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sexta-feira, 29 março, 2024

Turismo doméstico incrementa a economia do Estado

Turismo doméstico incrementa a economia do EstadoÉ preciso investir na vocação turística do Espírito Santo com foco numa atividade propulsora de desenvolvimento econômico. O Estado tem vocação e opções bem diversificadas: mar, montanha, natureza e cultura, possibilitando a exploração de segmentos como o agroturismo, o turismo de aventura, o cultural, o religioso, o de negócios e de eventos, o náutico etc.  Mas nem mesmo quem nasceu ou mora há muito tempo no Estado o conhece suficientemente para ser “porta-voz” ou “diplomata” na defesa e na boa propaganda, de modo a atrair turistas externos a desfrutarem das belezas naturais capixabas, estimulando os visitantes a um tour pelas regiões turísticas. Nos últimos dois anos, o turismo doméstico vem ganhando força, mas é necessário ainda muito “barulho” para ecoar e fazer o reverso da atividade turística capixaba.

O aumento da renda média e do consumo das famílias, aliado à emergência de uma nova classe média, constitui uma oportunidade ímpar de fortalecimento desse mercado e de reconhecimento do turismo como importante fator de desenvolvimento econômico e social. A cada dia, na pauta de consumo dos brasileiros, as viagens podem e devem ser incluídas, potencializando o consumo interno e aquecendo a economia.

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Alguns Estados brasileiros já se consolidaram nessa área, e o Espírito Santo caminha com esse objetivo. Embora os números ainda estejam aquém das potencialidades e extensão territorial do Estado, na média temporada de 2010 registrou-se o maior fluxo de turistas nos últimos anos (917.365 pessoas), sendo que viajantes do próprio Estado lideraram a demanda, seguidos pelos de Minas Gerais. A pesquisa realizada pela Secretaria de Estado do Turismo no ano passado revelou ainda que a média da renda mensal individual foi de R$ 3.052,00 e que a renda mensal familiar era de R$ 5.070,00. Uma nova pesquisa está sendo feita este ano e será divulgada na segunda quinzena de fevereiro.

A palavra-chave é mudar a estratégia. O primeiro passo para o desenvolvimento do turismo interno começa com a mudança da consciência do gestor público municipal. Afinal, é nos municípios que se encontram os atrativos e os equipamentos que compõem o conjunto de razões para se fazer turismo. Essa é a opinião do presidente-executivo do Convention & Visitors Bureau, o empresário Maely Coelho. Ele destaca que um dos pontos positivos a ser explorado é a diversidade de opções do turismo, destacando, inclusive, que o Estado é altamente vocacionado, em razão das grandes plantas industriais, para o turismo de negócio e eventos. “Só para se ter uma ideia, no ano de 2010, por intermédio do ES Convention & Visitors Bureau, foram realizados na Grande Vitória 97 eventos, que atraíram 31.735 turistas, injetando R$ 53.878,00 na economia”, destacou.

Vocação, analisou Maely Coelho, é o que não falta. Desde Itaúnas até o Caparaó, o Espírito Santo é um Estado rico em atrações e oportunidades, cercado de alternativas turísticas por todos os lados. “O que falta é a determinação dos poderes públicos, o comprometimento da iniciativa privada e a correção dos vícios de sua gente”, registra. Para Maely, somente quando os gestores públicos entenderem a importância econômica do turismo é que este será equiparado a prioridades como a educação, a saúde, o transporte, o meio ambiente etc.

“Se não bastassem todos esses valores, é o segmento que tem a distribuição de renda mais horizontalizada de que tenho conhecimento. Veja: o turista chega ao aeroporto e já pega um táxi; vai para o hotel, para o restaurante, para o comercio, para o artesanato, para o tour, e assim sucessivamente. Ele próprio, o turista, se encarrega de distribuir a renda para toda a cadeia produtiva da economia”, finaliza.

Não somos caranguejos: avante!
É preciso correr para que o turismo cresça e o Estado seja lançado como uma ótima alternativa de destino para o País e o exterior. “Porém, estamos atrasados em mais de 20 anos. As serras gaúchas, por exemplo, há duas décadas estavam começando, e hoje são o que são – um modelo de exploração turística bem-sucedida. Eles começaram na frente, e nós agora temos que correr para alcançar o mesmo objetivo. Para isso, precisamos de uma Secretaria de Turismo com recursos”, pondera o empresário do ramo hoteleiro, fundador do Parque do China e atual presidente-executivo do Montanhas Capixabas Convention & Visitors Bureau, Valdeir Nunes.

