Esta nova etapa da Lava Jato também faz buscas no grupo Friboi.
A Polícia Federal (PF) prendeu nesta sexta-feira (1), em nova fase da Operação Lava Jato, o empresário Lúcio Bolonha Funaro, amigo do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ). Funaro é suspeito de achacar grandes empresas em parceria do parlamentar.
Além da prisão de Funaro, a ação desta sexta-feira inclui mandado de busca e apreensão na Eldorado, braço de celulose da J&F Investimentos, dono da JBS e comandado pela família Batista. A casa de Joesley Batista, presidente do Conselho de Administração da JBS e diretor-presidente da J&F, também foi alvo de buscas. E a PF fez ainda busca e apreensão do lobista Milton Lira, em Brasilia. Os mandados desta etapa da operação foram autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, relator da Lava Jato na Corte.
Ao todo foram cumpridos 19 mandados de busca e apreensão e 1 de prisão preventiva. No estado de São Paulo, além da prisão, foram 12 buscas e apreensões. No DF, foram 2 buscas e apreensões, assim como no Rio de Janeiro. No Recife, foram 3 mandados de busca e apreensão. A ação da PF, que nesta nova etapa da Lava Jato também faz buscas no grupo Friboi, tem origem em duas delações premiadas: a do ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal, Fábio Cleto, e a do ex-diretor de Relações Institucionais do Grupo Hypermarcas Nelson Mello.
Os depoimentos apontam o suposto repasse de propinas milionárias para senadores do PMDB, entre eles o presidente do Congresso, Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR) e Eduardo Braga (AM). Às autoridades, Cleto (foto abaixo) relatou que o presidente afastado da Câmara recebeu propina por negócios feitos pelo Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS). Nelson Mello afirmou aos procuradores que pagou R$ 30 milhões a dois lobistas com trânsito no Congresso para efetuar os repasses. Lúcio Bolonha Funaro e Milton Lyra seriam os responsáveis por distribuir o dinheiro aos senadores.
Na Lava Jato, Funaro já foi apontado como operador de Cunha e responsável por viabilizar o escoamento de propina das empreiteiras para as contas do deputado fora do País. Os investigadores chegaram a mapear dois carros, um Hyundai Tucson e uma Land Rover Freelander, em nome da empresa C3 Produções, da esposa de Cunha, mas que foram pagos por empresas ligadas à Funaro.
Nelson Mello trabalhou por mais de 20 anos no Hypermarcas, grupo do qual se desligou depois de fechar a delação. Ele afirmou que “ressarciu” o grupo daquele montante que disse ter repassado aos lobistas. Segundo ele, a empresa Hypermarcas “não auferiu nenhuma vantagem e nem sofreu prejuízos porque foi reembolsada”. Também na Lava Jato, os irmãos Miltom e Salim Schain, do grupo Schain, contaram aos investigadores que foram ameaçados por Funaro por causa de problemas em obra de interesse dele e de Cunha.
E na apuração do cartel da Petrobrás, Milton Lyra (foto abaixo) foi apontado como operador de Renan Calheiros e seu nome apareceu em uma anotação apreendida no gabinete do senador cassado Delcídio do Amaral (sem partido-MS). No documento, ele está relacionado a um suposto pagamento de R$45 milhões em propina para o PMDB. Em outra frente da Lava Jato, que apura desvios nos fundos de pensão, Lyra é investigado por aparecer como operador de duas empresas que captaram R$ 570 milhões do Postalis, o fundo de pensão dos Correios.
Renan e Jucá também são investigados na Operação Zelotes, deflagrada inicialmente pela Polícia Federal em março de 2015 para investigar um esquema de corrupção no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (CARF) – órgão colegiado do Ministério da Fazenda, responsável por julgar os recursos administrativos de autuações contra empresas e pessoas físicas por sonegação fiscal e previdenciária. A investigação da Zelotes se desdobrou para a apuração de compra de medidas provisórias no Congresso. Os senadores peemedebistas são suspeitos de terem recebido propina para aprovar MPs de interesse de empresas do setor automobilístico.
Eduardo Braga, ex-ministro das Minas e Energia de Dilma Rousseff e atual senador pelo Amazonas, foi citado em delação premiada de ex-executivos ligados à construtora Andrade Gutierrez como destinatário de propina em obras no Amazonas e em licitações relacionadas à Copa do Mundo, realizada no Brasil em 2014.
Todos os parlamentares citados negam qualquer envolvimento em irregularidades.