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quinta-feira, 5 DE dezembro DE 2024

Especialista avalia mercado financeiro em tempo de pandemia

Segundo Paulo Henrique Correa, tecnologia e aproximação com o cliente fazem a diferença durante a crise econômica causada pelo novo coronavírus no país e no mundo

Por Aline Pagotto

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, setores da economia vêm sofrendo impactos e o mercado financeiro dá sinais de retração. O grau de incertezas é muito alto, por isso os investidores correm para mercados mais atrativos e as bolsas de valores passam por oscilações.

A última vez que a bolsa de valores brasileira alcançou dois circuit break, que é a paralisação dos negócios na B3 quando seu o principal índice cai mais do que certo limite, foi em 2008. O país vinha fazendo uma organização das contas, captando muitos investidores, entretanto, com a chegada do vírus, os resultados fizeram as empresas postergarem decisões de investimentos.

Nesse período, a Valor Investimentos, com sede na Praia do Canto, em Vitória, pensou além e aproximou os clientes lançando mão da tecnologia e prestando um serviço ainda mais eficaz, levando conteúdo relevante e deixando-os seguros neste momento difícil que o país enfrenta.

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ES Brasil conversou com o sócio-fundador e presidente da empresa, Paulo Henrique Correa, que explicou um pouco como o mercado financeiro brasileiro reagindo à pandemia e como poderá se recuperar em médio e longo prazo. Confira!

Paulo Henrique Correa
O sócio-fundador e presidente da Valor Investimentos, Paulo Henrique Correa. – Foto: Divulgação

Além do coronavírus, o Brasil convive também com incertezas políticas. Como isso afeta a economia e o mercado financeiro?

Realmente a instabilidade política gera incertezas. Porque antes do novo coronavírus, bem ou mal, a equipe econômica vinha fazendo um bom trabalho no que tange o equilíbrio das contas e fiscal. Toda essa incerteza política surge por parte dos investidores e dos agentes econômicos, que é uma incerteza da manutenção desses pilares de política econômica. Vimos algumas “quedas” de ministros e da forma como o próprio presidente Jair Bolsonaro se relaciona com os outros poderes. Sabemos que essa agenda de reformas é muito importante para que o país consiga colocar suas contas nos “trilhos”. Lógico, tivemos o evento do vírus e sabemos que o governo federal precisou relaxar um pouco as medidas fiscais para dar um socorro às pessoas, empresas e as pessoas vulneráveis, principalmente. Com certeza, neste ano o governo terá um déficit muito maior, mas é necessário que num período pós-pandemia a equipe econômica continue sinalizando nessa questão de austeridade fiscal para que mostre aos investidores que o país está comprometido em resolver as pendências. Com tudo isso, até já se questionou a seriedade do ministro da Economia, Paulo Guedes, que tem uma equipe que está fazendo um bom trabalho. Esse cenário gera incertezas e os investidores ficam preocupados em relação à governabilidade dessa questão do Congresso Nacional, pois elas precisam ser aprovadas primeiro por lá. E essas incertezas é o que geram volatilidades no mercado.

Como avalia as políticas econômica e fiscal adotadas no Brasil para enfrentar o atual momento?

O mundo inteiro passou a adotar políticas monetárias mais expansivas. Foi injetado muito dinheiro na economia para tentar salvar o consumo das famílias, das empresas, das pessoas mais vulneráveis, inclusive. Acho que o país atuou na direção correta. É claro que a munição que os países mais desenvolvidos têm é muito maior que a do Brasil, pelo tamanho do Estado e das contas mais apertadas. Os Estados Unidos, por exemplo, injetaram trilhões de dólares na economia porque tinha muita reserva. Já aqui não temos tanta. Mas foi na direção certa, pois nesse momento todos os Bancos Centrais e as equipes econômicas foram nessa direção. De fato, é necessário socorrer o paciente e mantê-lo vivo (país). Então, acredito que foi, sim, na direção correta.

A bolsa brasileira vinha batendo recordes nos meses anteriores à crise, mas não atraia o investidor estrangeiro. A bolsa tem fôlego para se recuperar somente com recursos do investidor brasileiro?

Ano passado surgiu uma análise um pouco “torta”. Realmente, os investidores sacaram valores expressivos, mas vimos bastante recurso entrando para investimento direto, inclusive para algumas aberturas de capitais. Aquele dinheiro de saque de investidores da Bovespa, muitas vezes, acabava retornando por meio de emissões de novas ações, de abertura de capitais das empresas.  Até antes da Covid-19 acabou “surfando” essa onda, pois tinha muitos recursos que vinham para aplicação e juros que tínhamos de renda fixa, e com o Brasil reduzindo a taxa teve uma saída de capital nesse sentido porque os juros aqui não estavam tão interessantes mais. Isso acabou pressionando um pouco o câmbio, com isso tivemos o real mais desvalorizado nesse devido essa saída. E o que aconteceu depois do surgimento da doença é que os investidores do mundo inteiro acabaram buscando ativos mais seguros. Naquele momento de incerteza e volatilidade, eles acabaram levando para economias mais “maduras”, como os Estados Unidos, que foram os mais beneficiados. Isso acabou gerando um fortalecimento do dólar perante outras economias mundiais. Os investidores entendem que o dólar é um porto seguro, um ativo que pode ser guardado como reserva de valor. Com isso, tivemos uma saída maior de dólares após a crise da Covid-19 e tivemos muitas quedas das bolsas justamente por causa dos estrangeiros que começaram a zerar suas posições no mercado daqui e levando esses recursos de volta ao país norte-americano.

bolsa de valores
A B3, bolsa de valores brasileira, sofreu dois circuit break em 2008. – Foto: Reprodução

Apesar dos problemas econômicos potencializados pela pandemia, a Valor Investimentos registrou um crescimento na carteira de clientes. A que atribui esse crescimento?