Ele lembrou que, por orientação do Ministério do Turismo, o Estado foi dividido em 10 regiões (rotas) turísticas e quatro delas já possuem certificados de instância de governança. Esses projetos, considera Valdeir Nunes, são ferramentas extraordinárias para o desenvolvimento do turismo regional e trabalham dando subsídios à Secretaria de Estado de Turismo. “No entanto, é preciso criar, por parte do Governo do Estado, municípios e da iniciativa privada, mecanismo legal de apoio financeiro à manutenção e à logística das instâncias. Hoje, elas subsistem com muita dificuldade”, pontuou.

Desafios
Apesar do alerta, Valdeir Nunes elogia a iniciativa dos dois últimos secretários de Estado do Turismo, respectivamente Marcus Vicente e João Felício Scardua, em tratar o setor com profissionalismo e como instrumento para gerar emprego, renda e desenvolvimento sustentável, já que se refere a uma das atividades socioeconômicas que mais crescem no mundo.

A política de turismo tem que ser acompanhada de uma estratégia de gestão da Secretaria de Turismo em desenvolver, fortalecer e capacitar os segmentos produtivos locais, para que possam elevar suas receitas e gerar novas oportunidades de negócios. “Ficamos por muito tempo esquecidos, por isso é que falo em um atraso de 20 anos. A partir de 2008, as coisas começaram a mudar dentro do Estado. Hoje, temos um bom relacionamento com todo o trade”, destacou Nunes.

Para o presidente do Montanhas Capixabas Convention & Visitors Bureau, a população local ainda não acredita no turismo no Estado, considerando-o caro se comparado a outros destinos do País. “Nos finais de semana, na região de montanha, muitas vezes faltam vagas. Porém, de segunda a sexta-feira, temos uma ocupação que varia de 3 a 10%. Por isto alguns consideram os valores altos, pois temos que cobrir o déficit da semana. Por essa razão é que insisto na divulgação”, ressalta”.

Segundo Ernesto Izoton, do Grupo Izoton, os desafios para o incremento do turismo nas montanhas concentram-se na melhoria da região de Pedra Azul e entorno, tornando-a referência nacional e internacional em enologia, gastronomia e esportes de aventuras; na consolidação de Venda Nova do Imigrante como capital nacional do agroturismo; e na implementação da Rota Imperial.

“Entretanto, entendemos que essa proposta exige o envolvimento e o comprometimento do poder público, das entidades empresariais, das empresas e dos empreendedores”, pondera Ernesto. “Quando comparamos a nossa competitividade de produtos e serviços ofertados com a de outros destinos turísticos consolidados, concluímos que há uma grande necessidade de estruturação mais empresarial dessa atividade. Mas há oportunidades. O setor imobiliário, por exemplo, direciona esforços para o conceito de segunda residência, o que beneficia o turismo na região das montanhas capixabas. Além disso, brasileiros de melhor poder aquisitivo têm optado pelas montanhas em detrimento de alguns destinos turísticos de litoral.”

Instância de governança
A turismóloga Adriana Sartório Ricco, mestre em Educação, Administração e Comunicação pela Universidade São Marcos (SP), coordenadora e professora do Curso de Turismo da Faculdade Estácio de Sá de Vitória e Vila Velha, faz uma análise do setor, pontuando aspectos positivos e negativos. Dentre os que estão num caminho satisfatório figuram as rotas turísticas já formatadas e em consolidação, ao lado da sensibilização e incentivo ao empreendedorismo no setor com iniciativas como o Programa de Iniciação Escolar para o Turismo, implantado nas escolas de ensino fundamental em diversas prefeituras da Grande Vitória.

“Temos hoje maior reconhecimento de mão de obra qualificada em nível gerencial, expresso na crescente contratação de turismólogos e na oferta de vagas em concurso público estadual. Também a demanda por alunos em formação nos cursos de Turismo cresceu significativamente, o que está possibilitando a inserção desses futuros profissionais no mercado já no segundo período de curso”, revela. Outro ponto que considera positivo foi a recente implantação de um programa do governo federal para a qualificação de mão de obra em diversos segmentos operacionais da atividade turística.

