Felicidade no trabalho não é sobre estar alegre o tempo todo, mas sobre sentir que existe sentido no que se faz
Por Nathalia Siqueira
A felicidade no trabalho é um conceito que, durante anos, foi explorado de forma superficial e recheado de clichês. Entre frases motivacionais e discursos, às vezes ele parece ter se tornado mais uma “tendência” do que uma necessidade real.
No entanto, em um mundo onde o trabalho ocupa uma porção significativa da nossa vida, é inevitável se perguntar: é possível ser feliz no trabalho? Será que é realista pensar em felicidade no ambiente corporativo?
Para muitos, o trabalho sempre foi associado ao esforço e à disciplina, enquanto a felicidade seria algo reservado para o “tempo livre”. A sociedade construiu narrativas de que trabalhar é uma obrigação que exige sacrifício e resiliência, o que reforça a ideia de que felicidade e trabalho são antagonistas.
Há um paradoxo evidente quando se trata de trabalhar e ser feliz. Existe uma falsa dicotomia entre “foco no resultado” e “foco na pessoa”, como se ambos fossem incompatíveis.
É comum ouvir falar sobre felicidade no trabalho ser “frescura”. Essa visão, porém, está enraizada em uma cultura de negação das emoções no ambiente corporativo. Historicamente, o local de trabalho foi visto como espaço de “razão”, onde emoções eram tratadas como sinais de fraqueza.
Porém, ignorar a importância das emoções é um erro. Felicidade no trabalho não é sobre estar alegre o tempo todo, mas sobre sentir que existe sentido no que se faz, ser respeitado, ter autonomia e ter a oportunidade de evoluir. Felicidade no trabalho é muito mais do que “descompressão” ou “happy hour”.
Um colaborador infeliz pode até cumprir suas tarefas, mas dificilmente irá se engajar, inovar e estar alinhado aos objetivos da empresa. Se esperamos alta performance, precisamos de pessoas que estejam com equilíbrio emocional e que vejam valor no que estão fazendo.


Neste contexto, surge uma questão fundamental: a responsabilidade pela felicidade no trabalho é da empresa ou do colaborador? A resposta mais sensata é que é de ambos.
A empresa precisa criar condições favoráveis — cultura de respeito, de cuidados com a saúde e de autonomia — enquanto o colaborador precisa fazer sua parte, se conhecendo melhor, se posicionando e fazendo escolhas coerentes com seus valores.
Felicidade no trabalho não é uma utopia. Tampouco é “frescura”. É um tema crítico que deve ser tratado de forma séria e estruturada. É sobre trabalhar em algo que faz sentido, com autonomia e equilíbrio. Trabalhar e ser feliz ao mesmo tempo é um desafio, mas é possível. Para alcançar resultados sustentáveis, é preciso olhar para as pessoas como seres integrais, que têm emoções, expectativas e sonhos.
Nathalia Siqueira é administradora, especialista em gestão de pessoas e diretora da ABRH-ES.