Somos 4 milhões de habitantes e moramos em um Estado com muitas potencialidades demográficas e econômicas.
Em uma tarde quente de março deste ano, no finalzinho do verão capixaba, o Espírito Santo atingiu a marca de 4 milhões de habitantes, em um universo de 207.226.510 brasileiros.
Somos 4 milhões. Pouco se comparado a São Paulo, com quase 45 milhões de pessoas, ou ao Rio de Janeiro, com mais de 16,5 milhões. Muito se considerarmos que, mesmo com apenas 78 municípios, um litoral com 400 quilômetros e uma imensidão de montanhas que ainda respira resquícios da Mata Atlântica, atenuando de forma tímida o calor, temos uma população maior que a do Uruguai, país com quase quatro vezes nossa extensão territorial.
Guarapari, moqueca, panela de barro e, mais recentemente, Pedra Azul talvez sejam as “riquezas” do Espírito Santo mais facilmente reconhecidas por turistas de outros estados e mesmo do exterior. Mas nosso Estado vai muito além.
O Espírito Santo e sua gente são uma mistura de ritmos, cores e amores. Artesanato, música, praia, montanhas, rios e etnias formam uma diversidade encontrada em poucas unidades da federação, tornando esse recanto do Brasil uma explosão de possibilidades.
O turismo, setor que lota as praias capixabas de gente bonita; a indústria, que reforça a economia, e a agricultura, que abre as portas do mundo, sustentam a geração de emprego e renda, colocando o Espírito Santo na linha de frente da onda de desenvolvimento que se estende pelo país.
Do alto do Convento, em Vila Velha, Nossa Senhora da Penha acolhe capixabas e visitantes durante todo o ano. Em abril, a padroeira do Estado atrai mais de 2 milhões de fiéis durante os festejos em sua homenagem, terceiro maior evento católico do país. E também é o Espírito Santo o Estado que abriga o maior percentual de evangélicos do Brasil. É da fé de toda essa gente que surge a força para tornar nosso Estado a mola propulsora de uma economia que depende não só mãos de quem produz, mas também da visão de quem planeja o futuro. O Espírito Santo é muito massa!
Para marcar esse momento histórico, preparamos uma série para ser apresentada em duas edições: este mês você confere todos os números relacionados à demografia e as peculiaridades culturais de nossa gente. Já na edição 141, iremos trazer todas as informaçoes sobre o cenário econômico do Espírito Santo e so desafios que precisam ser vencidos para tornar o Estado ainda mais forte.
O Estado tem desafios a serem superados que até podem parecer intransponíveis, mas que, por outro lado, incentivam a sua gente na busca de dias melhores.
O atual quadro de áreas sensíveis à população como a saúde, a educação, o investimento em infraestrutura, sem sombra de dúvida, mostra que é preciso ainda muito esforço da sociedade civil organizada e dos gestores públicos para que as desigualdades diminuam. Mas, com certeza, já foi pior.
Em apenas sete anos, entre 2010 e 2017, ganhamos 500 mil habitantes, um salto significativo na história do desenvolvimento populacional brasileiro. Os números apontam que é preciso mais planejamento, mais organização e mais investimentos.
Mas indicam também que as ações adotadas num passado recente estão surtindo efeito, mesmo que lento, diante das demandas sociais.
Segundo o IBGE, reduzimos a mortalidade infantil; retiramos boa parte das crianças do trabalho adulto; a criminalidade diminuiu; a mobilidade urbana está mais fluida e planejada, além de estarmos mais atentos às agressões ambientais, no ar, no mar ou por meio do famigerado desmatamento de nossa riqueza verde.
Os dados do Instituto também informam que, no Estado que fechou 2016 com 3.973.697 habitantes, um novo espírito-santense, em média, entra para nossa estatística a cada 12 minutos e 15 segundos. A estimativa é de que, ainda este ano, alcancemos a marca de 4.016.356 habitantes, sendo 2.012.925 mulheres e 2.003.431 homens.
