{"id":97,"date":"2010-05-13T12:55:33","date_gmt":"2010-05-13T15:55:33","guid":{"rendered":"https:\/\/esbrasil.com.br\/?p=97"},"modified":"2010-05-13T12:55:33","modified_gmt":"2010-05-13T15:55:33","slug":"e-se-fosse-aqui","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/esbrasil.com.br\/e-se-fosse-aqui\/","title":{"rendered":"E se fosse aqui?"},"content":{"rendered":"

\"\"Trag\u00e9dias como as do Morro do Bumba, ocorrida no Rio de Janeiro no in\u00edcio do m\u00eas, chocam a sociedade, enchem as telas das m\u00eddias eletr\u00f4nicas e provocam ao mesmo tempo solidariedade e indigna\u00e7\u00e3o. Mas continuam a ocorrer, periodicamente, em v\u00e1rios lugares do Brasil. Poderia ter sido aqui. E se fosse? <\/p>\n

Se Deus \u00e9 brasileiro, provavelmente nasceu no Esp\u00edrito Santo. Pelo menos, o Estado tem sido relativamente poupado das chuvas catastr\u00f3ficas que v\u00eam atingindo sucessivamente o Sul, Sudeste, Nordeste e Norte do Brasil neste ano de 2010.<\/p>\n

Em janeiro e fevereiro, S\u00e3o Paulo enfrentou mais de 45 dias consecutivos de chuvas, com alagamentos, graves preju\u00edzos e 68 mortes. Apenas na capital paulista, o primeiro m\u00eas do ano registrou a maior marca em volume de chuvas para janeiro desde 1947, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Nos quatro primeiros dias de fevereiro, choveu 60% da m\u00e9dia hist\u00f3rica para o m\u00eas. No Rio de Janeiro, o ano come\u00e7ou marcado pela trag\u00e9dia na paradis\u00edaca Angra dos Reis, onde dezenas de mortos em deslizamentos obrigaram o munic\u00edpio a decretar estado de emerg\u00eancia.<\/p>\n

J\u00e1 as \u00e1guas de mar\u00e7o atingiram em cheio o Paran\u00e1, provocando alagamentos e a destrui\u00e7\u00e3o de uma rodovia. Em Santa Catarina, 15 munic\u00edpios foram afetados, casas foram interditadas e fam\u00edlias removidas em fun\u00e7\u00e3o dos riscos de escorregamentos de terra. Em uma \u00fanica semana, dez deslizamentos atingiram a cidade de Joinvile. Ao todo, 1,4 mil pessoas ficaram desabrigadas e desalojadas.<\/p>\n

Em abril, o Rio de Janeiro foi novamente afetado. Atingida por um aguaceiro torrencial de 300 mil\u00edmetros de chuva em uma \u00fanica noite, a regi\u00e3o metropolitana carioca viveu dias de caos e presenciou um rastro chocante de destrui\u00e7\u00e3o, com cerca de 250 mortes. Em seguida, a chuva at\u00edpica se deslocou para a Bahia, causando mais preju\u00edzos e fatalidades, e, at\u00e9 o fechamento desta edi\u00e7\u00e3o, afligia Sergipe e Pernambuco, no Nordeste, al\u00e9m do Par\u00e1, no Norte, onde muitos munic\u00edpios estavam alagados.<\/p>\n

Para o leigo, essa migra\u00e7\u00e3o da chuva Brasil acima assusta. A impress\u00e3o \u00e9 de que o Esp\u00edrito Santo pode ser a pr\u00f3xima bola da vez. Na an\u00e1lise fria e matem\u00e1tica da meteorologia, evento semelhante ao que ocorreu na capital fluminense e adjac\u00eancias poderia muito bem ter acontecido tamb\u00e9m em terras capixabas, j\u00e1 que o Estado se situa na mesma regi\u00e3o de influ\u00eancia do que os especialistas denominam centro de alta press\u00e3o (ver box). Esse fen\u00f4meno provoca chuvas, normalmente mais intensas no ver\u00e3o.<\/p>\n

