2024 mostrou a vulnerabilidade global às mudanças climáticas. O recado da natureza foi claro: a hora de agir é agora, antes que o limite do limite seja cruzado
Por Luiz Fernando Schettino
O ano de 2024 ficará marcado como um divisor de águas na luta contra as mudanças climáticas. Os eventos extremos que ocorreram foram contundentes: é urgente corrigir os rumos para garantir um futuro sustentável.
O Brasil foi afetado por desastres naturais sem precedentes, enchentes, secas e ondas de calor. Enchentes devastadoras desabrigaram milhares de pessoas e destruíram infraestruturas críticas. Destaque para Mimoso do Sul, no Espírito Santo, e para o Rio Grande do Sul, regiões severamente atingidas por enchentes históricas, resultando em inimagináveis perdas humanas e materiais.
As queimadas atingiram níveis alarmantes em 2024, destruindo vastas áreas de vegetação e comprometendo a biodiversidade, da Amazônia a São Paulo, do Pantanal ao Espírito Santo, como nunca visto. Criminosos se aproveitaram da seca extrema para atear fogo, motivados por razões econômicas, políticas e ideológicas. As queimadas se transformaram em incêndios de grandes proporções que afetaram não apenas o meio ambiente, mas também a saúde e a economia das regiões afetadas, resultando em “rios de fumaça” ao invés de “rios de vapor d’água” e chuvas escuras de fuligem.
Esses eventos extremos mostram a vulnerabilidade do Brasil às mudanças climáticas e a necessidade de ações urgentes de mitigação e adaptação.
No plano internacional, a Espanha enfrentou enchentes devastadoras com chuvas torrenciais que afetaram milhares de pessoas e causaram danos significativos e mortes. O deserto do Saara experimentou chuvas anormais e neve, e a vegetação cresceu na Antártida. Esses eventos evidenciam a urgência de uma resposta global coordenada para mitigar os impactos das mudanças climáticas.


A Conferência da Biodiversidade, COP 16, em Cali, Colômbia, destacou a importância da proteção da biodiversidade global. Apesar de alguns avanços, como o aumento dos direitos dos povos indígenas, a conferência terminou sem um caminho claro para o futuro, evidenciando a necessidade de planos de ação concretos e compromissos financeiros mais robustos.
A Conferência do Clima, COP 29, realizada em Baku, Azerbaijão, focou no financiamento climático para países em desenvolvimento e o mercado de carbono. No entanto, a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas trouxe incertezas. Trump, conhecido por seu ceticismo em relação às mudanças climáticas, pode retirar os EUA do Acordo de Paris novamente, o que pode enfraquecer os esforços globais para combater a crise climática.
Mesmo sob polêmica, o acordo do Rio Doce, visando promover a recuperação ambiental e a gestão sustentável dos recursos hídricos, deu esperanças para as pessoas e ecossistemas afetados. Além disso, a criação do mercado de carbono pelo Congresso Nacional, com regras para a compra e venda de créditos de carbono, marca um passo importante para a redução das emissões de gases estufa, o que ajudará o país a atingir as metas climáticas.
O ano de 2024 mostrou a vulnerabilidade global às mudanças climáticas e a necessidade de cooperação para garantir um futuro resiliente. O recado da natureza foi claro: a hora de agir é agora, antes que o limite do limite seja cruzado.
Luiz Fernando Schettino é engenheiro florestal, mestre e doutor em Ciência Florestal, advogado, escritor e ex-secretário Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos.
*Artigo publicado originalmente na revista ES Brasil 225, de dezembro de 2024. Leia a edição completa da Retrospectiva 2024 aqui.