O momento é de retomada não só do crescimento, mas também da crença de que o Espírito Santo pode mais dentro de um contexto histórico e econômico que sempre o aprisionou em suas limitações, mas que agora vê as amarras sendo rompidas de forma inevitável e sustentável.
Bem-vindo ao novo Espírito Santo. Bem-vindo ao Estado que agora conta com mais de 4 milhões de pessoas que pensam, pulsam e sentem que o nosso momento chegou.
Números e percentuais capixabas: o fenômeno urbano em evidência
Então, como se desenha nossa pirâmide etária? Qual a projeção de crescimento para as próximas décadas? Quais as variações de nosso perfil socioeconômico? Neste primeiro bloco de nossa edição especial, preparamos uma diversificada série de estatísticas que situa o Espírito Santo no cenário nacional e internacional.
Apesar de sermos uma pequena unidade da federação, com 46.095 quilômetros quadrados (km²) , ainda assim maior que o Rio de Janeiro e que alguns países como Dinamarca, Bélgica e Suíça em extensão territorial, ainda temos população maior que a de estados como Piauí, que fechou 2016 com pouco mais de 3,3 milhões de habitantes, embora tenha 5,4 vezes mais território, com 251.529 km² de área; e Tocantins, ainda maior e com pouco mais de 1,5 milhão de habitantes.
Estamos localizados no litoral da Região Sudeste, ladeados por Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, todos com população superior: 6,9 milhões, 12,4 milhões e 20,8 milhões, respectivamente.
Esse indicador que aponta a população do Espírito Santo no patamar dos 4 milhões, deriva do saldo entre os números de nascimentos, mortes, emigração e imigração, pondera o professor da Universidade Vila Velha (UVV) e coordenador de Estudos Territoriais do Instituto Jones dos Santos Neves, (IJSN), Pablo Lira.
Na avaliação do professor, mestre em Arquitetura e Urbanismo e doutorando em Geografia, é preciso investir em uma maior integração entre as políticas públicas municipais, e o processo de metropolização, que pode ser entendido como o mais avançado estágio da urbanização, é uma das perspectivas mais recentes da transição demográfica capixaba.
“O processo de metropolização não é exclusivo do Estado do Espírito Santo ou da Região Metropolitana da Grande Vitória, representa uma tendência nacional.
É preciso integrar ainda mais com as políticas públicas e implementar ações que qualifiquem as infraestruturas para a população, principalmente aos grupos mais necessitados”, explica Pablo.
Com uma área de 46.095 km², o Estado está dividido em 78 municípios. A Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV) – formada por Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Viana, Vila Velha e Vitória – concentra o maior adensamento populacional do Estado, bem como centraliza o desenvolvimento econômico na rede de cidades capixaba. Abriga 46% de toda a população local e produz 58% da riqueza capixaba.
População X Território
Apesar da sua força na agricultura, o Espírito Santo tem apenas 15% de sua população vivendo nos campos, na zona rural. Os 85% restantes ocupam as áreas urbanas.
Por muitos anos, Vila Velha foi o município com maior densidade demográfica. Mas, desde 2013, a Serra é a cidade que concentra a maior número de moradores por km2. Segundo o IBGE, naquele ano, havia 467.318 habitantes, contra 458.489 de Vila Velha. Em 2016, conforme estimativas, a população da Serra era de 394.109 e a de Vila Velha, de 479.664. Na sequência, entre os municípios mais populosos do Estado aparecem Cariacica, com 384.621, e Vitória, com 359.555.
Os mais populosos do interior, apresentando acima de 100 mil habitantes, são Cachoeiro de Itapemirim (210.325), Linhares (166.491) e São Mateus (126.437), de acordo com estimativas do IBGE para 2016.