“E por que est\u00e1 acontecendo isso agora, se o ver\u00e3o j\u00e1 acabou? Porque o outono \u00e9 um per\u00edodo de transi\u00e7\u00e3o entre o ver\u00e3o e o inverno. N\u00f3s ainda estamos passando por dias muito quentes, mas a tend\u00eancia \u00e9 a temperatura ir caindo gradativamente”, explica Jos\u00e9 Geraldo Ferreira da Silva, pesquisador do Incaper.<\/p>\n

De acordo com ele, n\u00e3o se pode dizer se o Esp\u00edrito Santo ser\u00e1 a pr\u00f3xima bola da vez, mas o Estado tamb\u00e9m tem sofrido com chuvas muito fortes. Os estragos est\u00e3o sendo menos severos, mas as intensidades s\u00e3o semelhantes. “No Rio, choveu mais de 200 mm em uma noite. Aqui, n\u00f3s tivemos mais de 100 mm de chuva em uma noite, o que causou muitos danos. Agora, estamos dentro da zona de risco, sim, porque o deslocamento da zona de converg\u00eancia pode passar desde o extremo sul – como aconteceu com Santa Catarina – at\u00e9 o sul da Bahia”. Ele relembra as fortes chuvas ocorridas aqui em dezembro, quando Brejetuba, Ibatiba e Afonso Cl\u00e1udio foram alagados, ocasionando grande destrui\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

“Aqui os desastres n\u00e3o t\u00eam a mesma propor\u00e7\u00e3o porque as \u00e1reas s\u00e3o menos fr\u00e1geis, proporcionalmente h\u00e1 menos ocupa\u00e7\u00f5es irregulares e pontos de risco. Mas, al\u00e9m das encostas, temos \u00e1reas planas, como em Vila Velha e mesmo em Vit\u00f3ria que, quando chove forte, provocam um caos”, afirma.<\/p>\n

Investimentos em previs\u00e3o<\/strong> <\/p>\n

Embora a previs\u00e3o do tempo seja de fundamental import\u00e2ncia tanto para as atividades humanas no campo quanto na cidade, at\u00e9 2005 o Esp\u00edrito Santo n\u00e3o tinha equipamentos adequados, nem pessoal capacitado para realizar esse servi\u00e7o de forma eficaz e, consequentemente, gerar informa\u00e7\u00f5es confi\u00e1veis.<\/p>\n

H\u00e1 cinco anos, estavam em funcionamento 17 esta\u00e7\u00f5es meteorol\u00f3gicas convencionais (mecanizadas). N\u00e3o havia tecnologia nem know how para transformar os dados em conhecimento. Com a cria\u00e7\u00e3o do Setor de Meteorologia do Incaper, o quadro come\u00e7ou a mudar, como conta Jos\u00e9 Geraldo.<\/p>\n

“O Estado est\u00e1 investindo, captando recursos. Hoje n\u00f3s trabalhamos muito com o apoio dos \u00f3rg\u00e3os governamentais federais e estaduais. E veja: em apenas cinco anos, nossa rede de monitoramento saiu de zero para dezessete equipamentos autom\u00e1ticos. At\u00e9 2005, n\u00e3o t\u00ednhamos nenhum equipamento desses. S\u00e3o sensores sofisticados, totalmente digitais que medem as chuvas, a velocidade e dire\u00e7\u00e3o dos ventos, a temperatura, a umidade, a radia\u00e7\u00e3o solar, a press\u00e3o atmosf\u00e9rica, e a cada hora me mandam essas informa\u00e7\u00f5es. Al\u00e9m desses, h\u00e1 diversos outros equipamentos que tamb\u00e9m me mandam diferentes informa\u00e7\u00f5es durante o dia”.<\/p>\n

Silva explica que atualmente o Incaper j\u00e1 disp\u00f5e de ferramental material e humano para processar e divulgar esses dados quase que em tempo real, com alto \u00edndice de confiabilidade: acima de 90% para per\u00edodos de 24 a 48 horas. Os dados chegam de toda a rede p\u00fablica do Esp\u00edrito Santo, das esta\u00e7\u00f5es meteorol\u00f3gicas do Inpe e do Inemet, da Ag\u00eancia Nacional de \u00c1guas, das esta\u00e7\u00f5es do Iema e do pr\u00f3prio Incaper. “N\u00f3s trabalhamos esses dados e geramos boletins. Diariamente, \u00e0s seis horas da manh\u00e3, j\u00e1 temos a previs\u00e3o do tempo dispon\u00edvel na internet (www.incaper.es.gov.br), para sete dias, o que nos d\u00e1 um bom indicativo das tend\u00eancias”.<\/p>\n

