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sexta-feira, 19 abril, 2024

Sorte no amor… E nos negócios também

Sorte no amor... E nos negócios tambémÉ bastante antiga a iniciativa de parentes que resolvem se unir para administrar o mesmo negócio. Tão antiga, aliás, que o criador da empresa familiar no mundo é considerado Adão. O autor do livro “Séculos de Sucesso: Lições dos Negócios Familiares do Mundo de Maior Duração”, William O´Hara, destaca Adão como o inventor desse tipo de associação familiar, ja que era lavrador e administrava o campo com o auxílio dos filhos Caim e Abel, que desenvolviam a agricultura e a pecuária, respectivamente.

Outro exemplo longínguo dessa prática é da empresa japonesa KongōGumi, fundada em 578, especializada em construção e restauração de templos. Durante 1.400 anos, a companhia operou como empresa familiar através de 40 gerações. Mas, em 2006, a corporação enfrentou dificuldades financeiras e foi comprada por outro grupo, deixando, assim, de ser familiar.

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No Brasil, a história das empresas familiares é vasta, talvez tão longa quanto a própria história do País, já que seu início foi marcado pelas empresas rurais adquiridas por doação dos senhores feudais, em uma época em que se subdividiam as capitanias hereditárias, antes do nascimento da indústria. Mas foi a partir do Governo de Juscelino Kubitschek que o País teve um notável desenvolvimento econômico, com um boom da economia na década de 50.

A princípio, o que mais se evidencia em uma empresa familiar é quem a coordena. No entanto, independente do modelo de gestão, a empresa deve ser sempre tratada como negócio, e não como família. “Não importa se é formada por sócios que não são parentes entre si ou até mesmo entre irmãos, tios, primos, pai e filho, marido e esposa. No horário de trabalho, o familiar é um profissional, e não parente”, averigua o consultor de empresas e autor do livro “Passando o Bastão: Sucessão familiar nas Pequenas e Médias Empresas”, André Gomyde.

Em sua maioria, grande parte das associações formadas por parentes são organizadas por cônjuges, que desejam construir juntos a sua marca no mercado. Contudo, é preciso que ambos tenham regras muito claras de convivência e tenham conhecimento de que uma administração familiar sólida precisa estar sempre se inovando, buscando novos conhecimentos e, principalmente, repassando o funcionamento da gestão aos seus futuros sucessores.

Nesse quesito, o casal Sebastião e Delva de Almeida, responsáveis pela Construtora Morar, não deixam a desejar. Formados pela mesma turma de Engenharia Civil da Ufes, antes de montar o negócio próprio em solo capixaba, o casal passou 13 anos buscando o aperfeiçoamento em outros empreendimentos de Brasília e Belo Horizonte.

Com ampla experiência e dedicação ao longo desses 30 anos de empresa própria, os fundadores da Construtora Morar já treinam seus três filhos para encaminhá-los à sucessão. “Somos parceiros em tudo e conseguimos entender e aceitar com facilidade as necessidades um do outro”, resume Delva.

Profissionalismo na gestão
Uma pesquisa realizada pelo Sebrae indicou que o Brasil tem entre 6 a 8 milhões de empresas, sendo que 90% delas são empresas familiares. Atualmente, a Junta Comercial divulgou que o Espírito Santo entra nesse ranking com 173.425 empresas cadastradas. E a presença feminina, sem dúvida, contribuiu muito para que o país alcançasse esse número de empreendimentos.

É notório que desde o século XX as mulheres procuram se inserir no mercado de trabalho, construir uma carreira sólida e acabar com os aspectos culturais e sociais que reforçam o estereótipo masculino como líderes corporativos. Dessa maneira, torna-se crescente o número de cônjuges que passam a dividir o comando dos negócios, muitos deles, até mesmo, encabeçados pelo “sexo frágil” da relação.

A empresa capixaba de realização de eventos Milanez&Milaneze é prova disso. O casal Ilson e Cecília Milanez só passou a compartilhar o mesmo espaço de trabalho depois que Cecília promoveu, com sucesso, a primeira edição da Feira Internacional do Mármore e Granito. Hoje, o esposo ocupa a área financeira e operacional do empreendimento, enquanto Cecília fica com o planejamento, o comercial e o marketing.

“A nossa dica é de que nunca deve haver disputas pessoais ou competição entre o casal. Se os problemas existem, as vantagens compensam. Para isso, é indispensável a confiança nos parceiros de trabalho”, pontua Ilson.

A principal dificuldade que geralmente os cônjuges enfrentam na empresa é a falta de disciplina administrativa e determinação clara de metas, responsabilidades e objetivos. As possíveis rivalidades pessoais e o excesso de comunicações informais podem gerar conflitos de relacionamento entre departamentos, o que também dificulta o processo de gestão.

Dessa forma, é fundamental ter consciência de que o casal e a empresa são entes com personalidades distintas, e que os sócios e familiares devem ser comprometidos com a continuidade da empresa. Os interesses pessoais ficam em segundo plano e as diferenças pessoais devem ser respeitadas e até mesmo valorizadas.

