Por Fernando Carreiro<\/strong><\/p>\n Os julgamentos das bruxas de Sal\u00e9m remontam a uma s\u00e9rie de audi\u00eancias e processos de pessoas acusadas na cidade costeira de Sal\u00e9m, da Massachusetts colonial, no s\u00e9culo 17. A Nova Inglaterra havia sido colonizada por dissidentes religiosos que buscavam construir uma sociedade baseada na B\u00edblia de acordo com sua pr\u00f3pria disciplina escolhida. O epis\u00f3dio \u00e9 um dos casos mais not\u00f3rios de histeria em massa na Am\u00e9rica Colonial. Qualquer semelhan\u00e7a com os tempos pol\u00edticos que vivemos \u00e9 mera apropria\u00e7\u00e3o temporal.<\/p>\n No ambiente pol\u00edtico, a \u201cca\u00e7a \u00e0s bruxas\u201d \u00e9 um eufemismo para a persegui\u00e7\u00e3o pol\u00edtica sistem\u00e1tica de um governo ou de um partido a seus advers\u00e1rios, uma conex\u00e3o com o tempo em que pessoas eram acossadas com pretexto de terem feito pacto com O Brasil saiu no encal\u00e7o de seus dem\u00f4nios. Ora travestidos de vermelho, ora de verde e amarelo. As cores s\u00e3o meramente ilustra\u00e7\u00f5es destes tempos apocal\u00edpticos. De nada importa que f\u00e9 professam as bruxas contempor\u00e2neas; basta que elas tenham alguma cren\u00e7a, para que sejam condenadas \u00e0 fogueira e ao linchamento p\u00fablico de suas reputa\u00e7\u00f5es. Se vagueiam por vielas e bairros retirados ou se assombram os centros do poder, n\u00e3o interessa muito; elas devem ser exterminadas e oferecidas \u00e0 execra\u00e7\u00e3o de seus algozes, cobertos pelo manto de uma santidade duvidosa tanto quanto autorit\u00e1ria. <\/p>\n No terreno das redes sociais, as bruxas n\u00e3o se criam. S\u00e3o perseguidas por anjos de candura que voam com asas de superioridade. Nenhum destes tem fantasmas; s\u00f3 as necromantes padecem desse mal. Ah… a santidade que visita cada um de n\u00f3s, espantando os espectros e abantesmas. Somos mesmo um povo de f\u00e9. Uma insuspei\u00e7\u00e3o que n\u00e3o se sustenta diante de apari\u00e7\u00f5es: queremos logo expurg\u00e1-las de perto de n\u00f3s, numa doce ilus\u00e3o do mundo fan\u00e1tico de que h\u00e1 bruxas mais m\u00e1s, de quando escolhemos as menos nocivas para nos aliar.<\/p>\n Demonizaram a pol\u00edtica. Faz tempo. Seu primeiro evento ocorreu em 2013. Nossa Sal\u00e9m tem data e GPS: ocupa todo o territ\u00f3rio de pra\u00e7as, agora esvaziadas, do Brasil. Migraram para a internet.<\/p>\n Aqui, temos homens e mulheres muito valentes; cavaleiros e amazonas sedentos em busca de novos trof\u00e9us humanos que se assemelhem ao diabo. O dem\u00f4nio, esse ser que quer nos sufocar, invadiu a propaganda eleitoral. J\u00e1 era! Estamos vivendo o inferno. E n\u00e3o h\u00e1 uma s\u00f3 voz celestial que possa nos acudir. Mas tamb\u00e9m n\u00e3o a desejamos, \u00e9 verdade. Sair \u00e0 ca\u00e7a \u00e9 mais divertido. O repert\u00f3rio \u00e9 extenso, na mesma medida em que \u00e9 limitado demais. A literatura importante se coloca em escanteio enquanto discutimos temas superficiais demais para mudar a pobre Sal\u00e9m, conturbada politicamente como a de s\u00e9culos atr\u00e1s.<\/p>\n As bruxas de Sal\u00e9m de Massachusetts eram confessas e, portanto, reais. As de hoje, tamb\u00e9m, em um universo forjado para que elas se criassem. E est\u00e3o a\u00ed \u00e0 solta, vagueando pela cidade projetada, pelas pra\u00e7as, pelos escaninhos do poder e dentro de cada um de n\u00f3s. Extermin\u00e1-las pode dizimar um pa\u00eds inteiro.<\/p>\n Fernando Carreiro<\/strong> \u00e9 jornalista e consultor de comunica\u00e7\u00e3o especializado em imagem, reputa\u00e7\u00e3o e gerenciamento de crises.<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" No ambiente pol\u00edtico, \u201cca\u00e7a \u00e0s bruxas\u201d \u00e9 um eufemismo para a persegui\u00e7\u00e3o pol\u00edtica sistem\u00e1tica de um governo<\/p>\n","protected":false},"author":99,"featured_media":175399,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"inline_featured_image":false,"ngg_post_thumbnail":0,"footnotes":""},"categories":[11960,37298],"tags":[37452,187,8763,36274,378,22888],"publishpress_future_action":{"enabled":false,"date":"2024-05-24 01:26:35","action":"change-status","newStatus":"draft","terms":[],"taxonomy":"category"},"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/175394"}],"collection":[{"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/99"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=175394"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/175394\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":176061,"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/175394\/revisions\/176061"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/175399"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=175394"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=175394"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/esbrasil.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=175394"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}
\nfor\u00e7as demon\u00edacas.<\/p>\n\n
\nA campanha eleitoral terminou, e a pol\u00edtica continua a existir. Sob qual aspecto, n\u00e3o se sabe. Talvez nosso f\u00e9rtil imagin\u00e1rio fabrique outras bruxas, duendes, fadas malvadas ou Shreks.<\/p>\n