Aspe avaliou que nos levantamentos realizados no Brasil pelas empresas interessadas nesse tipo de investimento, as regiões Nordeste e Sul ofereceram, no último leilão, as melhores condições de ventos. Por sua vez, o Espírito Santo tem uma capacidade de geração em torno de 40%, com os melhores potenciais em Linhares e Presidente Kennedy. “O Estado tem crescido muito e demanda muita energia. Nosso potencial hídrico vem se esgotando gradualmente, estamos praticamente no limite e precisamos de energia. A energia eólica é uma alternativa, pois se trata de uma energia limpa e renovável, que não agride o meio ambiente”, disse Ayrton.

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