Segmento responde por mais de 7% das exportações do Espírito Santo
A agenda ESG é prioridade para um dos segmentos mais relevantes à economia exportadora do Espírito Santo: o de rochas ornamentais. O estado é o líder nacional dessa atividade, que também tem peso expressivo na economia do país. Segundo o presidente do Centro Brasileiro dos Exportadores de Rochas Ornamentais (Centrorochas), Tales Machado, o setor tem feito articulações para iniciar um projeto de estudo do ciclo de vida da rocha natural, da origem até a reciclagem. O plano é medir a emissão de CO2 ao longo de todo o processo produtivo e emitir um certificado de sustentabilidade setorial.
“Estamos em busca de um EPD (Environmental Product Declaration) setorial para termos, pelo menos, uma referência para os principais produtos brasileiros, o que certamente ampliará as condições de competividade das rochas ornamentais brasileiras”, aponta o presidente do Centrorochas, lembrando que essa é uma exigência do mercado mundial quando se fala na execução de grandes projetos, “um dos pilares que o setor tem buscado atingir”.
Empresas capixabas na dianteira
O presidente do Sindicato das Indústrias de Rochas Ornamentais, Cal e Calcários do Espírito Santo (Sindirochas), Ed Martins, entende que “os conceitos ESG alcançam todos os setores da economia, certamente. Alguns de forma mais imediata e outros no espaço de algum tempo, porém, todos foram ou serão impactados. Logo, o setor de rochas ornamentais do Estado, que atende tanto o mercado nacional quanto o mercado internacional, vem em um dinâmico processo de adequação”.
Ele destaca, inclusive, que essas mudanças adaptativas começaram bem antes de tais conceitos ganharem o destaque que têm hoje. “Os consumidores estão cada vez mais escolhendo produtos e serviços de empresas que estão alinhadas com seus valores, tornando a sustentabilidade e a responsabilidade social diferenciais importantes no mercado. E isso tende a crescer”, avalia Ed Martins.
Como medida mais importante adotada para adequação ao termo, o presidente do Sindirochas destaca a conscientização sobre o tema. “A partir daí é que todo o processo de evolução e valorização de tais conceitos se desenvolve. Há um conjunto de medidas que o setor organizado de rochas ornamentais adotou e vem adotando, com base em ações capitaneadas pelas entidades representativas e por empresas que trazem em seu ‘DNA’ o gene dos conceitos trazidos pelo ESG”.
Nesse contexto, Ed Martins cita ações como a adoção do circuito fechado de água, no qual 95% da água utilizada no processo produtivo é reaproveitada; o uso de energias renováveis, quer por geração própria ou aquisição de fontes renováveis certificadas; a correta destinação ambiental dos resíduos do processo produtivo; e a busca constante para o aproveitamento deles, dentro do conceito de economia circular.
Rochativa, o braço social
Além disso, o dirigente lembra a criação, em 2007, da Rochativa, braço social do setor de rochas ornamentais, que já atendeu mais de dez mil crianças por intermédio dos seus projetos (balé, capoeira, camerata jovem, atendimentos odontológico e psicológico), bem como distribuição de cestas básicas. “Não podemos esquecer de todo o progresso registrado nas questões de qualificação profissional, segurança do trabalho e em todo o ciclo do setor, da extração à aplicação do produto”, salienta Ed Martins.
O presidente do Sindirochas ressalta ainda que o setor busca manter equilibrado o tripé ambiental, social e governança, “por meio do aprimoramento dos processos de extração e beneficiamento das rochas; da qualificação das equipes e do uso de equipamentos adequados; da profissionalização da mão-de-obra; do apoio a entidades e atividades que têm como foco a assistência e, principalmente, a promoção social; da intensificação no uso de produtos disponíveis que tenham maior aderência aos conceitos do ESG e da análise, busca e adoção de medidas que permitam o maior grau de utilização da matéria-prima extraída”.
Na avaliação de Ed Martins, “a prática dos conceitos do ESG por parte das empresas tende a ser, cada vez mais, um fator a ser levado em conta no momento da decisão de compra de produtos, e o fluxo comercial é vital para a manutenção e o desenvolvimento de qualquer empreendimento. Nossa expectativa é de que eles estarão a permear, de forma mais intensa, as análises, decisões e ações das empresas do setor”, conclui o presidente do Sindirochas.