O especialista acrescenta que nem todos os Estados est\u00e3o assim equipados, porque isso requer um investimento alt\u00edssimo, j\u00e1 que os aparelhos s\u00e3o muito sofisticados e caros. Para se ter ideia, uma \u00fanica esta\u00e7\u00e3o meteorol\u00f3gica digital custa em torno de cem mil reais. O objetivo agora \u00e9 dar mais um passo e passar da previs\u00e3o para a preven\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

“Estamos propondo uma rede de monitoramento e alerta de eventos extremos, tanto de secas como de chuvas. \u00c9 um projeto muito caro, e est\u00e1 sendo estudado dentro das secretarias envolvidas – agricultura, meio ambiente, defesa civil e seguran\u00e7a p\u00fablica, entre outras. J\u00e1 existem recursos na meteorologia para se fazer monitoramento em tempo real. Inclusive, para prever uma chuva igual \u00e0 que atingiu o Rio. Se o plano for aprovado e tudo ocorrer dentro do cronograma, acredito que em dois ou tr\u00eas anos j\u00e1 poderemos estar prontos para dizer com quase 100% de certeza se haver\u00e1 a ocorr\u00eancia de um fen\u00f4meno, quando e at\u00e9 em que bairros, com muita precis\u00e3o e anteced\u00eancia. Agora, precisa haver um investimento de milh\u00f5es de reais”, diz Silva.<\/p>\n

Planejamento e organiza\u00e7\u00e3o, o calcanhar de Aquiles<\/strong><\/p>\n

O especialista toca no ponto chave de todo esse esfor\u00e7o: \u00e9 preciso haver uma infraestrutura bem montada por tr\u00e1s desse alerta, para que realmente se evitem perdas materiais e humanas, causadas, principalmente, pelo mau uso dos solos, rurais e urbanos, que por isso se tornam cada vez mais imperme\u00e1veis, favorecendo os alagamentos; pela ocupa\u00e7\u00e3o irregular das margens de rios e de encostas, estas propiciando os deslizamentos de terra; pelos aterros irregulares; e pela falta de investimentos em planejamento e a\u00e7\u00f5es de preven\u00e7\u00e3o e mitiga\u00e7\u00e3o de danos ambientais.<\/p>\n

A m\u00e1 not\u00edcia \u00e9 que essa infraestrutura ainda n\u00e3o existe, e nem dever\u00e1 existir a curto prazo, no Esp\u00edrito Santo e na maior parte do Brasil. A boa not\u00edcia \u00e9 que no Estado ela j\u00e1 est\u00e1 sendo pensada e, em v\u00e1rios aspectos, at\u00e9 implementada, num processo que vem avan\u00e7ando mais r\u00e1pido do que em muitos outros estados.<\/p>\n

“Mas a quest\u00e3o da preven\u00e7\u00e3o \u00e9 complicada, porque tem ra\u00edzes inclusive culturais. Infelizmente, as Defesas Civis hoje ainda est\u00e3o pouco estruturadas, e nos munic\u00edpios menores nem existem. Mesmo onde existe uma, muitas vezes ainda n\u00e3o est\u00e1 equipada e preparada para proceder de forma preventiva. Isso \u00e9 realidade no Brasil, n\u00e3o s\u00f3 no Esp\u00edrito Santo. Ent\u00e3o, eu vou emitir um alerta para quem naquele munic\u00edpio?”, aponta Jos\u00e9 Geraldo.<\/p>\n

