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sexta-feira, 29 março, 2024

Roleta russa na educação

escola

 

A interrupção das aulas presenciais no início de 2020 impôs novos desafios à educação em todo o mundo

Por Leonil Dias

No Brasil, particularmente, esse cenário é ainda mais complexo, pois se acumula a problemas pré-existentes na área e a um quadro de extrema desigualdade socioeconômica.

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Retomar as atividades nas escolas é, portanto, um tema sério e delicado, que exige soluções que preservem a saúde de alunos e profissionais, e reduzam o enorme vão que separa estudantes das classes sociais mais altas das mais baixas.

Recente documento publicado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), o Todos pela Educação, revela que a volta às salas de aula é uma das maiores preocupações dos especialistas, tanto do ponto de vista pedagógico quanto prático.

A publicação analisou 43 estudos sobre lugares que já passaram por situações parecidas com a atual (epidemias, guerras e desastres), além da experiência de países que deixaram o isolamento mais rígido.

Um dos pontos que chama a atenção é o impacto emocional da pandemia sobre alunos e professores. Segundo o estudo, o momento atual deverá gerar traumas de várias naturezas, que tendem a intensificar os efeitos adversos na saúde mental dos envolvidos, aumentando, inclusive, a incidência de Síndrome de Estresse Pós-Traumático (SEPT).

O estudo aponta que cerca de 16% de jovens expostos a situações traumáticas desenvolvem SEPT e que esse percentual chega a 89% nos casos de traumas mais intensos (como a morte de familiares próximos). Por conta disso, é de se esperar que a saúde mental de alunos e profissionais da educação esteja bastante afetada no momento de volta às escolas, ainda que em diferentes formas e graus.

Outra forte conclusão da pesquisa é que, mesmo com ações de ensino remoto bem estruturadas, a suspensão temporária das aulas presenciais deverá criar lacunas significativas no aprendizado dos estudantes. Isso se deve, entre outras razões, ao fato de que o ensino totalmente a distância não é uma alternativa equivalente ao presencial e que nem todos os alunos e professores têm condições ideais de acesso a recursos tecnológicos.

Em Vitória, a Câmara de Vereadores discute a proibição da volta às aulas na capital capixaba, nas redes pública e privada, enquanto vigorar o decreto de calamidade pública devido à Covid-19. O debate defende que qualquer retorno, antes disso, coloca em sério risco a segurança e a saúde física e mental de alunos e profissionais.

Uma decisão, inclusive, alinhada a estudo publicado neste mês de julho pela Fiocruz. O relatório revela que países como Espanha, França e Holanda iniciaram a reabertura das suas escolas, mas somente diante de um número de casos muito abaixo dos registrados atualmente no Brasil. E ainda assim essa retomada tem sido feita de forma escalonada e cuidadosa.

O momento é, portanto, de preservarmos vidas e planejarmos uma volta segura e consciente. Até porque sabemos que não vamos retomar de onde paramos. O retorno às aulas presenciais exigirá um plano de ações criterioso, envolvendo diversas frentes, e demandará intensa articulação e contextualização. E mesmo agindo com estratégia e consistência, os impactos emocionais, físicos e cognitivos da crise deverão se prolongar por um bom período. Temos que nos antecipar e nos preparar para isso.

Por ora, expor nossos jovens e professores às salas de aula representa uma irresponsabilidade sem precedentes; uma verdadeira roleta russa na educação. Não podemos, em hipótese alguma, arriscar suas vidas no meio dessa pandemia.

Leonil Dias é vereador em Vitória

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