{"id":224444,"date":"2023-10-20T16:45:50","date_gmt":"2023-10-20T19:45:50","guid":{"rendered":"https:\/\/esbrasil.com.br\/?p=224444"},"modified":"2023-10-20T16:45:50","modified_gmt":"2023-10-20T19:45:50","slug":"av-mario-gurgel-2","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/esbrasil.com.br\/av-mario-gurgel-2\/","title":{"rendered":"Av. Mario Gurgel"},"content":{"rendered":"

N\u00e3o h\u00e1 fronteiras na marca do destino<\/strong><\/h2>\n

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O Esp\u00edrito Santo vem abrigando, ao longo de sua Hist\u00f3ria, pessoas de outras plagas em busca do necess\u00e1rio acolhimento para seus sonhos. Esse fen\u00f4meno tem registro no Atlas da Migra\u00e7\u00e3o do Proex\/Ufes, que aponta a presen\u00e7a, no ano de 2010, de 302.583 migrantes, 8,6% da popula\u00e7\u00e3o do Estado. Desse total, 130 mil vieram de outras unidades da federa\u00e7\u00e3o. Se hoje os estados vizinhos s\u00e3o os que enviam mais pessoas para as terras capixabas, no passado foram os europeus que ajudaram a construir a identidade local.<\/p>\n

A professora universit\u00e1ria e doutora em Ci\u00eancias Sociais Maria Cristina Dadalto realizou uma pesquisa com o objetivo de constatar o peso da migra\u00e7\u00e3o no Esp\u00edrito Santo. Ela identificou que, at\u00e9 meados do s\u00e9culo 19 e in\u00edcio do s\u00e9culo 20, esse movimento era protagonizado pelos italianos. Mas esse povo n\u00e3o foi o \u00fanico a aqui chegar. \u201cVieram n\u00e3o s\u00f3 imigrantes \u00e1rabes e s\u00edrios, mas tamb\u00e9m muitos brasileiros \u2013 mineiros, fluminenses e cearenses. E a partir dos anos 60, um novo ciclo incluiu principalmente japoneses e, sobretudo, mineiros e baianos\u201d, afirma ela.<\/p>\n

O coordenador do Comit\u00ea Tem\u00e1tico de Fortalecimento da Identidade Capixaba e Imagem do Estado, Am\u00e9rico Buaiz Filho, acredita ser natural a capacidade de o Esp\u00edrito Santo agregar pessoas de outros estados: a motiva\u00e7\u00e3o para a imigra\u00e7\u00e3o, justifica, reside no fen\u00f4meno do desenvolvimento sistem\u00e1tico que tem ocorrido o Estado, acima da m\u00e9dia nacional. O fato \u00e9 que os cen\u00e1rios da pol\u00edtica, da administra\u00e7\u00e3o p\u00fablica, dos formadores de opini\u00e3o, t\u00eam sido marcantes para que o nosso Estado atingisse o grau de universalidade do desenvolvimento que ora desfruta. E parte dessa conquista se deve \u00e0 participa\u00e7\u00e3o de personalidades que plantaram ra\u00edzes nas generosas terras capixabas e se integraram ao esp\u00edrito criativo do seu povo.<\/p>\n

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M\u00e1rio Gurgel \u00e9 um exemplo edificante desse fen\u00f4meno, membro de uma fam\u00edlia que percorreu 3.312 quil\u00f4metros para chegar at\u00e9 n\u00f3s. \u00c9 a dist\u00e2ncia de Rond\u00f4nia, ber\u00e7o do nosso personagem, at\u00e9 o Esp\u00edrito Santo, terra que adotaria como sua. Filho de Luiz Gurgel, um cearense, e de Flora de Campos Gurgel, pernambucana, ele nasceu em Porto Velho, hoje capital de Rond\u00f4nia, \u00e0 \u00e9poca pertencente ao Estado do Amazonas, no dia 12 de junho de 1922. Em 1925, a pequena fam\u00edlia veio para o Esp\u00edrito Santo, radicando-se inicialmente em Santa Teresa, antes de se fixar em Vit\u00f3ria.<\/p>\n