O coronel Fronzio Calheira, comandante geral do Corpo de Bombeiros Militares do Estado, concorda, mas ressalta que tamb\u00e9m nessa \u00e1rea investimentos importantes v\u00eam sendo feitos pelo poder p\u00fablico. Por\u00e9m, muito ainda h\u00e1 por fazer. “Culturalmente, temos que melhorar muito. Os maiores obst\u00e1culos s\u00e3o a falta de uma mentalidade de preven\u00e7\u00e3o e do uso do poder de pol\u00edcia para se evitar a cria\u00e7\u00e3o de novas \u00e1reas de risco. Se o poder p\u00fablico v\u00ea uma ocupa\u00e7\u00e3o irregular e em vez de retir\u00e1-la, constr\u00f3i ruas, est\u00e1 estimulando o erro. Leis existem de sobra. Basta cumprir”, afirma.<\/p>\n

Para o coronel Calheira, o problema \u00e9 complexo, e assim tamb\u00e9m as solu\u00e7\u00f5es. Entre outras medidas, aponta que \u00e9 preciso, por parte das autoridades, investimentos consistentes e vontade pol\u00edtica, ao lado de a\u00e7\u00f5es concretas de educa\u00e7\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o, incentivando uma cultura de preven\u00e7\u00e3o de riscos desde a inf\u00e2ncia.<\/p>\n

Ele destaca que criar uma infraestrutura adequada para preven\u00e7\u00e3o de desastres e resposta r\u00e1pida caso eles ocorram abrange aspectos t\u00e3o variados como, por exemplo, a dragagem de canais, urbaniza\u00e7\u00e3o, coleta de lixo, habita\u00e7\u00e3o e, principalmente, estrutura\u00e7\u00e3o das Defesas Civis municipais. Os projetos e verbas s\u00e3o pulverizados por v\u00e1rias pastas e secretarias, o que dificulta uma a\u00e7\u00e3o conjunta eficaz.<\/p>\n

“Nem n\u00f3s nem ningu\u00e9m ficar\u00edamos imunes diante de uma chuva como a que caiu sobre o Rio de Janeiro. Existe um passivo hist\u00f3rico que precisa ser resolvido. Claro que epis\u00f3dios assim v\u00e3o acontecer de novo e novamente matar pessoas. Por isso, aspectos pol\u00edtico-eleitorais n\u00e3o podem interferir em quest\u00f5es de seguran\u00e7a p\u00fablica”, sustenta.<\/p>\n

Estrutura para emerg\u00eancias<\/strong><\/p>\n

O Esp\u00edrito Santo tem hoje nove unidades do Corpo de Bombeiros Militares (CBM-ES) para o atendimento \u00e0s emerg\u00eancias sociais e ambientais dos 78 munic\u00edpios capixabas, das quais tr\u00eas localizam-se na Regi\u00e3o Metropolitana (Vit\u00f3ria, Serra e Vila Velha).
Segundo informa\u00e7\u00f5es do Comando Geral da corpora\u00e7\u00e3o, duas novas unidades (Nova Ven\u00e9cia e Aracruz) ser\u00e3o inauguradas em julho pr\u00f3ximo, e outras tr\u00eas (Cariacica, Anchieta e Gua\u00e7u\u00ed) est\u00e3o sendo licitadas, previstas para operar em 2011.
O Estado passar\u00e1 a contar ent\u00e3o com 14 unidades, Vit\u00f3ria, Vila Velha, Serra, Cariacica, Guarapari, Aracruz, Colatina, Nova Ven\u00e9cia, Linhares, S.Mateus, Cachoeiro, Anchieta, Gua\u00e7u\u00ed e Marechal Floriano), aptas a atender a 68% da popula\u00e7\u00e3o com tempo de resposta de at\u00e9 10 minutos. Cada unidade \u00e9 assim equipada:<\/p>\n

\u2022\t1 caminh\u00e3o autobomba tanque que carrega 4.800 litros e todo o equipamento necess\u00e1rio para fazer o combate a inc\u00eandios urbanos e florestais e busca e salvamento;
\u2022\t1 caminhonete multiuso para atendimento de busca e salvamento e de ocorr\u00eancias em locais de dif\u00edcil acesso;
\u2022\t1 viatura para transporte de pessoal (kombi);
\u2022\t2 viaturas pequenas para transporte de equipes de vistoria e an\u00e1lise de projetos;
\u2022\t1 motocicleta para vistorias, levantamentos de riscos e quedas de \u00e1rvores.<\/p>\n