“Mas o que falta ser mudado são as políticas públicas locais, pois ainda são incipientes no setor e ineficientes na efetivação de parcerias público-privadas que resultem no incremento do turismo doméstico. A infraestrutura, como o parque hoteleiro do Espírito Santo, embora em franca expansão na Grande Vitória, não comporta a realização de grandes eventos de negócios de importantes categorias profissionais. Falta um centro de convenções com maior capacidade”, pontua Adriana. Ela cita também o atraso nas obras de expansão do aeroporto Eurico Salles, paradas já há algum tempo, impossibilitando o aumento do número de desembarques.

De acordo com dados divulgados em dezembro pelo ex-secretário de Estado de Turismo João Felício Scardua o Estado tem, ao todo, cerca de 800 meios de hospedagem, entre hotéis, pousadas e outros. O maior número fica em Guarapari, com 61 estabelecimentos, seguido de Vila Velha, Vitória e Serra, com 46, 45 e 41 estabelecimentos formais, respectivamente. Para 2011, deverão ser inauguradas uma unidade da rede Confort, na avenida Adalberto Simão Nader, e uma da rede Ibis, na avenida Dante Michelini. Também ainda estão no papel um hotel da Bristol (perto da Ponte da Passagem) e um da Quintela Torres (na Reta da Penha, perto da avenida Rio Branco). E já se sabe que pelo menos outros três grupos pretendem erguer hotéis no Estado.

Considerando a fraca venda da imagem turística do Espírito Santo, tanto interna como externamente, Adriana Sartório vai ainda mais longe. “A divulgação turística capixaba é ineficiente e pouco dirigida aos grandes centros emissores de turistas, dificultando a comercialização das rotas e pacotes turísticos para o Estado”. Ela revelou que há necessidade de definição de um plano de marketing mais robusto, com destinação de verba correspondente e disponibilização dos produtos locais nas “prateleiras” das agências e operadoras em nível nacional.

Um dos passos positivos foi a criação das instâncias de governança, reconhecidas por meio da Resolução nº 06, de 9 de dezembro de 2010. A certificação concede exclusividade na gestão e implementação de projetos, programas e atividades turísticas em âmbito regional. Cada instância passa a ser responsável pela interlocução entre o Estado e os municípios na condução das atividades turísticas.

Fluxo
Segundo a Secretaria de Estado do Turismo, foram levantados uma série de dados sobre o turista que frequenta o Estado, com a implementação do sistema de boletim de ocupação hoteleira para acompanhamento das informações. De acordo com as pesquisas realizadas pela Setur, o número de turistas é expressivo a cada ano.

Em 2004 a pesquisa teve por objetivos a quantificação do número de turistas na alta temporada, a identificação do perfil do turista que visita o Estado e de características como tempo de permanência, gasto, origem e avaliação de sua opinião a respeito do Estado. Em 2005, o levantamento forneceu informações sobre o perfil do turista na Grande Vitória, além de realizar uma contagem dos que frequentam a região. Nos anos de 2006, 2007 e 2008, os estudos tiveram o intuito de mensurar o fluxo turístico e o perfil do turista durante a alta temporada. Por último, em 2010, o objetivo foi identificar os principais hábitos de consumo dos turistas que estão no Estado, procurando também avaliar os serviços utilizados e a infraestrutura local.

Gestão descentralizada e regionalizada
Algumas prefeituras já estão planejando o incremento do turismo para os próximos anos. A Secretaria de Turismo de Linhares, por exemplo, focou na qualificação dos serviços turísticos, que é uma das propostas do Plano de Ação 2009-2012 do órgão, com o objetivo de gerar melhor atendimento nos locais frequentados pelos turistas. O secretário de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio de Linhares, Paulo Medina, ressalta que além da exuberante natureza e das riquezas culturais, a cidade alia o lazer com o negócio, oferecendo oportunidades em âmbito nacional e internacional, como a reserva Florestal da Vale, em Linhares, maior concentração de Mata Atlântica, que recebe visitas de jornalistas, biólogos e ambientalistas do mundo inteiro. Atualmente, o município conta com recursos provenientes de diversos setores da economia. Os investimentos nas áreas de petróleo, as indústrias de grande porte e o polo moveleiro têm feito de Linhares uma cidade em constante desenvolvimento.

No sul do Estado, o município de Anchieta tem um perfil turístico voltado para o lazer, mas que também tem crescido muito nos setores de negócios, agroturismo e agroindústria. Já são cinco circuitos implantados no município: Circuito Cultura e Fé, Rio Benevente e Ruínas, Circuito Praias e Projeto Tamar, Náutico-Recreativo e Cientifico e o Circuito dos Imigrantes. Anchieta é o terceiro município em renda per capita do Espírito Santo.

