Com a modernização e automação das operações portuárias, cresce a demanda por trabalhadores qualificados
Por Ludmila Azevedo
Os portos brasileiros passam por uma transformação profunda, e o Espírito Santo não foge à regra. A importação e exportação de produtos ganha cada vez mais importância e espaço no Produto Interno Bruto (PIB), aquecendo o setor e demandando mais profissionais.
“O futuro demanda investimento em modernização, tecnologia de ponta para os terminais portuários e sistemas para armazenamento de informações. Existem hoje novos programas de gestão de armazenagem, de estocagem, sistemas de gestão de transporte, de logística.
Tudo isso vai reduzir burocracias e tornar esse processo de movimentação de cargas mais ágil no Espírito Santo e no Brasil. A gente está na era da tecnologia, então temos que utilizar essas ferramentas do século XXI para dinamizar esse processo”, analisou o diretor-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Pablo Lira.
No centro dessa mudança, a capacitação profissional se sobressai como peça-chave para garantir competitividade e eficiência ao setor. Segundo especialistas, a demanda por operadores de equipamentos portuários, técnicos em elétrica e mecânica, além de profissionais de logística e tecnologia da informação, tem crescido exponencialmente. O diretor-presidente da Fundação Centro de Excelência Portuária de Santos (CENEP), Caio Teissieri, ressalta que hoje em dia há maior oferta de cursos, tornando esses profissionais, seja a nível técnico ou superior, altamente capacitados e preparados para lidar com a crescente automação e digitalização das operações.

“A busca por softwares de organização e análise de dados tem crescido significativamente no setor, principalmente nas ocupações de analistas e líderes”, comentou o diretor-presidente da Fundação CENEP.
A instituição, que é credenciada pela Marinha do Brasil, oferece cursos e treinamentos especializados, com certificação, nas modalidades on-line, presencial e semipresencial, além da prática na operação de equipamentos portuários. Apesar desse aumento da demanda por especialistas em tecnologia, que ainda estão escassos no mercado de trabalho, os cargos de operação ainda são bastante visados e não perderam seu lugar, de acordo com o Teissieri.
“Atualmente, as ocupações que mais demandam mão de obra são as relacionadas à estiva e capatazia, com destaque para operadores de empilhadeiras e guindastes. Essa alta demanda resultou em processos seletivos para essas categorias ao longo de 2024 e deste ano. Além disso, há uma crescente necessidade de técnicos em elétrica e mecânica, que são fundamentais para a operação nos terminais portuários. Essas formações são mais curtas, mais práticas, requerem menor investimento e são sempre solicitadas no mercado.
Há ainda grande demanda por cursos voltados à segurança do trabalho, especialmente aqueles relacionados à Norma Regulamentadora nº 29 (Saúde e Segurança no Trabalho Portuário) e à Norma Regulamentadora nº 35 (Trabalho em Altura).”
De acordo com José Roberto Barbosa, presidente do Grupo Petrocity, apesar dos avanços tecnológicos e automação dos terminais, não deixa de haver demanda para funções que requerem menor capacitação. “É mais vantajoso para a empresa investir na mão de obra que automatizar todos os processos. A nossa prioridade no mercado ainda é a força humana. A tecnologia às vezes acaba sendo a solução para a falta de profissionais. Tem havido dificuldade para manter essa mão de obra para além da fase de construção dos empreendimentos – antes da operação, acabamos perdendo esses trabalhadores”, comentou.

A empresa está licenciando o Terminal de Uso Privativo de Urussuquara, em São Mateus. Além do terminal, um complexo ferroviário e uma usina termoelétrica estão entre os investimentos da empresa no Espírito Santo. A ideia inicial é buscar mão de obra em São Mateus e nos municípios vizinhos de Linhares e Jaguaré.
“Ainda assim, prevemos que haverá dificuldade e estamos em contato com os centros de ensino locais para preparar esses profissionais. Hoje empregamos pessoas para trabalhar nas obras, na área da construção civil mesmo e, nos próximos anos, quando estivermos em operação, a demanda para operadores de cargas, capatazia, técnicos para manuseio e transporte do gás na usina termoelétrica, profissionais para atuar na unidade hoteleira que será instalada no complexo portuário e para os refeitórios, suboficiais para a unidade da Marinha do Brasil que teremos no local, entre outros serviços”.


Porto de Vitória e Findes investem R$ 34 mi em capacitação
No Espírito Santo, o programa Senai Porto promete atender à necessidade de capacitação de mão de obra a partir do segundo semestre deste ano, com uma estrutura inédita dentro de uma área portuária. O espaço, que será instalado no Armazém 3 do Porto de Vitória, contará com investimento de R$ 34,2 milhões e capacidade para comportar até 1.800 alunos por dia.
Para o presidente em exercício da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Paulo Baraona, a integração entre ensino profissionalizante e setor portuário é fundamental para o desenvolvimento econômico do estado. “Nosso compromisso é investir em capacitação estratégica, conectada às demandas do mercado, para fortalecer a economia e consolidar o Espírito Santo como referência em formação de talentos”, destacou.
O Senai Porto oferecerá cursos em áreas como logística, tecnologia da informação e economia do mar, além de especializações. Para Roberto Campos de Lima, diretor-geral da Findes, a unidade será um divisor de águas. “Ao oferecer capacitação alinhada à inovação e ao avanço tecnológico, estaremos impulsionando a competitividade do setor portuário e contribuindo para o desenvolvimento sustentável do Estado”, afirmou.
*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 226, especial de Portos, que circula em abril de 2025. Leia a edição aqui