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sexta-feira, 19 abril, 2024

Redes Sociais: educar, restringir, abolir ou controlar?

Redes Sociais: educar, restringir, abolir ou controlar?Até a década de 80, o telefone e o fax eram as tecnologias de ponta que davam agilidade aos negócios, aumentando a produtividade das equipes e possibilitando a prospecção de clientes para as empresas. Depois, a popularização do telefone celular abriu novas perspectivas, alargando ainda mais os horizontes empresariais. Com o advento da internet e sua gradativa entrada nas organizações, estas passaram a se beneficiar ainda mais da velocidade da comunicação instantânea e de novas ferramentas baseadas em tecnologias web, como o Skype e o MSN. O passo seguinte, as redes sociais como o Orkut, o YouTube, o Facebook e, mais recentemente, o Twitter, novamente trouxeram gigantescas possibilidades, antes inimagináveis, para os negócios e os relacionamentos.

Em contrapartida, porém, trouxeram também ameaças e desafios em tamanho proporcional. Entre estes, a fragilização da segurança de dados estratégicos e os potenciais danos à imagem das empresas. De um lado estão os riscos relacionados à reputação das companhias e ao vazamento de dados confidenciais. Do outro, os benefícios das redes sociais e de manipulá-las de forma segura – ou, pelo menos, controlada.

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A facilidade de acesso a essas redes, contraposta às tímidas garantias de controle, levou as empresas, na sua maioria, a optarem pela proibição pura e simples, vetando a utilização dessas ferramentas por parte dos funcionários. Algumas implantaram redes de comunicação corporativa (intranets), principalmente as grandes companhias, garantindo assim o controle do conteúdo desta comunicação. Mas, mesmo considerando que a adoção das redes sociais por parte das empresas vem sendo lenta, muitas delas já perceberam que a questão não é tão simples no contexto do mercado atual – dinâmico e competitivo, no qual essas ferramentas podem ser valiosas alavancas do ponto de vista do marketing – e começam a aderir com maior frequência.

Conectados têm hora

Hoje é possível encontrar empresas que já estão apostando na dinâmica das redes sociais e ferramentas da web, sem, contudo, abrir mão de, em paralelo, de investir primeiro no desenvolvimento de uma cultura de uso adequado por parte daqueles que terão autorização para usufruir de seus benefícios, apesar de somente poderem utilizá-las para fins comerciais e ou estritamente de acordo com a política da empresa.

O diretor executivo da unidade Totvs Espírito Santo, Eduardo Couto, informou que a empresa é voltada fortemente para a inovação e, por força de sua atividade-fim, mais de 70% dos funcionários são jovens pertencentes à Geração Y (portanto, completamente conectados às redes sociais). No entanto, ainda assim, dentro da organização o uso das redes é muito restrito e obedece a um foco bem definido. “A perda de produtividade é imensa e já comprovada por várias pesquisas internas”, afirma Couto.

A Totvs disponibiliza para seus jovens colaboradores um software de comunicação instantâneo muito parecido com o MSN. “Todos os funcionários podem conversar entre si, inclusive com colegas que trabalham nos 23 países em que atuamos. Porém, são impedidos de conversar com familiares e amigos que não fazem parte da empresa. O acesso à Internet fica disponível para todos somente durante o período de almoço” esclarece Eduardo.

O executivo acrescenta que somente quem trabalha no Departamento de Marketing e alguns outros profissionais específicos têm acesso livre durante o trabalho à internet e às redes sociais. “Enxergamos nas redes sociais uma tendência irreversível, da qual temos que fazer parte. Porém, elas são vistas como uma ferramenta de negócios, relacionamento corporativo e posicionamento de marca”, pontua.

Entre a cruz e a espada

O que começou como simples lazer digital, com um publico alvo composto muito mais por pessoas do que por empresas, constitui-se hoje num repertório de recursos que estão tomando grandes proporções, particularmente na área comercial. Essa é a avaliação de Fabiano Martins, consultor de TI e empresário da Support Start, há sete anos no mercado.

