O fato é que o assunto turismo entrou na agenda. Cada cidade dará sua ênfase, seu foco e definirá suas prioridades
Por José Antonio Bof Buffon
O turismo chegou forte nestas eleições municipais. Ainda há poucas propostas concretas e coerentes, mas a fala dos candidatos foi, em boa medida, povoada com esta preocupação. O turismo é, cada vez mais, um tema relevante no mundo. A gestão turismo se dá essencialmente no território em que ele é praticado e, no Brasil, esta instância de governança e gestão basilares é o município.
Em quatro municípios ficou bem evidente que o tema vai ganhar importância. Por razões bem óbvias, em Santa Leopoldina e na Serra. Em ambos os casos porque os prefeitos eleitos são ex-secretários de turismo do Espírito Santo, com a particularidade de que ao longo de 2024 trabalharam em conjunto na Secretaria de Estado de Turismo (SETUR-ES).
Em Santa Leopoldina, o turismo é uma componente crucial para revitalização e soerguimento do município. Santa Leopoldina foi a pioneira no turismo da região das 3 Santas, mas experimentou um processo de prolongado esvaziamento, ao passo que Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá, além de Domingos Martins, em diversas vertentes, se tornaram municípios muito dinâmicos.
No entanto, os diversos caminhos trilhados pelos vizinhos oferecem referências e lições para este reencontro de Santa Leopoldina com a prosperidade. Há que se ter diálogo com o segmento produtivo, foco e perseverança na implementação dos projetos e ações que redinamizem a cidade, cooperação com os municípios do entorno e boas parcerias com o Governo, nada que não esteja ao alcance do prefeito eleito.
Em Serra, o assunto é mais complexo. Por ser o mais importante e mais dinâmico município do Estado, com economia fortemente fincada em logística e indústria, o turismo foi deixado em segundo plano ao longo das últimas gestões. Na Serra, o esforço em pauta é requalificar e sofisticar o desenvolvimento da cidade e, para tanto, o turismo, até por requerer uma gestão sofisticada e participativa, se apresenta como um elemento central neste esforço.
Cabe naquele município, desde logo, a realização de Planos Diretores para o Mestre Álvaro, para as Lagoas e para o Litoral. Três territórios que poderão suportar o desenvolvimento do turismo com um segmento de grande relevância para dinamizar e qualificar a economia e para a geração de trabalho e renda.
Outros dois municípios em que o assunto aflorou com força foram Linhares e Guarapari.
Em Linhares, a nova gestão vai encontrar um ambiente empresarial muito atuante e participativo, com lideranças muito engajadas. O município tem um Plano de Turismo, que já se encontra em adaptação ao que é proposto pelo Plano Nacional de Turismo. O município tem um enorme potencial, por ser muito vasto e muito diversificado.
A par do turismo rural, que alcança praticamente todo o território, vale para Linhares uma abordagem similar do que se recomenda para Serra. Três eixos estratégicos aglutinantes, que demandam, cada um, um Plano Diretor: (i) as Lagoas; (ii) as Margens e Calha do Doce; e (iii) o Litoral, incluindo a Foz do Doce, neste caso, já como o propósito de ser estabelecer no Litoral o “Distrito Turístico da Foz do Doce”, envolvendo Povoação, Regência e respectivas adjacências.
Em Guarapari, a situação é bem mais complexa do que nos municípios acima mencionados. A princípio é mais fácil, porque ninguém na cidade precisa ser convencido do que turismo é importante e estratégico, de vez que o município foi formatado pelo turismo e é genuinamente vocacionado para esta atividade. Mas também é mais difícil, porque a pauta do turismo em Guarapari é permanente, porque é a maior pauta de desenvolvimento econômico da cidade e que está a requerer uma governança público-privada dinâmica, forte e muito cooperativa, além de atuação estratégia e tempestiva por parte da municipalidade.
A cidade precisa de uma visão de futuro, que seja amplamente aceita e concertada entre os principais atores do setor público e privado. Uma visão de futuro bem definida favorece a divulgação e a promoção do destino, descongela e orienta os investimentos privados e facilita enormemente a definição de prioridades para a ação do setor público.
Guarapari necessita de uma governança sólida, com arenas privadas de diálogo e concertação que estabeleçam canais permanentes e abertos entre o setor privado e público. Uma estrutura de governança que possa garantir que a cidade caminhe em direção à visão de futuro estabelecida. Além disso, a governança eficiente ajudaria a enfrentar crises e emergências de maneira tempestiva.
Apesar de seu consagrado sucesso como destino turístico, além de governança e visão de futuro, Guarapari apresenta lacunas que precisam adequadamente equacionadas e resolvidas para que seja garantido seu crescimento sustentável e equilibrado. São necessárias ações coordenadas entre os setores público e privado, além da implementação de estratégias e projetos mobilizadores.
O fato é que o assunto turismo entrou na agenda. Cada cidade dará sua ênfase, seu foco e definirá suas prioridades. Para Serra e Linhares significará mais uma componente relevante no desenvolvimento destas cidades.
Para Santa Leopoldina, de forma organicamente articulada com a agricultura familiar, representará o esteio de sustentação do renascimento da cidade. Em Guarapari, pode-se dizer que o turismo é tudo.
Em regra, fica a sugestão para os novos prefeitos:
- Não se afobar e querer vencer o tempo perdido rapidamente;
- Ativar e valorizar as instancias de governança formais e informais da cidade;
- Revisitar Planos e prioridades já evidenciadas e pactuar um conjunto de ações exequíveis, de curto e médio prazo;
- Planejar o logo prazo;
- Fugir da pulverização de recursos para atender pequenas demandas, pois estão são infinitas, não são portadoras de futuro e trazer a transformação da cidade.
José Antonio Bof Buffon é Economista e Secretário Executivo da Câmara Empresarial do Turismo da Fecomércio-ES