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terça-feira, 23 abril, 2024

A reação dos mercados e de brasileiros frente à vitória de Trump

A vitória do republicano afetou mercados de ações pelo mundo e amedrontou estrangeiros. Mas há imigrantes que defendem o discurso do novo presidente. 

Ao contrário do que foi projetado por quase a totalidade das pesquisas eleitorais norte-americanas, apontando vantagem da democrata Hillary Clinton, 69 anos, o republicano Donald Trump, 70 anos, se tornou o 45º presidente dos Estados Unidos. A surpreendente vitória foi anunciada pela agência Associated Press (AP) às 5h32 (hora de Brasília) desta quarta-feira (9), quando Trump alcançou 276 delegados, ultrapassando o limite de 270 necessários para ser o vencedor no Colégio Eleitoral. 

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Em seu primeiro discurso já eleito, Trump discursou em prol da união do país ao afirmar que será presidente para “todos os americanos” que, segundo ele, “terão a oportunidade de perceber seu potencial” e também afirmou que os planos dos Estados Unidos serão refeitos. “Os homens e mulheres esquecidos de nosso país não serão mais esquecidos … Vamos sonhar com coisas para nosso país, coisas bonitas e de sucesso novamente.”, afirmou.

Apesar da avaliação pessimista divulgada pela agência de notícias Reuters na véspera da eleição,com bases em especialistas do mercado, de que a vitória do republicano traria prejuízos para o comércio exterior e redução do crescimento econômico, o presidente Michel Temer, em entrevista à rádio Itatiaia na manhã desta quarta-feira, afirmou que a eleição de Donald Trump não muda nada na relação entre Brasil e Estados Unidos. “Tenho dito com muita frequência que a relação do Brasil com os Estados Unidos, assim como com os demais países, é uma relação institucional. Ou seja, de estado para estado […] Tenho certeza que lá as coisas irão muito bem. Estou contando cumprimentar o presidente pela eleição e não muda nada na relação Brasil e Estados Unidos”, afirmou o presidente.

De acordo com a assessoria do Palácio do Planalto, o presidente considerou equilibrado o tom do primeiro discurso de Trump após o resultado.
No final da manhã desta quarta, o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmo que, não há grande surpresa no resultado da eleição do candidato republicano. “Teremos que aprender a conviver com novos tempos em política”, ressaltou. Padilha também reiterou a avaliação de Temer quanto a não ocorrência de mudança substanciais na relação entre Brasil e Estados Unidos. “A presidência da República nos Estados Unidos nem sempre consegue dar todo o rumo que gostaria. Vide as iniciativas do presidente Obama, muito bem avaliado, e que acabaram fazendo com que ele não conseguisse implantar”, enfatizou o ministro.

A mesma avaliação foi feita pelo presidente da Federação Nacional das Agências Marítimas, Waldemar Rocha Júnior. “Os Estados Unidos são um país com instituições sólidas. Tradicionalmente os republicanos costumam ter viés mais protecionista, mas não acredito em algum impacto imediato nas relações comerciais com o Brasil que possa afetar nossa pauta de comércio exterior”, apontou Rocha Júnior.

Para o governador Paulo Hartung, o resultado da eleição americana é surpreendente, assim como foi a consulta realizada para saída do Reino Unido da União Europeia e alguns outros episódios no cenário internacional. “As ideias defendidas pelo candidato, se colocadas em prática, irão gerar turbulência em um mundo que precisa de estabilidade para crescer. A esperança que temos está nas instituições americanas que, particularmente, são mais sólidas e fortes que a presidência”, declarou em nota. 

Segundo Hartung, o  resultado da eleição demonstra que as mudanças tecnológicas não foram acompanhadas pelas instituições políticas que estão defasadas. Esses episódios devem ser levados em consideração para serem realizadas as mudanças políticas necessárias para fortalecimento da democracia.

Hillary

Mesmo antes de sair a projeção da vitória de Trump, o chefe da campanha de Hillary, John Podesta, afirmou que ela não discursaria mais em público naquela noite, quebrando a tradição de reconhecer a vitória do adversário. A democrata preferiu ligar para o rival após anúncio da AP e admitir a derrota.