Em extensão territorial, os “grandalhões” capixabas são Linhares, com 3.504,14 km2, seguido de São Mateus, com 2.338,73 km2. Ecoporanga, apesar de possuir a terceira maior extensão territorial, com 2.285,37 km2, tem a menor taxa de densidade demográfica, de 10,6%, com 24.243 habitantes.
Dos 78 municípios, somente seis possuem área territorial entre 1.000 km² e 1.500 km2. São eles: Aracruz (1.423,87 km2), Colatina (1.416,80 km2) , Conceição da Barra (1.184,94 km2), Domingos Martins (1.228,35 km2), Montanha (1.098,92 km2) e Nova Venécia (1.442,16 km2).
Entre os pequeninos, apenas três com menos de 100 km2: ao sul do Estado estão Bom Jesus do Norte (88,08 km2) e Piúma ( 74,32 km2); e a capital capixaba também figura nessa lista, com 96,54 km2.
Homens x Mulheres
Em se tratando de distribuição por sexo, o número de mulheres é maior em terras capixabas. Mas, proporcionalmente, na Região Sudeste, o Espírito Santo é o Estado com a menor diferença percentual entre elas (51%) e eles (49%).
Considerando que a população local era de 3,5 milhões em 2010, na época o Estado tinha cerca de 70 mil mulheres a mais do que homens. Hoje, segundo projeção do IBGE, temos em terras capixabas 2.003.431 homens e 2.012.925 mulheres.
No que tange à etnia, 39,3% se declararam brancos; 7,2%, negros; 53,3%, pardos. Amarelos ou indígenas são 0,2%.
A expectativa de vida também é destaque no cenário nacional. Tomando como base as estatísticas de 2010 do IBGE, o Espírito Santo figurava em terceiro lugar no Brasil, com 77,5 anos, atrás de Santa Catarina e Distrito Federal, e ao lado de São Paulo. Hoje a expectativa de vida das mulheres é de 81,6 anos, e para os homens, de 74,65 anos.
Pirâmide Etária
Nos últimos 15 anos, o Brasil caminha em passos mais largos para se tornar um país de população majoritariamente idosa. Segundo dados do IBGE, em 2030, o grupo de idosos de 60 anos ou mais será maior que o de crianças com até 14 anos. Em 2055, teremos mais idosos que crianças e jovens com até 29 anos.
A tendência de envelhecimento da população brasileira, observada desde o Censo de 2002, também faz parte da realidade do Espírito Santo. Naquele ano, 38,95% das mulheres e 39,62% dos homens tinham entre 0 e 44 anos, sendo o maior percentual registrado na faixa etária entre 15 e 19 anos. Somente 4,3% da população feminina e 3,53% da masculina tinham acima de 60 anos.
Em 2017, segundo as projeções do IBGE, o percentual e mulheres até 44 anos cai para 34,35% e de homens, para 35,45%; enquanto os percentuais de pessoas acima de 60 anos sobem para 6,84% (mulheres) e 5,69% (homens).
Já em 2030, 29,58% da população feminina será de mulheres até 44 anos, e 30,7% dos homens terão essa faixa etária. Já o percentual de moradores acima de 60 anos será ampliado para 10,42% entre as mulheres e para 8,82% entre os homens.
Isso significa que, em 2017, a população do Espírito Santo acima de 60 anos será, ao final do ano, de 251.479 idosos. Mas em 2030 teremos mais que o dobro de pessoas nessa faixa etária, totalizando 431.314 idosos, 72,5% a mais que em 2017, numa população de 4.481.671 de habitantes.
Eleitores
Nos últimos oito anos, o número de eleitores cresceu 11,3%. Saímos de 2,44 capixabas aptos a decidir seus governantes, em 2008, para 2,71 milhões em 2016, sendo 53% mulheres.
Vila Velha tem o maior colégio eleitoral com, aproximadamente, 320,6 mil votantes. Em segundo lugar aparece a Serra, com 310,1 mil, depois Cariacica com 260,4 mil, e Vitória em quarto lugar, com 232,8 mil.
