22.3 C
Vitória
segunda-feira, 7 DE outubro DE 2024

Singapura que se cuide!

Embora 95% dos portos brasileiros tenham sido construídos com dinheiro público, estamos chegando na era dos portos privados. No estado, temos vários projetos

Por José Ernesto Conti

Ainda que o mar sempre tenha assustado o ser humano, mais pelas tempestades do que pela imensidão, o homem vem construindo navios cada vez maiores, que carregam mais cargas de uma única vez, até que chegamos, em 1979, ao TT Seawise Giant. Como diz o nome, um gigante com 458m de comprimento total e largura de 69m, podendo transportar mais de 565.000 toneladas.

- Continua após a publicidade -

Hoje, por razões ecológicas, decidiram limitar o comprimento dos navios em até 400m.

Mesmo assim, surgiram os conhecidos VALEMAX, com impressionante capacidade de transportar até 400.000 toneladas. Sua largura é semelhante a uma quadra de tênis (65m) e seu comprimento ultrapassa 360m. Sem medo de errar, acredito que em breve teremos navios transportando até 1,0 milhão de toneladas usando energias alternativas, para a alegria dos ecologistas.

A pergunta que precisa ser respondida é: e os portos? Será que eles estão se modernizando para atender à crescente demanda de carga transportada?

Quando estava na China, na década de 1990, presenciei um movimento absurdo de se aumentar a capacidade de carga dos portos, e confesso que na época não entendia pois, primeiro, não havia tantos navios; segundo, não havia tanta carga para embarcar; terceiro (com minha mente ainda bloqueada), não havia tanta gente capaz de operar todos aqueles equipamentos.

Acreditava mesmo que os chineses estavam loucos naquela construção frenética de grandes portos de leste a sul do país.

Até que cheguei a Singapura. Com seus 726 km² e dezenas de portos, movimenta mais de 800 milhões de toneladas por ano, enquanto o Brasil, com uma costa atlântica de 7.400 km, exporta 1,4 bilhão de toneladas por ano.

É verdade, temos um gargalo portuário no país. Embora 95% dos portos brasileiros tenham sido construídos com dinheiro público, incluindo grandes complexos como Tubarão e Praia Mole no ES, estamos chegando na era dos portos privados. Aqui no estado temos vários projetos, porém o mais animador é o Porto da Imetame.

Muitos paradigmas estão sendo quebrados pela fibra de um sonhador que, como um solitário “Don Quixote de lo Puerto”, está conseguindo criar um dos maiores terminais do Brasil para movimentar, ao mesmo tempo, quatro grandes cargas: contêineres, grãos, petróleo e carga geral. Ouso dizer que todas as autoridades do nosso estado deveriam se orgulhar desse projeto, que vai inaugurar no Brasil um novo conceito portuário, só semelhante a Singapura, China e alguns portos na Europa.

Esse motivo é mais que suficiente para que todas as autoridades capixabas, a começar pelo nosso governador, passando por nossos deputados e senadores, envidem todos os esforços para que o Porto da Imetame seja um marco na atividade portuária nacional.

Para isso, é óbvio que toda uma infraestrutura de logística, que já existe, deveria ser utilizada para dar suporte às operações portuárias do norte do estado. Todo porto precisa de carga e, por razões estratégicas, a Vale reduziu em quase 40% a exportação de minério por Tubarão. Logo, há espaço na eficiente ferrovia Vitória x Minas (EFVM) para transportar, nos dois sentidos, pelo menos 40 milhões de toneladas/ano de cargas.

Quando olhamos para Singapura, uma cidade portuária, onde a renda per capita atinge US$ 65.000 e olhamos para o ES, da perspectiva dos seus mais de 20 terminais marítimos e sua projeção, para um futuro próximo, da instalação de novos e privados terminais, aliados a uma nova autoridade marítima privada (VPorts) altamente interessada no desenvolvimento portuário, podemos acreditar que a renda per capita do estado poderá subir dos atuais US$ 8.600 para mais de US$ 14.000 apenas explorando o potencial de uma costa de 400 km (o dobro de Singapura).

Consigo enxergar que o momento econômico e social pelo qual o ES está passando, aliado a fatores como as indústrias siderúrgicas, de celulose, de minérios e granito, do café, somados a uma infraestrutura de logística privilegiada da EFVM e ainda novos portos agregando cargas de grãos, minérios, siderúrgicos, petróleo etc, aponta para a garantia de que seremos, semelhante a Singapura, um dos estados mais importantes do nosso Brasil.

Singapura que se cuide!

José Ernesto Conti é engenheiro e consultor na área de portos e logística para grandes empresas exportadoras brasileiras e armadores internacionais.

Mais Artigos

RÁDIO ES BRASIL

Continua após publicidade

Fique por dentro

ECONOMIA

Vida Capixaba