Mas horas depois ela se pronunciou. “Eu sei o quão desapontados vocês se sentem. É doloroso e vai ser por muito tempo. Nós vimos que a nossa nação está mais dividida do que pensávamos”, afirmou em um hotel de Nova York. Nitidamente emocionada e bastante aplaudida, Hillary desejou sucesso a Trump. “Na noite passada eu cumprimentei Donald Trump e me ofereci para trabalhar com ele em nome do nosso país. Espero que ele seja um presidente de sucesso para todos os norte-americanos”, declarou, segundo a Reuters.

Obama

E seu pronunciamento na tarde desta quarta-feira, o presidente Barack Obama, que participou ativamente da campanha de Hillary Clinton, fazendo discursos e mesmo criticando a atuação do FBI na investigação dos e-mails da candidata, afirmou que instruiu sua equipe a garantir uma transição de sucesso para Trump.

O presidente disse que o país precisa agora de um senso de “unidade, inclusão e respeito pelas instituições”. “Somos todos americanos primeiro, patriotas primeiro. Todos queremos o que é melhor para o país”, afirmou Obama, que também pediu aos jovens americanos que se mantenham encorajados e não se tornem cínicos. Elogiou Hillary e disse que “não poderia estar mais orgulhoso dela”. Disse ainda que sua candidatura foi “histórica” e “deixa uma mensagem às nossas filhas”.

Ele afirmou ainda que “não é segredo” que ele e Trump têm diferenças significativas, mas que o felicitou e o convidou para uma reunião na Casa Branca. O presidente falou sobre suas realizações no cargo e afirmou que sua equipe deixou um país melhor e mais forte do que oito anos atrás.

Reações

Enquanto o resultado da eleição nos Estados Unidos era bastante comemorado por seus simpatizantes, o impacto no mercado de ações pelo mundo foi negativo. Mas ainda maior era a insegurança dos estrangeiros que vivem nos Estados Unidos, ao menos os que estão no país de forma irregular e mesmo de norte-americanos preocupados com o que chama de discurso racista, machista e elitista de Trump. 

A reação dos mercados e de brasileiros frente à vitória de Trump

Adilson Vieira saiu de Vila Velha em 1999 e desde então mora em Visconsin, desde 1999, atuando como profissional autônomo, instalando cozinhas de granito. Em 2011, consegui o green card, por meio de um processo de mão-de-obra especializada. “As expectativas não são as melhores. Para quem está Ilegal vai ficar pior. Temos de aguardar, mas creio que vá piorar”, afirma.

“Aqui em Nova Iorque todos com medo do que vai acontecer. Posso dizer que tanto negros, quanto a comunidade LGBT, os imigrantes, e mesmo os brancos, estão bem assustados com a possibilidade de aumentar os ataques terroristas. A maioria está bastante chocada, porque Trump não foi o mais votado pelas pessoas”, relata Laís Duarte que mora em Manhattan (NY) há quatro meses, mas divide apartamento com outros brasileiros que já estão na América há mais de 15 anos.

Em relação aos estrangeiros, segundo ela, a maior indignação é com a mudança de postura de brasileiros e hispanos que hoje defendem o discurso de Trump, mas chegaram como imigrantes ilegais. “Agora que conseguiram o green card, passam a se considerar americanos brancos, falando mal de imigrante. Ontem vi uma brasileira que mora aqui há muitos anos postando chorem clintonmaniacs. A mulher veio como turista, ficou se escondendo da imigração um tempão, ai casou e conseguiu papel, falando isso?”, protesta Laís.

A norte-americana Joanah Boderó, que trabalha no Mount Sinai Medical Center da Flórida, ministra aulas de capoeira e convive com mutos brasileiros e estrangeiros de outros países, se diz assustada. “Estamos muito tristes. Sem acreditar nessa vitória. Acho que agora vamos para  no Brasil”, declarou.  