Testemunharia no futuro seu filho, Ant\u00f4nio de P\u00e1dua Rangel, as dificuldades vividas pela fam\u00edlia, residindo inicialmente em um modesto barrac\u00e3o e vendendo doces para ajudar o pai oper\u00e1rio e a m\u00e3e lavadeira. Foi nas andan\u00e7as para venda dos doces que o jovem M\u00e1rio Gurgel conheceu uma senhora francesa que lhe ensinou o idioma em troca de tarefas dom\u00e9sticas. Foi gra\u00e7as a esse entendimento que anos mais tarde se tornou professor de franc\u00eas, a l\u00edngua da \u00e9poca.<\/p>\n

Em 1950, aos 28 anos, aclimatado na cidade que escolhera para viver, encontrou na atividade pol\u00edtica um canal para dar sua contribui\u00e7\u00e3o para o melhor destino da comunidade. Em 1951 casou-se com Hely Mendes Ferreira, que conheceu em 1944. (Abro aqui um par\u00eantesis para testemunhar ser Hely Mendes Ferreira uma pessoa extraordin\u00e1ria, que este pesquisador conheceu no Escrit\u00f3rio de Representa\u00e7\u00e3o do Governo do Esp\u00edrito Santo, em Bras\u00edlia entre 1973\/74. Vali-me, mais de uma vez, de seus sensatos conselhos sempre que solicitados).<\/p>\n

Naquele mesmo ano deu partida \u00e0 sua carreira pol\u00edtica como candidato a vereador, eleito e reeleito em 1954, quando foi escolhido por seus pares para a Presid\u00eancia da C\u00e2mara. Em 1955, aos 33 anos de idade, exercendo o Magist\u00e9rio, bacharelou-se em Ci\u00eancias Jur\u00eddicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Esp\u00edrito Santo.<\/p>\n

Entre 1955-1959, ocupou o cargo de oficial de gabinete do governo Francisco Lacerda de Aguiar, \u201cChiquinho\u201d, licenciando-se da edilidade. Seu voo mais alto ocorreu quando, presidente da C\u00e2mara, com o afastamento do ent\u00e3o prefeito, Adelfo Poli Monjardim, assumiu os destinos da Prefeitura de Vit\u00f3ria, epis\u00f3dio que se repetiria em 1962, quando se reelegeu para a C\u00e2mara Municipal. A escolha do seu nome nas urnas da capital evidenciou seu prest\u00edgio e popularidade, sempre o mais votado nas duas elei\u00e7\u00f5es para vereador por ele disputadas.<\/p>\n

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A Avenida M\u00e1rio Gurgel \u00e9 o trecho da BR-262 entre o bairro de Jardim Am\u00e9rica e o trevo da Ceasa, em Cariacica.<\/figcaption><\/figure>\n

No ano de 1964, insurgiu-se contra a revolu\u00e7\u00e3o, tendo sida \u00fanica voz na Assembleia Legislativa a se rebelar. No ano de 1966, elegeu-se deputado federal e foi cassado pelo Ato Institucional n\u00ba 5. Com os direitos pol\u00edticos suspensos, passou a vender livros e retornou \u00e0 advocacia, sem abandonar seus ideais pol\u00edticos. Em 1979, fundou no Esp\u00edrito Santo o PDT \u2013 Partido Democr\u00e1tico Trabalhista. Como vereador, em 1958, foi fundador da Casa do Menino, destinada a acolher garotos de rua, na Ilha do Pr\u00edncipe.<\/p>\n

Na d\u00e9cada de 1980 presidiu o Iesbem (Instituto Esp\u00edrito Santense do Bem-Estar do Menor.<\/p>\n

Sua vida foi interrompida no dia 4 de janeiro de 1996, aos 78 anos, em consequ\u00eancia de um derrame cerebral a que fora acometido em 1991.<\/p>\n

A mem\u00f3ria de M\u00e1rio Gurgel foi perpetuada com uma homenagem. Foram batizadas com seu nome uma importante via p\u00fablica de Cariacica e uma escola estadual de ensino m\u00e9dio em Jabaet\u00e9, Vila Velha. E ainda: registramos que a indica\u00e7\u00e3o para nominar extenso trecho da BR-101 de Avenida M\u00e1rio Gurgel foi iniciativa de outro grande homem p\u00fablico, o inesquec\u00edvel ex-governador e ex-senador G\u00e9rson Camata, brutalmente assassinado em Vit\u00f3ria no fim do ano passado.<\/p>\n


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Fotos: Renato Cabrini<\/p>\n\r\n