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quinta-feira, 28 março, 2024

Que tal um NUDGE?!

Como direcionar as pessoas para um comportamento específico sem ter que dizer a elas “o que fazer”?

Diante do desafio imposto às instituições governamentais (de segurança e saúde pública) e profissionais de comunicação, encarregados de gerar um novo comportamento coletivo baseado no distanciamento social e hábitos sanitários visando combater a pandemia do coronavírus, o que fazer para conseguir sucesso neste tipo de mensagem? Como direcionar as pessoas para um comportamento específico sem ter que dizer a elas “o que fazer”, gerando aquele tipo de repulsa tão comum quando se tem a percepção de que há alguém dizendo o que precisa ser feito? Uma alternativa seria investir na comunicação baseada em “nudge”, descrito na pesquisa do economista norte-americano de Richard Thaler, prêmio Nobel de Economia em 2017, como “um elemento que chama nossa atenção e influencia um comportamento”.

O termo “nudge” não tem tradução para o português e é definido pelos profissionais de segmentos comportamentais como um “empurrão ou um gatilho” capaz de influenciar a decisão de uma pessoa, no contexto de consumo real ou simbólico. O exemplo mais famoso de “nudge” foi utilizado no Aeroporto Internacional de Schiphol, em Amsterdã, e foi citado em um de seus livros, o “Misbehaving”. Uma mosca foi desenhada dentro de um sanitário, levando os usuários a “mirar” o inseto no momento de urinar. Como resultado, a administração do aeroporto reportou que a ação reduziu de modo significativo (o livro cita cerca de 80%) o “derramamento” de xixi no chão.

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De forma mais simples, porém bastante efetiva, o uso de “nudge” em forma de “lembretes” (como texto direto enviado por aplicativo de mensagem ou mensagens disseminadas por carro de som nas ruas dos bairros) ao invés de emissão de “ordens” podem ser bastante eficazes neste trabalho pela mudança de comportamento.  Pedir que as pessoas ofereçam sugestões sobre o que fazer nestes dias de isolamento (para que todos fiquem em segurança, por exemplo), pode ser mais eficaz que usar uma hastag tipo #fiqueemcasa.

Desse modo, a economia comportamental emerge nos dias atuais como uma importante estratégia a ser adotada em políticas públicas para modificar o comportamento do cidadão. As estratégias de comunicação baseadas em uma arquitetura cognitiva que conduza o cidadão a escolhas pautadas em comportamentos visando o bem comum, neste caso visando a contenção da pandemia, certamente serão eficazes. Outra alternativa é utilizar estratégias que fujam dos modelos de “obrigação” (pois todos amam o direito de poder escolher o que fazer), substituindo pela oferta de um “protagonismo” ao sujeito, influenciando suas escolhas de modo a melhorar a vida de quem escolhe e da coletividade, segundo o julgamento deles mesmos.

É certo que o “nudge” não tem a capacidade de resolver sozinho todas as questões de convencimento e mudança de comportamento, considerando que algumas obrigações e proibições são legais e inevitáveis. Porém este elemento, se bem trabalhado pelos profissionais de comunicação (em favor da disseminação das mensagens desejadas para a mudança de comportamento das pessoas), poderá contribuir de forma significativa para o planejamento de estratégias e políticas públicas locais para enfrentamento ao coronavírus.

Danielly Medeiros é jornalista e especialista em Economia para Jornalistas e Comunicadores Institucionais pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

 

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