Ele aponta que existem redes sociais 100% voltadas ao network, como por exemplo o LinkedIn (http://www.linkedin.com), que atualmente detém mais de 65 milhões de adeptos. E se networking é o que move o mercado, por que não usufruir de uma network cuja abrangência ultrapassa as limitações de espaço e tempo?

Martins ressalta ainda que a utilização das redes sociais nas ou pelas empresas não é tão simples, uma vez que, de acordo com a ferramenta escolhida, não há como garantir um controle estrito nem de sua utilização, nem da produção realizada com estes recursos – e muito menos a positividade dos resultados obtidos.

“Diversos aspectos devem ser considerados. Hoje alguns desses recursos, como o MSN ou o Skype, substituem, com baixo custo de implantação e operação, tecnologias anteriores, como o telefone. Porém, apresentam fragilidades no tocante à segurança da rede e das informações, exigindo a instalação de sistemas de segurança (firewalls) e controle de utilização. A chamada “data leakage” (“fuga de dados”, em tradução livre) ainda é uma preocupação para as empresas, particularmente as grandes”, registra.

Outra questão importante, como destaca o especialista, é: quem irá utilizar estes recursos? Na sua análise, se a aplicação terá intuito profissional, cabe à empresa assegurar que o usuário seja uma pessoa altamente qualificada a falar (escrever) em nome da organização, uma vez que registros digitais podem ser considerados provas legais em casos de processos.

O consultor de segurança da informação e articulista da ES Brasil Gilberto Sudré considera o tema polêmico. “Em termos de segurança, as redes sociais são portas de entrada de vírus, e representam uma exposição de dados da empresa, mesmo a despeito da existência de bons filtros e eficientes ferramentas de controle, o que é preocupante. Por outro lado, temos uma Geração Y que está entrando no mercado, jovens que já nasceram no meio digital virtual, e muitos se tornam parte desse sistema – as redes sociais. As empresas ainda estão entre a cruz e a espada. O melhor, no momento, é estabelecer critérios claros, para a própria segurança’, esclarece Sudré.

Fabiano Martins acrescenta que ainda existem tabus a serem quebrados, mas que cada caso é um caso, a ser estudado criteriosamente quanto ao custo/benefício. “Trabalho como consultor de TI há sete anos, em diversas empresas, de diversos ramos, e em algumas delas as redes sociais são visivelmente uma ferramenta comercial de grande valor. Cabe a cada empresa, dentro do seu perfil, objetivos estratégicos e ramo de atividade, estudar a hora certa de utilizar estas ferramentas. Mas, de um modo geral, da mesma forma como ocorreu com o e-mail, acredito que as redes sociais possuem um futuro certo dentro da maior parte das empresas”, concluiu.

“Saindo do quadrado”

Ao longo dos anos, as intranets corporativas tornaram-se o principal canal de informações aos funcionários sobre a organização e suas rotinas. Mesmo assim, dentro de companhias grandes, como a Vale, por exemplo, quando se faz necessária a inovação as redes sociais começam a ser usadas. A empresa não disponibiliza habitualmente o acesso a elas em seus computadores. Além disso, utiliza internamente o “Click Consciente”, filtro que mostra uma mensagem de alerta sempre que uma página externa não permitida é acessada por algum empregado.

A companhia conta com um “messenger” corporativo que permite que os empregados se comuniquem, dentro de uma mesma unidade ou em outros estados ou países. Mas, recentemente, ela saiu do tradicional e usou pela primeira vez Orkut, Facebook, Twitter e Linkedin. A Vale lançou perfis nesses sites com o objetivo de divulgar as diversas oportunidades de trabalho e de formação profissional que oferece. A iniciativa propiciou interatividade e proximidade com os possíveis candidatos aos seus diversos programas de recrutamento.

“A internet é um terreno fértil para chegarmos aos profissionais certos: gente conectada às novas tecnologias, que vai em busca do conhecimento e deseja encontrar uma porta de entrada para ingressar na empresa”, diz Hanna Meirelles, gerente de Atração e Seleção de Pessoas. A iniciativa fez tanto sucesso que, em apenas cinco dias, registrou 1.000 visitas no Facebook, 700 amigos no Orkut, 170 seguidores no Twitter e 85 conexões no LinkedIn.

