Um dos principais pratos típicos capixabas, que é herança portuguesa e indígena, cai no gosto de todos que a provam
A Semana Santa é uma período em que os cristãos não comem carne vermelha e dão lugar a outros pratos, como a Torta Capixaba que se tornou uma das principais iguarias do Espírito Santo.
Além de levar a identidade do Estado, é um prato que faz sucesso em qualquer restaurante do país. E é importante lembrar que esta receita atravessa gerações e hoje é difícil encontrar um capixaba que não goste dela.
A Torta Capixaba é tradicional no período da Páscoa, sendo bastante consumida no período da Quaresma pelos cristãos. Alguns registros revelam que o prato era servido sempre às 20 horas da Sexta-feira Santa, mas hoje o prato pode ser servido no almoço, no jantar, e há quem a guarde na geladeira para comer no dia seguinte.
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A origem
De acordo com o escritor e jornalista Cacau Monjardim, “ela começou, inclusive, no nosso litoral. Porque devido à grande fartura de peixes, à qualidade do litoral piscoso do nosso país, a gente tinha acesso a isso. Com a influência religiosa que impedia e sugeria que fosse mantido um jejum de carne durante a Quaresma, a torta foi nascendo, ao lado da nossa tradicional moqueca. Ela é uma espécie de pão do mar”.
Segundo registros históricos somente por volta do século XIX, a torta como conhecemos começou a tomar forma. Os portugueses já tinham o hábito de comer frutos do mar e por causa da grande influência da igreja católica, o hábito de não comer carne na Semana Santa era seguido à risca.
Nessa época, os portugueses tiveram a ideia de acrescentar na panela de barro o marisco e o bacalhau na mistura feita pelos índios. “É um prato completamente capixaba, porque, além de conter os ingredientes nativos, a torta deve ser preparada na famosa panela de barro de Goiabeiras, na capital do Estado”, contou Cacau Monjardim.
Vale destacar que a iguaria era tão presente na história do Espírito Santo que até Pero Vaz de Caminha comentou nas cartas sobre o hábito dos índios de comerem uma mistura de frutos do mar com palmito.
E o bacalhau?
Cacau Monjardim informou que a tradicional e verdadeira torta capixaba não leva bacalhau. Para ele, essa é uma questão que gera discussão e polêmica. “A receita criada pela senhora Dona Otília Goulart Grijó, que já produz as tortas em Vitória há mais de 80 anos, não leva bacalhau. Além disso, a tradição não admite a adição de bacalhau na receita. Mas essa é uma questão de gosto, atualmente. O bacalhau não estraga o prato”, destaca.
Panela de barro
As panelas de barro são os recipientes mais tradicionais em que são feitas as tortas capixabas. A fabricação artesanal das panelas de barro é ofício das paneleiras de Goiabeiras, constituindo um saber passado por gerações há mais de 400 anos.
A técnica utilizada é de origem indígena, caracterizada por modelagem manual, queima a céu aberto e aplicação da tintura de tanino. Esse saber foi apropriado dos índios, por colonos e descendentes de escravos que vieram ocupar a margem do manguezal.
O ofício das paneleiras foi reconhecido como Patrimônio Cultural Brasileiro, registrado em 2000, no Livro dos Saberes, do Instituto do Patrimônio Artístico Nacional (Iphan).