Foram duplicados pela Ecovias até o momento cerca de 115,92 quilômetros da BR-101, e insegurança com acidentes de colisão frontal causam indignação
Amanda Amaral
São muitos os exemplos de acidentes com vítimas na BR-101, que passa por duplicação, mas que ainda não está nem na metade da intervenção prevista. No final de abril, um caminhão carregando mamão tombou na pista, na altura de Anchieta, e colidiu com um ônibus. Três pessoas morreram e 26 ficaram feridas.
Mas será que, com a conclusão da duplicação da via, a situação seria diferente? O Instituto Jones Santos Neves (IJSN), por meio de uma imagem produzida com Inteligência Artificial (IA), mostrou que as muretas de contenção podem evitar colisões frontais.
“A BR-101 já deveria ter boa parte de sua extensão duplicada, conforme assinado no contrato de concessão lá traz. Não foram respeitadas estas metas do contrato. Infelizmente, este atraso e demora na duplicação está custando vidas”, disse o diretor-presidente do IJSN, Pablo Lira.
Na opinião dele, a duplicação é o que torna a rodovia, que neste caso possui fluxo nacional de mercadorias e passageiros, mais segura, evitando a pior colisão que existe, a colisão frontal entre veículos. “Com a AI simulamos o que aconteceria se houvesse a duplicação com a mureta central. O objetivo é conscientizar a população e pressionar o Governo Federal e a concessionária sobre a importância da duplicação”, disse.


O acidente com o caminhão de mamão, em Anchieta, aconteceu em uma parte da via que ainda não recebeu intervenções para sua duplicação. Para a inspetora da Polícia Rodoviária Federal, Ana Carolina Albuquerque Cavalcanti, a maioria dos acidentes é causado por falha humana (ultrapassagem indevida, uso do celular ao volante, sonolência, excesso de velocidade, etc).
“Estamos fazendo uma pesquisa onde já existe duplicação e não deixaram de ocorrer acidentes”, pontua. Contudo, ela destaca que com a pista dupla, os carros não invadem a contramão para ultrapassar. “Na extensão duplicada existe a barreira que dificulta a colisão frontal, é muito mais difícil dela acontecer”, afirma.
Trecho Norte da BR-101

Na Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), os deputados estaduais teceram críticas à Ecovias em solidariedade às famílias do acidente em Anchieta. Mazinho dos Anjos (PSDB), na ocasião, alertou que o trecho norte da rodovia no Espírito Santo é carente de duplicação e a crítica foi endossada pelo deputado Alexandre Xambinho (Podemos).
“Sempre falei no Plenário da Assembleia que não é Eco101, mas ‘Eco171’. Já era para ter duplicado pelo menos metade de todo o trecho da BR no estado e evitar acidentes como esse que ocorreu. (…) Tem a perspectiva de um novo leilão da BR-101 e a Eco101 bem provável vai ganhar esse leilão mais uma vez, mas agora temos que cobrar mais assiduamente que ela cumpra esse contrato e execute as obras de duplicação em todo o Espírito Santo, não só no trecho sul, mas principalmente no trecho norte, que a gente não vê um quilômetro de rodovia duplicada”, sustentou.
Edital de concessão

Foi aberto processo competitivo para definir a concessão da BR-101, hoje sob gestão da Ecovias – controlada pelo Grupo EcoRodovias. O certame está previsto para 26 de junho, em São Paulo. O modelo de transferência é inédito no país para rodovias federais e visa a retomada das obras de duplicação na via.
Segundo a Ecovias, que participará do certame mesmo após ter solicitado entrega do contrato alegando dificuldades financeiras com a via, com o processo de otimização contratual em andamento, novas frentes de trabalho estão sendo planejadas. “O novo contrato de concessão possibilitará a realização de novas obras, com investimentos previstos de R$ 7 bilhões em 24 anos”, informou a concessionária.
Trechos em duplicação na BR-101

Dos 478,7 quilômetros do trecho da BR-101 que a Ecovias administra e prometeu duplicar em 2013, a ação ocorreu em apenas 115,92 quilômetros. De acordo com a concessionária, há obras de duplicação entre os municípios de Guarapari e Anchieta. Nesse segmento, que compreende 22 quilômetros, 21 já foram liberados.
Atualmente, há um ponto de desvio no km 247 para execução da ponte sobre o Rio Grande. Nesse trecho, segundo a Ecovias, foram liberados ao tráfego em fevereiro um trecho de seis quilômetros, incluindo a duplicação das pistas, ponte sobre o Rio Benevente e um dispositivo de retorno em desnível na região de Jabaquara.
No trecho Norte da rodovia, que abrange uma extensão inicialmente concentrada na Serra, os quilômetros 242 e 247, próximo ao Contorno de Mestre Álvaro até as proximidades da Praça de Pedágio, devem ser concluídos no segundo semestre de 2025.
Confira os trechos que já foram duplicados pela Ecovias na BR-101:
Do Km 205,28 ao 208,17
Do Km 215,99 ao 220,37
Do Km 257,40 ao 308,20
Do Km 308,20 ao 347,70
Do Km 348,3 ao 357,650
Do Km 363,10 ao 365,30
Contorno de Iconha – total de 6,8 km
Total duplicado: 115,92 km
Fonte: Ecovias.