“O desenvolvimento econômico tem impulsionado o turismo de negócios e conta com 784 empresas estabelecidas, além de indústrias de porte como a Samarco e a UTG Sul Petrobras – sem contar os estudos para a implantação da Companhia Siderúrgica Ubu”, destaca o secretário de Integração Econômica Regional de Anchieta, Marcus Zanotti.

Visitas por mar e terra
Vitória tem mais de quatro séculos de história representados pelo patrimônio com a implantação do Projeto Visitar. Mais de 150 mil visitas de turistas domésticos foram registradas neste ano e mostram um crescimento surpreendente nesta área, de acordo com o secretário de Turismo da capital, Antônio Bispo. Para ele, Vitória há alguns anos se tornou o maior mercado de turismo de negócios, tanto que a ocupação hoteleira no mês de janeiro esgotou o número de vagas em vários dias do mês. Outro ponto forte na divulgação do turismo diz respeito à temporada de dezembro a março com o retorno dos Transatlânticos, que voltam a movimentar a capital. A expectativa é que neste período 11.269 passageiros que moram no Espírito Santo e em Estados vizinhos embarquem no terminal portuário de Vitória. E uma previsão de que haja movimentação de R$ 5,7 milhões, pois, em média, cada passageiro gasta R$ 100 ao descer do navio para conhecer o destino.

Não perdendo a característica de turismo de praia nos seus 23 km de litoral, o município de Serra vem também, de acordo com o secretário de Turismo, Esporte, Cultura e Lazer local, Osmar Alves Nascimento, há cerca de cinco anos, consolidando a atividade pelo estímulo ao agroturismo. No próximo dia 19 de março, durante as comemorações de 162 anos da Insurreição do Queimado, haverá uma grande manifestação cultural na cidade. Serão inaugurados 17 km de estradas pavimentadas, ligando a Serra-Sede até as ruínas de Queimados. Esse trajeto favorece dois circuitos de agroturismo, assegurando o acesso às instâncias inseridas no projeto de desenvolvimento do setor no município. Além disso, a administração tem incrementado a área construindo equipamentos como um Centro de Convenções, visando à logística para os trabalhos na área do turismo de negócios.

Seguindo o conceito de segmentação, que nada mais é do que uma forma de organizar a atividade para fins de planejamento, gestão e mercado, Cariacica, por possuir extensa área rural, se destaca no turismo rural e no agroturismo. O município possui dois circuitos de agroturismo: Monte Moxuara e Terras Altas. Além de divulgarem o município e suas belezas naturais, dinamizam a economia local, já que muitos produtos e serviços oferecidos são fabricados por produtores residentes na área rural de Cariacica.

O atual momento econômico, somado à qualidade de vida que oferece, transformou Aracruz numa alternativa para o turismo de negócios. Atualmente, o município conta com um competitivo e diversificado parque industrial e de serviços, com destaque para os setores metalmecânico, construção civil, hotelaria e agroturismo. Sua logística favorável inclui a proximidade com o ramal ferroviário Vitória/Minas e o gasoduto da Petrobras.

Convite aos turistas
De acordo com o secretário de Estado de Turismo, Alexandre Passos, a Setur trabalha com promoções de divulgação para o capixaba conhecer sua própria terra, como a campanha “Capixaba, descubra o Espírito Santo, seu destino é aqui”, que visa a estimular o turismo doméstico e conhecer o que o Estado tem de atrativo.

“Além disso, há ações nos centros comerciais no interior do Estado e capacitação dos profissionais que atuam na área do turismo. Trabalhamos para melhorar toda a parte de infraestrutura turística com vários projetos, como de sinalização, participando e apoiando eventos no Estado com o propósito de divulgação e produzindo materiais promocionais que, além de divulgar os potenciais turísticos internamente, divulga o Espírito Santo também para outros estados e países”, destaca o secretário.

“Todas essas atividades vêm alcançando números crescentes nos últimos anos e contribuem com o desenvolvimento econômico. Elas atraem o turista que vem a negócios a vir também para o lazer, e ele acaba recomendando o Espírito Santo a outras pessoas”, diz Alexandre.

Mas é unânime que é preciso avançar mais, em todos os aspectos. Os municípios têm o importante papel de contribuir com a implementação do modelo de gestão descentralizada e compartilhada, assegurando a estruturação da oferta turística e captando e ampliando cada vez mais a dimensão econômica do turismo no Espírito Santo.

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