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terça-feira, 7 maio, 2024

A força da Saúde na economia do Espírito Santo

Com participação de 9% do PIB nacional, consumo de bens e serviços de saúde movimenta a economia, mas setor também contribui na geração de empregos e renda, inovação tecnológica e atração de investimentos para o estado

Por Daniel Hirschmann

A pandemia de Covid-19 deixou mais evidente a importância do setor de saúde para a sobrevivência e o bem-estar da população, mas também revelou um dos principais motores econômicos do País, dos estados e municípios. Devido à sua capacidade de gerar empregos, atrair investimentos e impulsionar o desenvolvimento, a saúde tem se destacado como um pilar essencial para a retomada do crescimento econômico sustentável no período pós-pandemia.

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No Espírito Santo, o setor de saúde também tem um impacto econômico direto e indireto, contribuindo para a geração de empregos, atração de investimentos, inovação tecnológica e desenvolvimento de infraestrutura.

“O setor de saúde está ficando cada vez mais atraente como setor de atividade econômica, tanto em termos de participação no PIB, em torno de 9%, mas também como gerador de emprego e renda. A tendência é que essa participação e relevância aumente ainda mais”, avalia o especialista em Sistemas de Gestão Hospitalar Felipe Vilela, mestre em Administração de Empresas e doutorando em Ciências Contábeis e Administração pela Fucape Business School.

A força da Saúde na economia do Espírito Santo
Felipe Vilela é Pós graduado em gestão empresarial, mestre em administração de empresas, doutorando em Ciencias Contábeis e Administração pela Fucape – Foto: Divulgação

Vilela cita dados divulgados em abril de 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicando que as despesas com o consumo final de bens e serviços de saúde no Brasil atingiram R$ 711,4 bilhões, ou 9,6% do PIB, em 2019. Essa proporção em relação ao PIB, em 2019, foi a maior da série histórica da Conta-Satélite da Saúde do IBGE, iniciada em 2010. Segundo ele, como o PIB nacional de 2022 foi de R$ 9,9 trilhões e os gastos com saúde atingiram aproximadamente R$ 889 bilhões, repete-se a participação em torno de 9%. “No Espírito Santo, se a gente aplicar esses 9%, falando de um PIB de R$ 178,4 bilhões, chega-se a R$ 16 bilhões desse setor”, calcula.

Uma característica que favorece o setor de saúde é o fato de sua demanda não ser elástica, ou seja, não variar de acordo com o momento econômico. Apesar de ter crescido nos últimos dois anos em função da Covid, segundo dados do Conselho Federal de Medicina (CFM), o setor cresce organicamente.

Vilela destaca que o setor de estética cresceu 390% de 2021 para 2022, a indústria farmacêutica subiu em torno de 12% e na saúde o aumento foi de aproximadamente 7%, o que provoca reflexo na economia. “Isso é interessante, também, porque acaba atraindo investidores e investimentos para o setor. Nesse setor, se consegue um retorno aproximado de 14% ao ano. Isso atraiu muitos investimentos”, acrescenta o especialista.

O Espírito Santo foi beneficiado, nesse sentido, pela liberação de investimentos estrangeiros em hospitais e planos de saúde, desde 2015. Destacam-se investimentos como os dos fundos de private equity americanos HIG Capital e Pátria Investimentos, na compra de hospitais e operadoras de saúde, além de ações do grupo capixaba Kora Saúde.
“Houve aproximadamente 150 operações de fusões ou aquisições, com movimentação de mais de R$ 20 bilhões. Isso não quer dizer que foi investimento direto em assistência. São aquisições, mas elas têm como objetivo o crescimento”, afirma Vilela. Hoje, de acordo com ele, o Espírito Santo tem aproximadamente 8 mil unidades de saúde, incluindo hospitais, unidades de saúde, consultórios e centros de diagnóstico por imagem. “Para se ter um ter ideia, nós temos mais ou menos uns 100 hospitais no Espírito Santo, entre pequeno porte e grande porte. Tudo isso movimenta muitas pessoas”, salienta.

