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quarta-feira, 1 maio, 2024

Gestão: Tirar ou não tirar férias? Eis a questão

Gestão: Tirar ou não tirar férias? Eis a questão

Divididos entre a possibilidade de descanso e as dúvidas sobre o desempenho da organização durante sua ausência, executivos revelam dificuldades para programar suas férias. O problema é que a prática, confortável à primeira vista, pode acarretar em prejuízos para o corpo e a mente do profissional

 

*por Thiago Lourenço

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Mesmo entrando no mercado de trabalho cedo, aos 17 anos de idade, Darcy Lannes Cometi, hoje com 35 anos, só conseguiu tirar 30 dias deférias uma única vez, em 1996. Desde 2011, ele é gerente do Centro de Apoio aos Sindicatos (CAS) da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), mas o tempo máximo de descanso que conseguiu conciliar foi de 20 dias, no período das festas de fim de ano.

“É preferível aproveitar os feriados do Natal e Ano Novo para emendar as férias porque é uma época em que as demandas diminuem. Mesmo assim, com tantas novas tecnologias, não consigo me desconectar e acabo envolvido nas demandas profissionais. Você tira férias do trabalho, mas não do celular”, conta o gestor.

A experiência de Darcy é parecida com a de mil executivos que foram entrevistados por uma pesquisa realizada em 2008 pela professora Betania Tanure para a Fundação Dom Cabral (FDC), de Belo Horizonte (MG). O estudo detectou que 30% das pessoas que ocupam cargos de gestão estão sem férias há três anos ou mais. Entre os que pararam para descansar, 50% conseguiram, em média, apenas dez dias por ano.
O mesmo resultado foi obtido por pesquisadores norte-americanos da Hudson North America, multinacional do ramo de recrutamento, que ao entrevistarem 2 mil executivos constataram que 24% deles não tiram férias desde 2006.

O diretor do Conselho Regional de Administração (CRA-ES) e especialista em Desenvolvimento de Pessoas, Ronald Carvalho, aponta que a necessidade de férias é universal, independente da função. “Redução da produtividade, erros em processos decisórios, queda na criatividade e liderança, são alguns dos efeitos negativos para a gestão das empresas em decorrência da falta de descanso das pessoas que ocupam cargos de gestão”, revela.
A psicóloga Roberta Oliveira, uma das proprietárias da Oliver Marketing & RH, faz um alerta para as consequências negativas causadas pelo excesso de trabalho, como o estresse e a estafa. “A associação entre esses dois fatores pode acarretar em uma série de doenças como gastrite, asma, depressão, pressão arterial alta, herpes e gripes frequentes. Visitar o médico é necessário para ter certeza do diagnóstico e identificar a origem do problema”, analisa.

Geralmente, a pessoa acometida por estresse ou estafa possui dificuldade de perceber sua situação. Isso só acontece quando surge alguma doença associada a estes problemas. Porém, ganho ou perda de peso, queda de cabelos, má digestão, insônia, sono agitado, irritabilidade, falhas de memória, baixa imunidade e dores de cabeça e musculares, são alguns dos sintomas apontados por Roberta como indicadores de que algo está fora do normal. “No caso de dúvida, é recomendável fazer uma visita ao médico ou psicólogo”, aconselha.

Quem não consegue conciliar a rotina de trabalho com a consulta médica deve aproveitar o período de férias para cuidar da saúde. “Estou há quase dois anos sem fazer um checkup geral. Tiro férias para descansar e acabo nem indo ao médico”, desabafa Darcy.

Os cuidados com a saúde devem ser rotineiros, segundo Roberta Oliveira. Ela afirma que o ideal é não ultrapassar as oito horas diárias de uma jornada de trabalho normal, uma vez que estudos sugerem que trabalhar mais que 11 horas por dia aumenta os riscos de doenças cardíacas em até 67%.

Descanso X Desempenho
Em muitos casos, a escolha de não ter férias parte do próprio profissional, uma vez que seu desempenho está diretamente relacionado aos resultados das empresas. “Nos primeiros dias você até consegue relaxar, mas acaba ficando angustiado por informações, com vontade de voltar à rotina. É uma escolha pessoal, mesmo sabendo que ninguém é substituível”, afirma Darcy Lannes Cometi.

Já para o casal André Goltara (29) e Emannuelly Segatto (26), sócios da empresa Stanza Tecnologica, tirar férias significa também diminuir receitas. “Temos um número reduzido de funcionários e estamos sempre à disposição dos clientes. Esse contato mais próximo torna o nosso produto diferenciado, mas acaba exigindo maior comprometimento. Como pagamos nosso próprio salário, 30 dias de descanso impactaria muito no nosso faturamento”, revela Emannuelly.

Nos últimos três anos, Emannuelly e o marido André tiraram férias apenas duas vezes, de no máximo dez dias. Enquanto ele se dedica integralmente à empresa, ela ainda precisa conciliar o gerenciamento da Stanza com o curso de administração na Estácio de Sá e um emprego como bancária. Em 2012, tiveram que ‘emendar’ a sexta anterior ao carnaval, após o expediente, totalizando um período de dez dias. “Para conseguir definir um descanso é preciso conciliar diversos fatores, como a época de menos procura pelos nossos serviços e às férias no banco e na faculdade. Este ano, conseguimos tirar uma semana em janeiro para viajar”, lembra.

