A taxa de congestionamento atua como correção, não como proteção. Ela torna visível um custo que já existe, mas é distribuído entre todos
Por Diego Oliveira
Como resolver o problema clássico de congestionamento que afeta a Grande Vitória? Embora as ampliações viárias tenham limites físicos e orçamentários, uma alternativa pouco discutida no Brasil merece atenção: a taxa de congestionamento. Já adotada em diversas metrópoles globais, esta medida é frequentemente mal compreendida como “apenas mais um imposto”, quando, na verdade, representa uma ferramenta para uso mais racional do espaço urbano.
A dimensão do problema é alarmante. Moradores da Grande Vitória perdem cerca de duas horas diárias em engarrafamentos nas avenidas Reta da Penha, Fernando Ferrari e Dante Michelini. Esta realidade se traduz em um prejuízo impressionante: ao longo da vida profissional, um trabalhador gastará quase três anos no trânsito. Além do custo humano, existe um impacto econômico mensurável: segundo a Firjan, o tempo perdido custa à região R$ 2 bilhões por ano, aproximadamente 3,5% do PIB regional, isso em 2012, atualmente esse valor cresceu exponencialmente.
Para entender a origem do problema, precisamos considerar que as vias públicas são recursos compartilhados com capacidade limitada, sujeitos à “tragédia dos comuns” – situações específicas em que o uso individual racional leva à ineficiência coletiva. Cada veículo adicional aumenta o tempo de viagem para todos, mas este custo não é considerado na decisão individual de cada um. O congestionamento representa, portanto, uma falha de mercado em decisões individuais racionais, produzindo um resultado coletivo prejudicial.
A taxa de congestionamento atua como correção desta perda, e não como uma simples penalização. Ela torna visível um custo que já existe, mas é distribuído entre todos. Diferentemente do rodízio de São Paulo – que levou muitas famílias a comprarem um segundo veículo – a taxa não proíbe, apenas sinaliza o custo real. Quem realmente precisa usar o carro pode fazê-lo, pagando pelo impacto que causa.
A adoção da taxa de congestionamento complementa os investimentos em transporte coletivo. A eficácia da medida está diretamente ligada à destinação da receita, que deve ser vinculada exclusivamente a melhorias na mobilidade urbana. Londres impediu o tráfego central em 30% com sua “Taxa de Congestionamento” e investiu massivamente no transporte público. Não por acaso, as cidades com os melhores sistemas de transporte coletivo – Singapura, Estocolmo, Londres – também utilizam taxas de congestionamento.


Uma preocupação legítima refere-se à equidade: como evitar que a taxa prejudique desproporcionalmente pessoas de menor renda? A resposta está na destinação da receita e no desenho do sistema. Ao financiar um transporte público mais eficiente, os impostos beneficiam principalmente os mais vulneráveis. Além disso, a implementação pode prever descontos para categorias específicas, como trabalhadores de baixa renda que necessitam de carro para áreas mal atendidas por transporte coletivo.
Este debate transcende as opções de políticas; é uma necessidade prática. A população urbana cresce, a frota de veículos aumenta, mas o espaço viário permanece o mesmo. A configuração geográfica da Grande Vitória, com limitações territoriais impostas pelo relevo e pelo mar, torna o problema ainda mais crítico. Em algum momento, um mecanismo de racionalização desse recurso será decisivo.
A taxa de congestionamento propõe uma ideia contraintuitiva, mas economicamente fundamentada: às vezes, precisamos pagar um pequeno preço para economizar algo muito mais valioso – nosso tempo. Entre continuar perdendo coletivamente 2,5 anos no trânsito de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica ou implementar um sistema que possa devolver esse tempo precioso de nossas vidas, qual escolha faz mais sentido para o futuro da nossa região metropolitana?
Diego Oliveira é estudante de Ciências Econômicas da Fucape Business School