Os principais servi\u00e7os que o CBMES presta s\u00e3o: per\u00edcia de inc\u00eandios, realiza\u00e7\u00e3o de vistorias, normas t\u00e9cnicas de processos de seguran\u00e7a contra inc\u00eandio e p\u00e2nico, atendimento pr\u00e9-hospitalar, busca e salvamento, combate a inc\u00eandio urbano e florestal, emerg\u00eancias ambientais e atividades de mergulho.
Com dados da Assessoria de Comunica\u00e7\u00e3o do CBMES.<\/p>\n

Defesa Civil, uma necessidade b\u00e1sica<\/strong> <\/p>\n

Subordinada ao Corpo de Bombeiros est\u00e1 a Defesa Civil estadual, que tem o papel de reduzir desastres e compreende a\u00e7\u00f5es de preven\u00e7\u00e3o, de prepara\u00e7\u00e3o para emerg\u00eancias e desastres, de resposta aos desastres e de reconstru\u00e7\u00e3o. Por\u00e9m, s\u00f3 muito recentemente, em 2005, foi efetivamente elaborada uma pol\u00edtica nacional nessa \u00e1rea, sob a responsabilidade do Minist\u00e9rio da Integra\u00e7\u00e3o Nacional. Ela prev\u00ea um sistema tripartite, em que cada munic\u00edpio brasileiro deve ter uma Defesa Civil organizada, trabalhando de forma articulada com a popula\u00e7\u00e3o, com a Defesa Civil estadual e com a Secretaria Nacional de Defesa Civil. No Estado, dos 78 munic\u00edpios, 50 j\u00e1 possuem Defesa Civil instalada.<\/p>\n

O que ocorre na pr\u00e1tica \u00e9 que os desastres – sejam enchentes, inc\u00eandios, deslizamentos, desabamentos ou quaisquer outros, se d\u00e3o sempre em n\u00edvel municipal. Por isso, \u00e9 o munic\u00edpio quem deve tomar a iniciativa de acionar primeiramente o sistema. Essa rede, por\u00e9m, para funcionar da forma adequada, precisa estar bem integrada, o que ainda n\u00e3o acontece.<\/p>\n

Mas as prefeituras t\u00eam ao alcance ferramentas valiosas para promover uma atua\u00e7\u00e3o mais eficiente. Nesse contexto, dois instrumentos se destacam: o Plano de Redu\u00e7\u00e3o de Riscos e o Plano Diretor de Drenagem. Esses documentos s\u00e3o fruto de estudos t\u00e9cnicos que mapeiam as \u00e1reas de risco existentes nos munic\u00edpios e servem para nortear as interven\u00e7\u00f5es corretivas e a\u00e7\u00f5es preventivas. No Esp\u00edrito Santo, somente Vit\u00f3ria possui estas ferramentas totalmente implementadas. Vila Velha e Cariacica est\u00e3o em processo de licita\u00e7\u00e3o desses estudos, que requerem pessoal especializado. O minist\u00e9rio da Integra\u00e7\u00e3o disponibiliza os recursos financeiros, uma vez que sejam solicitados via encaminhamento de projetos.<\/p>\n

Situa\u00e7\u00e3o na Grande Vit\u00f3ria<\/strong><\/p>\n

A capital capixaba tem a Defesa Civil mais bem estruturada e equipada. Desde 2007 est\u00e1 implantado o Plano Municipal de Redu\u00e7\u00e3o de Riscos, no qual as \u00e1reas cr\u00edticas da cidade foram totalmente mapeadas e definidas as interven\u00e7\u00f5es a serem feitas em encostas e demais locais vulner\u00e1veis.<\/p>\n

Segundo o subsecret\u00e1rio de Obras do munic\u00edpio, Juscelino Alves, de 2005 a 2008 foram investidos cerca de R$ 10 milh\u00f5es em obras de conten\u00e7\u00e3o e de 2007 at\u00e9 o momento outros R$ 90 milh\u00f5es est\u00e3o sendo aplicados.<\/p>\n