Divino de São Lourenço, na região sul, único município com menos de 5 mil habitantes no Estado, hoje concentra o menor número de eleitores, 3.681. O curioso é que, embora possua extensão territorial maior que seis outros municípios e a população da cidade tenha aumentado de 4.516, em 2010, para 4.688 habitantes, em 2016, o número de eleitores diminuiu em 11,48% nos últimos oito anos. Em 2018, havia 4.158 eleitores por lá. Ainda entre os menores colégios eleitorais estão Mucurici (4.851) e Dores do Rio Preto, com 5.696 habitantes aptos a votar.
Dos 78 municípios, 33 já concluíram o procedimento de cadastro biométrico, totalizando 772,4 mil eleitores.
Casamentos
Por aqui, casar continua na moda. Em 2013, embora o Espírito Santo tenha registrado queda de 0,2% no número de uniões oficializadas em relação ao ano anterior, o Estado foi o segundo nesse ranking no Brasil, com 25.023 matrimônios, o que representa uma taxa de nupcialidade de 8,5%, enquanto em 2012 foi de 8,7%.
O Estado perde apenas para Rondônia, onde a taxa de casamentos por mil pessoas foi de 10,3%.
Também em 2013, foram concedidos 324,9 mil divórcios em primeira instância e sem recursos ou por escrituras extrajudiciais.
O número representou queda de 4,9% em relação a 2012, 16.679 divórcios a menos. A maior incidência foi percebida nos casais com idade entre 40 e 44 anos para as mulheres e 45 e 49 anos para os homens.
Mortalidade Infantil
Enquanto países como Finlândia, Islândia, Japão, Noruega e Suécia apresentam índices de mortalidade infantil de três mortes a cada mil nascidos, o Espírito Santo registrou entre 2015 e 2016 um índice de 9,2 óbitos de crianças para cada mil nascidos.
Mas ainda que o índice seja três vezes maior que o do de países desenvolvidos, ele é motivo de comemoração no Estado. Isso porque somos a unidade da federação com a menor taxa de mortalidade infantil no Brasil. No Amapá, por exemplo, esse índice é de 23,7 mortes para cada mil nascidos.
A mortalidade infantil é contada do nascimento até o primeiro aniversário de vida. Antigamente, as causas das mortes eram doenças simples como diarreia e desidratação. Já nos dias de hoje, os óbitos são na maioria por doenças graves, como câncer ou acidentes, o que indica uma melhora na qualidade da assistência à criança.
Religião
De acordo com a Pesquisa Comunhão (2014), com base em projeções sobre dados do IBGE de 2010, o Espírito Santo, proporcionalmente, é o Estado com mais evangélicos do país, com mais de 1,5 milhão de pessoas, o que corresponde hoje a mais de 37,5% da população.
Na mesma proporção de crescimento dos evangélicos, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), vem caindo o número de capixabas que se denominam católicos. Em 2003, 62,77% eram dessa religião. Em 2009, o percentual caiu para 57,04%.
Outro dado que chama atenção na pesquisa da FGV é que os novos pentecostais são, em sua maioria, jovens com idades entre 16 e 25 anos que não passaram pelos bancos das igrejas católicas.
Para o pastor Marcelo Aguiar, da Primeira Igreja Batista da Mata da Praia, a aproximação do jovens reflete a mensagem e o trabalho dos evangélicos em todo o país. “Estamos mais próximos da comunidade, temos valores da família que hoje estão mais claros para os jovens. Há uma identificação e um direcionamento da vida profissional e pessoal. Por isso crescemos em número”, avalia.
Ainda de acordo com o pastor, a formação de padres católicos é bem mais longa que a de um pastor evangélico, o que multiplica o número de templos país afora.
“Um padre leva nove anos para se formar. Já um pastor leva em média quatro anos. Algumas denominações, bem menos tempo. Isso faz com que os pentecostais sejam mais presentes na rotina da comunidade”, afirma.