O tempo é um fator primordial para quem deseja se desligar completamente dos assuntos profissionais e descansar. “O corpo necessita de pelo menos uma semana para se habituar a uma nova realidade. Então é bom aproveitar esses dias para colocar as ideias em ordem e se reprogramar, pois as energias só estarão voltadas para o descanso após esse período”, destaca a psicóloga Roberta Oliveira.

A presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Espírito Santo (ABRH-ES), Danielle Quintanilha Merhi, chama atenção da necessidade de descanso e o distanciamento da rotina de trabalho para o aumento da produtividade, o chamado “ócio criativo”. “É necessário respirar outros ares, ter um olhar diferenciado sobre aquilo que se produz e isso é facilitado quando há uma possibilidade de afastamento. Muitas vezes, é na ausência que aparecem soluções diferenciadas e criativas. É difícil esperar que algo novo surja a partir de uma rotina turbulenta, estresse excessivo e cobranças constantes”, diz.

Para a professora de Gestão de Pessoas da FDC, Clara Linhares, o gestor precisa ter consciência da sua disponibilidade para férias. “Estamos passando por grandes oscilações econômicas e a decisão de algum mecanismo ou processo pode ser solicitada a qualquer tempo. Mesmo tendo uma equipe responsável, o executivo precisa estar próximo para tomar uma decisão junto à equipe”, analisa.

Segundo Clara, a dificuldade em gerenciar o capital humano pode ser um dos fatores que explicam a incapacidade de delegar obrigações. “Alguns desses profissionais não o fazem por medo de perderem o cargo ou de as empresas perceberem que eles não são mais necessários”. O consultor Ronald Carvalho é mais categórico. “Executivo que não forma um substituto não merece nota dez numa avaliação. Ser falsamente insubstituível é sinal de mau desempenho”.

Planejamento evita prejuízo
A família é quem mais sofre com a falta de férias dos gestores. A especialista em Gestão de Pessoas, Clara Linhares, revela que é cada vez mais frequente o número de executivos que levam seus respectivos companheiros em viagens de negócios. Também há casos em que a família viaja sozinha e o gestor aparece ao final da viagem para acompanha-los por algum tempo. “Normalmente é necessário um planejamento de seis meses a um ano para tirar férias superiores a dez dias. Caso surja algum imprevisto que impacte economicamente a empresa, é comum refazer o plano e adiar o descanso”. Por isso, quem quer tirar férias por um período igual ou superior a 15 dias, pode seguir essas três dicas dadas por Clara:

1) Planeje quem vai ocupar a sua função. Capacite esse profissional, dando respostas e compartilhando suas obrigações diárias;
2) Tente antecipar todos os processos decisórios para antes de suas férias;
3) Deixe seus colaboradores informados de que você está disponível para ser acionado, caso algo saia de controle. Assim, será possível retornar à empresa ou dar seu parecer à distância para que sejam tomadas as providências necessárias. #

 

TESTE: Você realmente aproveitou suas últimas férias?

1. Você programou suas férias com antecedência?
a) Sim
b) Não

2. Você delegou atividades à equipe antes das férias?
a) Sim
b) Não

3. Você se manteve em plena comunicação com a diretoria/presidência da empresa sobre a sua saída?
a) Sim
b) Não

4. Você se sentiu descansado fisicamente ao retornar de férias?
a) Sim
b) Não

5. Você se sentiu emocionalmente melhor ao retornar de férias?
a) Sim
b) Não

6. Você retornou ao trabalho de forma mais produtiva e com ideias inovadoras?
a) Sim
b) Não

7. Você aproveitou o tempo com a família?
a) Sim
b) Não

8. Você conseguiu reduzir a utilização da internet, celular e/ou outros equipamentos eletrônicos para se comunicar com a empresa?
a) Sim
b) Não

9. Você conseguiu se desligar de projetos em andamento?
a) Sim
b) Não

10. Você sentiu seguro e sem medo de decisões importantes serem tomadas durante a sua ausência?
a) Sim
b) Não

11. Você conseguiu executar algum projeto planejado para as férias?
a) Sim
b) Não

12. Você foi considerado uma boa companhia durante as férias?
a) Sim
b) Não

13. Você conseguiu aproveitar ao máximo os seus dias de férias?
a) Sim
b) Não

14. Você conseguiu dedicar um tempo só para você?
a) Sim
b) Não

15. Você se sentiu de bom-humor e otimista?
a) Sim
b) Não

16. Você viajou durante as férias?
a) Sim
b) Não

Some a quantidade de respostas “Sim”.

Acima de 13 – Você realmente aproveitou suas férias! Conseguiu dedicar tempo para si e sua família, além de ter deixado a empresa no local correto, não a ‘carregando’ com você. Planejamento e delegação são suas características marcantes. Continue assim para obter sucesso nas próximas férias.

De 10 a 13 – Você precisa fazer um resgate das suas últimas férias para saber o que pode sair melhor da próxima vez. Procure se reunir com a equipe de trabalho para alinhar as informações antes de sua saída. Lembre-se de desligar o celular e o notebook e relaxe para que possa voltar com força total.

Abaixo de 13 – Você precisa rever a sua rotina diária. Trace metas e objetivos. Sente com a família e planeje as suas férias. Se você não consegue se desligar do trabalho, comece com ausências menores, mas que sejam bem proveitosas a você e a empresa.

*Teste elaborado pela administradora e assessora de Eventos e Treinamentos do Instituto de Administração do Espírito Santo (IAES), Marcela Rocha Haase Uhlig.

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