Entende-se por ética um conjunto de valores orientados para o aperfeiçoamento da convivência
Por Diógenes Lucca
Na vida de um militar tais valores estão presentes nos diversos regulamentos vigentes e abrangem diversos aspectos, desde os uniformes, como fazer um documento, sinais de respeito, procedimentos técnicos e operacionais, conduta dentro e fora do quartel, chegando a detalhes como o corte de cabelo e o comportamento na vida civil.
Virtudes como a integridade, falar a verdade, cumprir normas, respeitar a ciência e até a boa educação e urbanidade fazem parte da ética militar e é por isso que merecem os nossos aplausos os Soldados que comungam desses valores.
Para além dos valores já mencionados temos dois que merecem destaque pois qualificam todas as Forças Militares: a Disciplina e a Hierarquia.
A Disciplina é caracterizada pela expectativa do militar ser fiel ao cumprimento das ordens, regulamentos e leis, pois parte-se do princípio de que tais regramentos só existem para a própria segurança do profissional, para proteção e preservação da imagem institucional e para o aperfeiçoamento e qualidade dos resultados que se pretende oferecer à sociedade. Afinal, a Instituição só existe se a finalidade for servir e atender aos anseios da sociedade, jamais o fim em si mesma.
Assim, ser militar significa ser disciplinado. Embora as Instituições estejam em constante aperfeiçoamento, nem de longe pode surgir a ideia de que cada um pode fazer o que quer ou escolher qual norma cumpre e qual não acha conveniente. Para as necessidades de mudanças também há método regulamentado.
A Hierarquia é também um valor no qual se reconhece que quem ocupa uma graduação ou posto superior merece o respeito e o acatamento de suas ordens. Entretanto, jamais tal obediência pode ser confundida com “subserviência” do tipo “um manda e o outro obedece”. Para garantir isso há um dispositivo chamado “obediência hierárquica” que ao mesmo tempo que valora a hierarquia, também a limita, dando-se total autonomia e proteção legal ao subordinado que se recusa a cumprir uma ordem “manifestamente ilegal”. Assim, o superior pode muito mas não pode tudo.
Aqueles que não demonstram em seus pensamentos e comportamentos convergência com esses valores revelam-se incompatíveis com o verdadeiro espírito de um Soldado. Esses, cuja postura é indigna do fardamento que usam ou já tiveram a honra de usar, perpetuam atos e posturas que, não obstante imorais, são atentatórias às Instituições e ao Estado.
Em tempos de turbulência, como vivemos hoje em nosso País, necessário se faz iluminar e dar a devida importância a esses valores que parecem ter perdido o brilho duramente conquistado desde o processo de redemocratização do País. Retroceder não pode ser uma opção.
Diógenes Lucca é tenente-coronel veterano da Polícia Militar, especialista em Gerenciamento de Crises e Negociação.