A força da Saúde na economia do Espírito Santo
Recentemente, o Himaba, em Vila Velha, inaugurou 32 novos leitos pediátricos – Foto Rodrigo Araujo/Governo-ES

Mais empregos e massa salarial

A afirmação é comprovada pelo Relatório do Emprego na Cadeia Produtiva da Saúde do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). Um levantamento exclusivo do relatório para a revista ES Brasil aponta que, em maio de 2023, o número de pessoas empregadas na cadeia produtiva da saúde do Espírito Santo foi de 97.237, considerando setor público e privado e empregos diretos e indiretos. Esse montante resulta de crescimento de 0,9% no trimestre, em relação a fevereiro de 2023.O mercado de trabalho total no estado teve crescimento de 2,9% no período, totalizando 845.727 empregos formais.

Dos 97.237 empregados na cadeia da saúde capixaba em maio, 75.427 (78%) eram vínculos do setor privado com carteira assinada. Para o Brasil, essa proporção é de 79%. “O desempenho positivo foi puxado pelo setor privado capixaba que, em três meses, cresceu 1,9%, enquanto o setor público apresentou queda. O emprego no setor privado é constituído principalmente, com índice de 74%, por pessoas que trabalham na prestação da assistência à saúde, como hospitais, clínicas e laboratórios”, explica o superintendente-executivo do IESS, José Cechin.

Ainda segundo o IESS, o número de pessoas empregadas no setor de saúde em maio, no Espírito Santo, superou a média brasileira, com 2.537 empregados a cada 100 mil habitantes, enquanto a média nacional foi de 2.217. Houve crescimento de 3,2% em relação ao mesmo mês do ano passado no estado, enquanto no país a alta foi de 2,8%.
O levantamento do IESS aponta que o Espírito Santo também teve saldo positivo de empregos na cadeia de saúde, entre admitidos e desligados no mês, com 504 empregos. O setor privado teve saldo positivo de 599 vagas, mas no setor público de saúde o saldo foi negativo, de menos 95 vagas. Nesse mesmo mês, o saldo da economia capixaba foi de 13.593 vagas.

A força da Saúde na economia do Espírito Santo
O Hospital Antônio Bezerra de Faria, em Vila Velha, é referência em emergência em ortopedia geral – Foto: Divulgação/Sesa

Para o especialista em gestão de saúde Felipe Vilela, no entanto, o número de pessoas atuando no setor de saúde pode ser ainda maior, porque “muitos médicos trabalham de forma autônoma, como Pessoa Jurídica, são proprietários, e esses números acabam não sendo capturados”. Por isso, ele estima que em torno de 150 mil pessoas estejam envolvidas no atendimento à saúde, seja direta e indiretamente, ou como autônomos, no Espírito Santo.

Vilela cita dados mais conservadores, no entanto – da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego –, para estimar a massa salarial do setor. Com 61 mil pessoas registradas no segmento, o que abrange só vínculos de CLT, e um total de ocupação formal de cerca de 900 mil funcionários, são mais de 6,5% só do pessoal de saúde.

“A gente tem uma média de salários no Espírito Santo, pelo IBGE, de R$ 2,46 mil. Então, se a gente pega essa massa salarial mensal do setor de saúde no Espírito Santo, especificamente, a gente está movimentando R$ 150 milhões só de salário mensal. Se projetar o ciclo anual, acaba numa casa de R$ 1,8 bilhão, sem contar os demais benefícios, como décimo-terceiro, salário e férias”, pontua.

A força da Saúde na economia do Espírito Santo
“O setor pública representa 90% do total a ser investido”- Ricardo Freislebem, Diretor de Integração e Projetos Especiais do IJSN – Foto: Divulgação

Tecnologia e inteligência artificial

Mas nem só a mão de obra humana movimenta o setor da saúde capixaba. O segmento é dinâmico e traz muita inovação, também, com startups que nasceram especificamente para essa área. “Tem muitos projetos aí. A gente acaba falando de uso de inteligência artificial no atendimento, nas consultas, nos procedimentos, diagnósticos, nessa parte genética, no tratamento de doenças. A Covid quebrou alguns paradigmas e a própria telemedicina deu um salto muito grande. Mais de 40% das consultas já são remotas nesse período, e se começa a fazer um prontuário único, armazenado em nuvem”, observa Felipe Vilela.