“Estamos desenvolvendo uma s\u00e9rie de a\u00e7\u00f5es, intensificadas a partir de 2007, norteadas por esse plano, que prev\u00ea obras e a\u00e7\u00f5es n\u00e3o estruturais, voltadas para a organiza\u00e7\u00e3o do sistema – monitoramento, treinamento de pessoal, vistorias, limpeza de encostas, educa\u00e7\u00e3o das pessoas para evitar o problema do lixo, que \u00e9 muito grave etc. No \u00e2mbito destas, a mais importante feita nesse per\u00edodo foi a implanta\u00e7\u00e3o das esta\u00e7\u00f5es de monitoramento de chuvas. Hoje, sabemos exatamente, em tempo real, qual \u00e9 a quantidade de chuva que est\u00e1 caindo numa determinada regi\u00e3o. Dependendo do caso, j\u00e1 disparamos um alerta para a Defesa Civil, que fica em prontid\u00e3o ou at\u00e9 mesmo retira as pessoas de um local de risco”, esclarece.<\/p>\n

Na \u00e1rea de drenagem das \u00e1guas pluviais, Juscelino destaca que as a\u00e7\u00f5es seguem o Plano Diretor de Macrodrenagem, que tamb\u00e9m mapeou os pontos cr\u00edticos e identificou mais de 90, chamados bacias de drenagem, dos quais foram priorizados 29 para interven\u00e7\u00e3o imediata.<\/p>\n

“S\u00e3o muitas as obras que j\u00e1 fizemos nessa \u00e1rea, mas destaco as que estamos fazendo no Bairro Rep\u00fablica, que mesmo estando ainda em andamento j\u00e1 eliminaram muitos dos problemas de alagamento que t\u00ednhamos at\u00e9 um ano atr\u00e1s. J\u00e1 atuamos tamb\u00e9m em Santo Ant\u00f4nio, Joana D’Arc, e estamos fazendo uma obra das mais importantes, que \u00e9 a Esta\u00e7\u00e3o de Bombeamento C\u00e2ndido Portinari, atr\u00e1s do Detran, para minimizar os problemas de alagamento em toda a regi\u00e3o da Leit\u00e3o da Silva, Maru\u00edpe, Horto e adjac\u00eancias”, conclui.<\/p>\n

Vila Velha, que tradicionalmente sofre muito com enchentes, tamb\u00e9m j\u00e1 iniciou a\u00e7\u00f5es importantes para mitiga\u00e7\u00e3o dos problemas. “O Plano de Conting\u00eancia de Vila Velha, executado pela Secretaria de Defesa Social com a colabora\u00e7\u00e3o de todas as outras, j\u00e1 est\u00e1 assinado pelos secret\u00e1rios e coordenadores e est\u00e1 sendo aprovado agora pelo prefeito Neucimar Fraga, para que seja encaminhado \u00e0 C\u00e2mara. Creio que num prazo de 30 dias ele j\u00e1 se encontrar\u00e1 dispon\u00edvel para conhecimento p\u00fablico”, informa Carlos Renato Carvalho de Freitas, coordenador da Defesa Civil do munic\u00edpio.<\/p>\n

Tamb\u00e9m est\u00e1 em licita\u00e7\u00e3o o servi\u00e7o de mapeamento das \u00e1reas de risco e elabora\u00e7\u00e3o do Plano de Redu\u00e7\u00e3o. Outro trabalho preventivo importante em andamento \u00e9 a remo\u00e7\u00e3o de fam\u00edlias que est\u00e3o em \u00e1reas de risco. A prefeitura j\u00e1 come\u00e7ou o projeto de constru\u00e7\u00e3o de 400 casas no Bairro Residencial Jabaet\u00e9, em Terra Vermelha, e pretende retirar essas pessoas, que ocupam margens de canais, casas com problemas estruturais, casas em encostas etc.<\/p>\n

Cariacica tem \u00e0 frente da Defesa Civil o capit\u00e3o Jarbas Mota Siqueira. Ele destaca que as fragilidades do munic\u00edpio s\u00e3o heran\u00e7a de situa\u00e7\u00f5es passadas que permitiram muitas ocupa\u00e7\u00f5es irregulares. A seu ver, tamb\u00e9m oferecem risco as encostas, felizmente pouco povoadas, mas ainda assim vulner\u00e1veis a deslizamentos. Mas tem uma vis\u00e3o otimista.<\/p>\n