Pequenas e médias precisam de adequar
Estimativa da Bloomberg, disponível no site do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), aponta que a agenda ESG deve atrair US$ 53 trilhões em investimentos, em 2025. Desde 2014, houve um aumento de 68% em investimentos para empresas que adotam essa prática.
De acordo com a pesquisa EY Future Consumer Index 2021, 61% dos consumidores brasileiros passaram a observar os valores praticados pelas empresas das quais pretendem comprar. Ou seja, além de uma tendência, adequar-se ao ESG passa a ser cada vez mais um pré-requisito de competitividade e sobrevivência no mercado.
Para o Sebrae, ESG é um caminho cada vez mais percorrido no mundo dos negócios. Investidores, consumidores e a sociedade de forma geral levam em consideração marcas e empresas que possuem práticas responsáveis e comprometidas com o meio ambiente, com as questões sociais e de governança, destaca a entidade.
Hoje, no entendimento do Sebrae, investir em empresas vai muito além de observar lucros e receitas, dívidas e passivos, capacidade de gestão ou qualidade de produtos e serviços. Especialistas da entidade ressaltam que, ao investir ou adquirir produtos, investidores e consumidores analisam outros fatores, como a adoção de boas práticas de sustentabilidade, governança e relações sociais.
Ao que tudo indica, na avaliação do Sebrae, esse movimento veio para ficar e tende a ampliar sua esfera de importância, inclusive para as micro e pequenas empresas, visto o grande crescimento e relevância do ESG não só junto a instituições financiadoras e consumidores, mas principalmente porque esses critérios serão mandatórios para que elas se integrem às cadeias de fornecimento de empresas maiores.
Por que uma empresa deve adotar ESG?
Para você que é empresário, independentemente do porte de seu empreendimento, e que ainda tem dúvidas sobre a importância de construir e implantar conceitos e práticas ESG no seu negócio, vale a pena atentar-se a alguns pontos destacados pelo Sebrae:
Investimentos e crédito favorecidos
Instituições financiadoras têm preferido alocar capital em organizações que já internalizaram agenda ambiental, social e de governança.
Adesão é questão de sobrevivência
Os três pilares do ESG possuem extrema importância no mercado financeiro e em instituições de investimento. Há uma direção clara para que as organizações adotem estratégias de sustentabilidade e ESG, com implicações financeiras para as empresas que não o fizerem.
Implantação reduz riscos
Empresas com boas práticas de ESG correm menos riscos de enfrentar problemas jurídicos, trabalhistas, fraudes e sofrer ações por impactos ao meio ambiente. Como estão em constante análise e acompanhamento de métricas de uma agenda ESG, as empresas se dedicam a desenvolver melhores relações com os seus colaboradores, reguladores, fornecedores e clientes. Além disso, por conta dos mecanismos de auditoria, espera-se uma redução de desvios, de suborno e de corrupção dentro das empresas.
Rentabilidade aumenta e custos diminuem
As empresas que focam em ESG têm vantagens no mercado, com a possibilidade de reduções nos custos e aumento da rentabilidade a médio e longo prazo. Isso por conta da atração e fidelização de clientes, com produtos mais sustentáveis. Práticas ambientais, como diminuição de consumo de água e energia, por exemplo, também podem causar diminuição nos custos e aumento de aporte financeiro.
Marca e transparência são valorizadas
Com as práticas ESG, há uma maior valorização da empresa e da marca junto aos consumidores e a sociedade. Da mesma forma, a governança exige maior transparência e controle das ações e práticas desempenhadas pela empresa, mostrando, na prática e regularmente, ações e resultados claros e objetivos, por meio de relatórios ESG comprometidos com o caminho que estão seguindo.
Como é possível perceber, a lista de vantagens é bastante significativa para as empresas, investidores e consumidores. No entanto, o Sebrae adverte que simples promessas de adotar práticas sustentáveis não bastam. Implantar uma jornada ESG na sua empresa exige estudo, análise, planejamento e estratégias que caibam no seu bolso, já que investimentos iniciais são necessários.
*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 215, de agosto de 2023. Leia a edição completa do Anuário Verde sobre ESG aqui.