As soluções arquitetônicas são pensadas não apenas para a estética, mas para promover a sustentabilidade, o bem-estar e a inclusão de todos os cidadãos
Por Letícia Deps
A experiência de estar em Copenhagen, capital mundial da arquitetura entre 2024 e 2026, tem sido transformadora. Fui convidada pela ANFA, San Diego, para compartilhar o trabalho que desenvolvemos no Brasil na área de acessibilidade e inclusão.
A cidade, um verdadeiro exemplo de urbanismo sustentável, é um testemunho vivo de como o investimento contínuo em pesquisa e inovação pode transformar o espaço urbano. As soluções arquitetônicas aqui são pensadas não apenas para a estética, mas para promover a sustentabilidade, o bem-estar e a inclusão de todos os cidadãos.
O que mais impressiona em Copenhagen é o uso de tecnologias avançadas para resolver problemas complexos. Equipamentos de EEG combinados com óculos 3D são usados para mapear crises sensoriais em indivíduos neuroatípicos, uma inovação que tem o potencial de transformar vidas.
Além disso, a cidade é líder em gestão de resíduos e design sustentável, mostrando como o aproveitamento eficiente dos recursos e o descarte responsável podem ser integrados ao planejamento urbano. A dedicação à pesquisa e ao desenvolvimento é evidente em cada aspecto da vida urbana, refletindo um compromisso com o futuro que serve de inspiração global.
Para o Brasil, a lição é clara: investir em pesquisa e inovação não é apenas uma necessidade, mas uma urgência. Precisamos mudar a mentalidade dos nossos governantes para que enxerguem a pesquisa não como um custo, mas como um investimento essencial para o desenvolvimento sustentável e inclusivo do país.
O progresso observado em Copenhagen é um exemplo vivo de que, com visão e compromisso, podemos alcançar um futuro mais justo e sustentável para todos. Implementar políticas que incentivem a inovação, apoiar pesquisadores e criar um ambiente propício para o desenvolvimento tecnológico são passos fundamentais para que possamos, também, nos tornar uma referência mundial em acessibilidade, sustentabilidade e inovação.
Além disso, é crucial que o Brasil avance em políticas públicas que garantam a acessibilidade universal. A legislação brasileira, como a Lei Brasileira de Inclusão, já é um importante passo, mas ainda há muito a ser feito. A implementação efetiva dessas leis em todos os níveis de governo é fundamental para assegurar que pessoas com deficiência tenham acesso a todos os espaços públicos, serviços e oportunidades de trabalho. A colaboração entre setores público e privado pode resultar em soluções criativas que integrem a acessibilidade desde o início de projetos urbanos.
A formação de profissionais capacitados em acessibilidade também é vital. É preciso promover cursos e treinamentos que abordem não só a legislação, mas as melhores práticas e tecnologias disponíveis para criar ambientes acessíveis. Essa formação deve ser ampliada nas universidades e em escolas técnicas, preparando as novas gerações para compreender a importância de projetar pensando na diversidade de necessidades.
Ademais, as cidades brasileiras precisam se inspirar no exemplo de Copenhagen ao incorporar tecnologias assistivas e soluções inovadoras em seus planejamentos urbanos. Isso envolve não apenas o uso de tecnologias de ponta, mas também a participação ativa das comunidades na elaboração de políticas que as afetem diretamente. O empoderamento da população com deficiência é essencial para garantir que suas vozes sejam ouvidas e que suas necessidades sejam atendidas.
Investir em acessibilidade é um investimento em dignidade e cidadania. Quando todos têm acesso igualitário aos espaços e serviços, a sociedade se torna mais coesa e justa. A experiência de Copenhagen nos mostra que um compromisso real com a inclusão e a sustentabilidade pode criar um legado duradouro, e o Brasil tem o potencial de trilhar esse caminho, transformando seus desafios em oportunidades de inovação e inclusão para todos.
Letícia Deps é neuroarquiteta – membro da Academia Norte Americana de Neurocîência aplicada a Arquitetura- ANFA nos capítulos San Diego-EUA e Brasil.