“Essa preocupa\u00e7\u00e3o que est\u00e1 no Estado e no Brasil, mais ou cedo ou mais tarde teria que surgir, porque era preciso acordar para a import\u00e2ncia de trabalhar com preven\u00e7\u00e3o, com prepara\u00e7\u00e3o de respostas. E nisso tudo o nosso Estado est\u00e1 evoluindo. Tanto a Defesa Civil estadual quanto as que est\u00e3o ligadas a ela t\u00eam tido essa consci\u00eancia”, disse.<\/p>\n

Siqueira conclui ressaltando que h\u00e1 v\u00e1rios componentes influenciando o resultado final: os recursos, as vontades pol\u00edticas, a disposi\u00e7\u00e3o das pessoas em dar e receber capacita\u00e7\u00e3o e, sobretudo, o comportamento da comunidade, que \u00e9 onde tudo come\u00e7a. “Todo esse elenco de fatores est\u00e1 exatamente baseado nela. \u00c9 preciso entender que quanto mais despreparada uma comunidade est\u00e1, mais vulner\u00e1vel est\u00e1 tamb\u00e9m. Se ela \u00e9 preparada para conviver com os riscos, garante condi\u00e7\u00f5es de sobreviv\u00eancia. Fora disso, ela vai para o suic\u00eddio, para uma cat\u00e1strofe como a que vimos no no Rio. O morro do Bumba mostrou para o mundo a falta que faz estarmos mais ligados em coisas fundamentais, como a educa\u00e7\u00e3o”.<\/p>\n

Voc\u00ea sabia?<\/strong>
A Defesa Civil brasileira foi criada exatamente em fun\u00e7\u00e3o das grandes enchentes que assolaram o Sudeste, particularmente a cidade do Rio de Janeiro – ent\u00e3o, Estado da Guanabara – em 1966.<\/p>\n

Naquele mesmo ano, foi criado um grupo de trabalho para estudar a mobiliza\u00e7\u00e3o dos diversos \u00f3rg\u00e3os estaduais para prestar assist\u00eancia \u00e0 popula\u00e7\u00e3o em casos de cat\u00e1strofes.<\/p>\n

Este grupo elaborou o Plano Diretor de Defesa Civil do Estado da Guanabara, definindo atribui\u00e7\u00f5es para cada \u00f3rg\u00e3o componente do Sistema Estadual de Defesa Civil. O Decreto Estadual n\u00ba 722, de 18.11.1966, que aprovou este plano estabelecia, ainda, a cria\u00e7\u00e3o das primeiras Coordenadorias Regionais de Defesa Civil – REDEC no Brasil.<\/p>\n

No entanto, a organiza\u00e7\u00e3o sist\u00eamica da defesa civil no Brasil deu-se apenas em 1998, com a cria\u00e7\u00e3o do Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC, reorganizado em 1993 e atualizado em 2005.<\/p>\n

Na nova estrutura do Sistema Nacional de Defesa Civil, destaca-se a cria\u00e7\u00e3o do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres – CENAD, o Grupo de Apoio a Desastres e o fortalecimento dos \u00f3rg\u00e3os de Defesa Civil locais.<\/p>\n

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Trag\u00e9dias como as do Morro do Bumba, ocorrida no Rio de Janeiro no in\u00edcio do m\u00eas, chocam a sociedade, enchem as telas das m\u00eddias eletr\u00f4nicas e provocam ao mesmo tempo solidariedade e indigna\u00e7\u00e3o. Mas continuam a ocorrer, periodicamente, em v\u00e1rios lugares do Brasil. Poderia ter sido aqui. E se fosse?<\/p>\n","protected":false},"author":18,"featured_media":96,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"inline_featured_image":false,"ngg_post_thumbnail":0,"footnotes":""},"categories":[63],"tags":[],"publishpress_future_action":{"enabled":false,"date":"2024-05-09 06:13:44","action":"change-status","newStatus":"draft","terms":[],"taxonomy":"category"},"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/97"}],"collection":[{"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/18"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=97"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/97\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/96"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=97"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=97"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=97"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}