A gestão médica também avançou, com hospitais e consultórios informatizados e a tecnologia chegando na ponta, na mão das pessoas, via celular. “A gente chama de tecnologia especializada em saúde mental. Existem diversos aplicativos de bem-estar e isso é bem interessante”, acrescenta o doutorando da Fucape.

Renda e qualidade de vida

Outro indicador da saúde na economia capixaba são os gastos com planos de saúde na capital do estado. Segundo o IESS, dentre todas as capitais do País, Vitória apresenta a maior taxa de cobertura (61%) de beneficiários com planos de saúde, superando muito a média nacional (23%), segundo a Análise Especial da Nota de Acompanhamento de Beneficiários (NAB) nº 81 do IESS, divulgada em maio deste ano (veja matéria nesta edição).

A força da Saúde na economia do Espírito Santo
Hospital Unimed Sul Capixaba – Foto: Divulgação

Para o superintendente-executivo do IESS, “de certa forma, se a economia e a geração de empregos formais crescem, há tendência de aumento de beneficiários em planos, tanto no âmbito coletivo empresarial, quanto na contratação direta por meio dos planos individuais ou coletivos por adesão, e o mesmo ocorre se o direcionamento for no sentido oposto”. José Cechin destaca que, em Vitória, há uma concentração de pessoas com alta renda e poder aquisitivo, o que torna a contratação de planos de saúde mais acessível.

A cidade também apresenta elevado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de 0,8452 (considerado muito alto), sendo a quarta cidade e a segunda capital brasileira com melhores números, o que “indica melhoria na qualidade de vida da população e pode ter influenciado no aumento de beneficiários”. Ele explica que, em Vitória, cerca de 60% do total de beneficiários, em maio, estava em planos coletivos empresariais, ofertados como benefícios aos colaboradores. Assim, para o futuro, a tendência quanto ao número de beneficiários vai depender dos empregos formais.

Investimentos ampliam o horizonte

A depender dos projetos de investimentos anunciados para o estado entre 2021 e 2026, o setor de saúde deve ajudar nessa geração de empregos formais. Considerando os investimentos de mais de R$ 1 milhão anunciados para o período, o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) calcula uma carteira de R$ 50 bilhões no total, dos quais R$ 1,03 bilhão, ou 2,1% do total, serão para 75 projetos do setor de saúde humana e serviços sociais.

A força da Saúde na economia do Espírito Santo
“O desempenho positivo foi puxado pelo setor privado capixaba, enquanto o setor público apresentou queda”- José Cechin, economista – Foto: Assessoria

“Esses investimentos contemplam a construção de hospitais, reformas de hospitais, reformas e construção de equipamentos de saúde, além de unidades de saúde, unidades de pronto atendimento, equipamentos públicos e privados de saúde. O grande ator nesses investimentos é o setor público, que representa 90% desse total a ser investido”, diz o diretor de Integração e Projetos Especiais do IJSN, Antonio Ricardo Freislebem da Rocha.
Ele salienta que os investimentos estão distribuídos em todas as microrregiões, contemplando quase todos os municípios capixabas. “Isso é importante, uma vez que você leva uma capilaridade maior do serviço de saúde para todo o território, principalmente no interior do estado”, frisa Rocha.

Como exemplos, o diretor do IJSN cita grandes obras em Cachoeiro de Itapemirim e São Mateus, entre outros municípios, que vão receber reformas, ampliações e construções de hospitais, além de reformas e construção de Unidades de Pronto Atendimento (UPAS) e Unidades Básicas de Saúde (UBS).

“Investindo nisso, desafogam-se os hospitais que são referência nesses grandes municípios. Desafogando esses hospitais, também se reduz o tráfego, a necessidade do cidadão lá do município do interior vir até a Região Metropolitana para ser atendido, uma vez que aquele hospital lá tem uma folga maior para atender o cidadão da sua microrregião”, comenta.

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