Os integrantes que estão à frente do negócio devem sempre buscar habilidades e competências para cada cargo. Por isso, é imprescindível a preparação profissional dos fundadores, herdeiros e possíveis sucessores. “É importante que cada um tenha vivência em todos os setores da empresa que a família comanda, se conscientizem de seu papel ideal e que desenvolvam um trabalho de união do grupo em prol da continuidade da organização”, analisa o consultor e autor do livro “Empresa Familiar”, José Carlos Ferreira.

Amor em parceria
No âmbito familiar, são poucos os casais que se arriscam a estender seus relacionamentos para a vida profissional. Alguns temem que a família não tenha mais as duas fontes de renda, que haja um desgaste na relação ou, até mesmo, que percam um pouco da sua privacidade por ter que dividir, além de tudo, a vida profissional.

No entanto, aqueles que ousam têm encontrado no companheiro benefícios que vão além do afeto. Quando a dupla detecta afinidade profissional e nota que se complementam e gostam de atuar juntos, eles se tornam parceiros indestrutíveis. Algumas pessoas têm dificuldade de se lançarem sozinhas em um empreendimento e precisam de uma companhia. Em qualquer circunstância, os “sócios” precisam se dar muito bem, confiar plenamente um no outro, possuir estilo de vida, família, gostos e preferências parecidas. E essas são características imprescindíveis em um relacionamento empresarial entre homem e mulher.

Na esfera judicial, a Lei n. 10.406, de 10 de fevereiro de 2002 do Código Civil Brasileiro, determina que o único impedimento para serem sócios é quando os cônjuges são casados em regime de comunhão universal de bens ou de separação obrigatória. Portanto, isso não impede que casais unidos por outro regime possam compartilhar a sociedade do mesmo empreendimento.

Mas, nem sempre, os cônjuges são audaciosos a ponto de instituir sua parceria sem antes passar por uma experiência trabalhando juntos em outro negócio. O casal Volmer e Claudia Sathler, soube conduzir dessa maneira a criação da loja de artigos para bebê Sathler Baby. Quando solteiros, eles trabalhavam com os pais, que sempre foram comerciantes. Depois de dois anos de casamento, surgiu a oportunidade de abrir uma loja com um familiar e, só depois de seis anos de sociedade com a família, eles resolveram abrir um empreendimento próprio.

Os grandes desafios do casal foram de ajustar as personalidades, gêneros, criação, ter o mesmo objetivo e, principalmente, de serem imparciais. “Sempre falamos que a sociedade é igual a casamento: todos os dias temos que ceder um pouco para não ter conflitos. O respeito e o espaço de cada um tem que fazer parte do nosso cotidiano”, resume Claudia.

Dupla jornada
Segundo uma pesquisa divulgada pelo International Stress Management do Brasil, casais que trabalham juntos entendem melhor as angústias e a carga horária do parceiro. A produtividade também é elevada. Em geral, eles ficam cerca de 12 horas diárias no emprego, enquanto a média nacional é de 9 horas.

No entanto, o desafio de encarar os negócios com o cônjuge pode resultar em monotonia devido à rotina diária, que pode ocasionar a ausência da conquista, sedução e perda do interesse de um pelo outro. Por essa razão, o casal que se submete a viver uma dupla jornada em conjunto, deve buscar manter sua individualidade com atividades separadas como, por exemplo, prática de esportes, cursos ou encontro com amigos.

Fora isso, é importante que a vida social de marido e esposa esteja sempre em dia. Reservar um tempo para namorar, viajar, ir ao cinema, praia, clube, visitar amigos deve sempre fazer parte de um relacionamento promissor. As competições devem ser deixadas de lado, até porque os sócios não são adversários.

Para o consultor André Gomyde, a melhor forma de se minimizar esses confrontos é através do diálogo e permanentes encontros em que tudo é dito de forma direta, franca e objetiva, determinando a meta de cada um. Para dizer quais medidas devem ser adotadas, André orienta que um consultor externo deve ser contratado para ser o facilitador desse processo e, estudando cada caso, sugerir medidas para solucionar conflitos do dia a dia.

Portanto, o casamento não estará fadado ao insucesso pessoal e empresarial se os cônjuges buscarem ajuda profissional de terceiros. “Uma visão de fora da organização e da família é o único meio de se ter uma mediação justa nos conflitos, porque o não envolvimento direto nas questões permite enxergar soluções que os envolvidos muitas vezes não conseguem enxergar”, corrobora Gomyde.

José Carlos Ferreira conta que o sucesso operacional é criado por vários elementos, entre eles, uma boa localização, uma boa linha de produtos oferecidos, uma total sinergia de trabalho em equipe, uma boa disposição em aceitar e abraçar as mudanças, além de, é claro, uma liderança focada. E isso os casais não podem perder de vista.

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