Por outro lado, morando nos Estados Unidos há quase duas décadas, o capixaba Gil Ferreira defenda as razões de Trump para apresentar um discurso “protecionista”. “Alguém tem de fazer a América a voltar a crescer, o que não acontece desde 2007. Este ano, por exemplo, esse percentual será de 1.4%. O segundo ponto é fazer com que o próprio povo americano tenha condição de viver com melhor qualidade, como acontecia antes. O Trump, apesar de ter falado aquele monte de besteira, não é um ditador. Aquilo foi polêmica eleitoral, agora o discurso já mudou. Ele quer trazer as empresas de volta pros Estados Unidos, porque nos últimos quatro anos elas foram a galope pra China”, argumentou. 

Em relação às polêmicas declarações de Trump acerca dos imigrantes, Gil defende que a preocupação do novo presidente é com quem está entrando no país e o quanto se tem gasto. “Além de hoje não se ter controle com quem entra, o que fez aumentar muito a criminalidade, os gastos com excesso de benefícios, e aqui incluindo até mesmo os norte-americanos que recebem seguro desemprego por até dois anos, o que está fazendo explodir a dívida interna norte-americana, hoje em 17 trilhões de dólares. Tá faltando emprego para os americanos”, afirma Gil Ferreira.

Outro brasileiro que mora nos Estados Unidos e defende as razões de Trump é Eduardo Kill. Em sua página no Facebook escreveu: “Meus amigos brasileiros. A vcs que temem o Trump, podem ter certeza que os USA acordaram assim como o Brasil acordou contra a corrupção. Sei que não estão recebendo as informações corretas pelos jornais, mas pode acreditar, ontem vencemos uma batalha contra a corrupção Americana e Mundial. O Trump não é um ditador, ele é um Americano tão patriota que resolveu se levantar contra a corrupção que está destruindo os USA. Continue se informando. A verdade venceu mais uma vez”.  

Economia  

A bolsa de valores de Tóquio perdeu mais de 5% e, na Europa, os principais índices abriram o dia em forte queda. E as baixas se estenderam à Itália, com o índice seletivo da Bolsa de Valores de Milão (FTSE MIB) registrando queda 1,58%, por volta das 8 horas (Brasília). Nesse mesmo horário, o índice geral da Bolsa de Valores de Londres (FTSE-100), tinha queda de 0,07%, mas duas horas antes o Financial Times abriu baixa de 2,12%. 

A reação dos mercados e de brasileiros frente à vitória de TrumpBolsa de Valores do Japão. Toru Hanai/Reuters

Na Bolsa de Valores de Frankfurt (Alemanha), o DAX abriu em queda de mais de 4% e chegou a – 0,67% às 8 horas. Enquanto o CAC-40 (Paris) caía mais de 2,86% na abertura da bolsa e 1,01% as 8 horas. Em Portugal, a Bolsa de Lisboa perdia 3% no início dos negócios, mas reduzia as perdas para 1,95% perto das 8h. Em Madri, o índice Ibex-35 registrava baixa de 1,52%. Uma das únicas exceções foram as ações na Rússia, que operam em alta nesta quarta.

O peso enfraqueceu mais de 13% no after-market do México, ultrapassando a barreira dos 20 pesos por dólar, maior queda desde a Crise da Tequila, em 1994, segundo a Reuters. As ameaças de Trump de acabar com um acordo de livre comércio com o México e taxar o dinheiro enviado pelos imigrantes para pagar pela construção de um muro na fronteira entre os países tornaram o peso particularmente reativo aos acontecimentos na disputa pela Casa Branca, destaca a Reuters.

O petróleo Brent recuava ao patamar de US$ 45 por barril na manhã desta quarta em reação ao resultado das eleições dos EUA. Já o petróleo dos Estados Unidos chegou à casa dos US$ 44 por barril.

O índice global de referência, Brent, teve queda de quase 4%, na mínima desde agosto no comércio asiático, embora posteriormente tenha recuperado parte de suas perdas, segundo a Reuters.

Imagens: Robyn Beck / AFP 

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