O consultor e diretor executivo da e-brand Estratégias Multiplataformas, Gilber Machado, acredita que adequar os funcionários ao uso dessas ferramentas no trabalho vai depender muito do tipo de prestação de serviço que a empresa quer oferecer ao mercado, acentuando que é preciso existir critérios e definições de políticas para quem vai ser autorizado a interagir nas redes sociais.

“O empresário tem que analisar qual o grau necessário de segurança, o nível de sigilo que quer manter, o que pode ou não ser vazado. Essas e outras questões internas devem ser claramente definidas, como quais pessoas serão autorizadas e quais serão os seus limites. A partir daí, você tem uma margem de segurança para que não haja comprometimento da imagem da empresa nem problemas com a prestação de serviço”, afirma Gilber Machado.

[important color=blue title= Empresas devem ingressar nas redes sociais]

  • Estabelecendo uma estratégia social, e não apenas participando das redes sociais.
  • Unificando o que é dito no site, nas redes sociais e nos call centers.
  • Participando como empresas e como usuários comuns.
  • Criando comunidades ou grupos de assuntos ou produto se deu interesse e convidando pessoas a participarem.
  • Entrando em grupos já formados em torno de um produto ou serviço que lhes interesse e influenciando aquele grupo na direção que desejam.

Fonte: Paulo Sousa, idealizador do projeto Largevia[/important]

Notícia boa e ruim

Em palestra realizada para empresários da indústria em maio, em Vitória, Paulo Sousa, idealizador do bem-sucedido projeto Largevia – uma rede social criada em 52 países e que veio de Boston (EUA) para este e outros compromissos no Brasil, abriu seu speech dizendo aos participantes que tinha uma notícia boa e outra ruim para dar.

“A notícia boa é que tudo isso está apenas começando. A ruim é que, se você não estiver nas redes sociais, seu concorrente já está”, disse. Sousa afirma que antes de ingressarem nas redes sociais as empresas precisam estabelecer uma estratégia social, já que as redes sociais devem ser usadas como uma porta de entrada para o site da empresa.

“Hoje, quando você faz uma pesquisa no Google sem colocar nenhuma referência, os primeiros cincos resultados vêm de redes sociais. No caso de uma revista, como as da Next, por exemplo, se você for procurar ‘revistas’ no Yahoo, Google e outros, os primeiros resultados vão vir de redes sociais. Então, a pessoa interessada vai encontrar na primeira página das redes sociais: ‘revista ES Brasil’; a partir dali é que há um link que leva para o site oficial da revista (www.esbrasil.com.br). Por isto, as redes têm sido mais relevantes na hora em que se faz uma pesquisa na internet”, exemplifica Sousa.

Interatividade, polícia e internautas

Essas ferramentas tão polêmicas têm feito sucesso nos projetos de modernização e inovação também do setor público. O secretário de Segurança Urbana da Prefeitura de Vitória, João José Sana, aposta numa maior interatividade entre a polícia municipal, estadual e os cidadãos, inclusive os jovens, da capital. “Essas ferramentas alcançam de forma direta a população, e precisamos interagir de forma eficiente, rápida e eficaz com os internautas, para viabilizar a cooperação mútua no combate à criminalidade”, afirma Sana.

Mas o entusiasmo vem junto com a cautela. Ele também adverte que, se utilizadas adequadamente, essas ferramentas podem ser um bom canal de comunicação, mas que é preciso limites e controle, como em todos os ambientes de trabalho.

O fato é que, independentemente do porte da empresa, de ser ela pública ou privada, as ferramentas digitais vêm transformando as formas de comunicação e relacionamento, bem como de fazer negócios. E o caminhar do mercado impõe, a cada dia mais, o desafio atual e evidente de participar de uma tendência aparentemente irreversível. Cautelosas, as empresas estão aderindo a essas novas ferramentas aos poucos, por meio de pequenos projetos, bem segmentados e focados, mesmo ainda aprendendo a conviver com a persistente dúvida sobre como controlar a informação, aliada à preocupação com o vazamento de dados e informações estratégicas. Mas cada uma delas tem um lugar a explorar no ciberespaço e cabe-lhes saber como e quem irá se ocupar de garanti-lo de maneira positiva e eficaz.

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