O nosso negócio foi pouco afetado pela crise. Mobilizamos a empresa rapidamente, colocando as pessoas em casa, com segurança. Lógico, que tem pouquíssimas pessoas trabalhando no escritório, mas conseguimos resolver essas questões. Está acontecendo um movimento muito interessante, principalmente dos investidores dada essa baixa do mercado de bolsas, das ações, buscando investimentos porque realmente tem umas ações que estão com preços atrativos. Outro movimento que tem acontecido é que a renda fixa já não paga mais o que pagava de rentabilidade anteriormente. Temos investidores buscando alternativas, querendo entender os ativos de maior risco, como ações, fundos imobiliários, fundos multimercados, até mesmo investimentos no exterior. E acabamos sendo reconhecidos como uma casa de multiprodutos, uma plataforma aberta, com produtos de diferentes classes de ativos. Isso acaba atraindo interesse de muitos investidores e novos clientes. A aproximação dos clientes nesse período de crise fez com que crescêssemos bastante. Os bancos, que são nossos principais concorrentes, até conseguirem colocar seus funcionários trabalhando em casa, mas levou um tempo para isso ocorrer. Nós fomos muito proativos em estar com os clientes no meio da “confusão”, de dar informações, fazendo evento on-line, com os maiores especialistas econômicos para falar com o nosso público. Nesse momento, as pessoas acabam tendo confiança e entendendo mais e estando mais próximas de nós. Acredito que o assessor de investimentos estando mais próximo do cliente cria uma relação mais forte, levando a migrar recursos, principalmente para os nossos negócios. Isso foi muito positivo para nós.

Qual a grande mudança que o isolamento social está trazendo para as empresas do setor financeiro?

Elas estão se reinventando e investindo em tecnologia. Isso porque todos os nossos sistemas estão na nuvem, telefonia também. Está nos ajudando muito durante a pandemia. Poucas empresas estão conseguindo acompanhar o desenvolvimento. Acredito que os bancos, por exemplo, se preocuparam muito com as agências, em como atender aos clientes, e demoraram um pouco a se adaptar ao novo modelo, a colocar os funcionários para trabalhar em home office, entre outras coisas.

Anteriormente, falamos sobre a taxa de juros. Acredita que elas ficarão mais altas ou mais baixas nos próximos meses?

Acreditamos que o Banco Central ainda vai manter os juros baixos por muito tempo. Atualmente, a taxa Selic se encontra em 2,25% ao ano. É uma forma que o governo tem de estimular a economia, fazendo com que crédito fique mais atrativo, deixando-o mais barato, tanto para empresas investirem, gerarem mais emprego e renda quanto para os consumidores.

Acredita que esse é um bom momento para o brasileiro investir no Tesouro Direto?

Tem algumas categorias boas para investir e o Tesouro IPCA é uma delas. Como reserva de emergência classifico como uma boa opção. Mas sabemos que os juros continuarão baixos, seguindo a Selic. Vai ser mais como reserva de valor mesmo, aumentando o poder de compra. Acho que é uma boa opção, sim, pensando em médio e longo prazo. Nesse momento de incertezas pode ser surpreendente. Se o país melhora, a taxa de juros tende a cair e olhando por esse aspecto já se encontra uma taxa de juros um pouco melhor. Mas eu acho que tem outros produtos que são interessantes também, como fundos de mercado, fundos imobiliários, quem tem dinheiro para investir em médio e longo prazo ainda pode investir em ações, que estão bem baratas, entre outras possibilidades.

Podemos dizer que a crise será longa ou há uma demanda reprimida que vai fazer girar a economia quando houver uma vacina ou medicamento eficaz?

Acho que tem umas pessoas até mais pessimistas do que eu estou. Acho que não vai ter uma recuperação de uma hora para a outra. Tem alguns setores que podem reagir mais rápido e uns podem levar mais tempo para se recuperar, como é o caso do turismo e eventos. Esses sofrerão bem mais que o varejo, setores um pouco mais resilientes. Também não acho que vai ser o fim do mundo não. Tem gente que diz que vai demorar muito, cerca de anos, mas pode aparecer uma vacina e a surpresa ser bem mais positiva do que alguns “profetas do apocalipse” tem projetado por aí.

Qual está sendo a grande lição dessa crise?

Falando da parte econômica, passamos a ver o quão importante é o país ter uma economia forte, com as contas públicas equilibradas. Porque, certamente, se tivéssemos feito esse “dever de casa” que vinha sendo feito antes do novo coronavírus, com certeza, estaríamos bem melhor do que estamos hoje. Percebemos que todo esse esforço por reformas e equilíbrio fiscal precisa ser feito daqui pra frente para quando vier outra pandemia ou qualquer situação estejamos preparados e mais fortes. Olhando do ponto de vista empresarial, acho que estamos aprendendo e nos reinventando. O ser humano é naturalmente adaptável e criativo. Progredimos muito, principalmente nessa parte tecnológica, com essa questão de fazer reuniões virtuais, usando aplicativos, e tudo mais, tivemos uma aceleração de 10 a 15 anos em poucos meses.

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