Em pronunciamento, presidente justificou que os ministros precisam estar junto com ele senão não deveriam estar no “comando”
Por Aline Pagotto
Após pronunciamento do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, o presidente Jair Bolsonaro foi a público falar sobre as demissões do juiz e do ex-diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo, publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira (24).
Bolsonaro convocou todos os ministros para participar de seu pronunciamento. Em sua fala, ele diz não ter mágoas de Moro, mas que ele não o desejava como presidente da República. “Tomei café da manhã com alguns parlamentares, e lhes disse que a partir das 11 horas da manhã eles conheceriam a pessoa que tem compromisso consigo mesmo e com o ego. Ele não me quer sentado à cadeira da presidência. Logo após, ele marcou uma coletiva de imprensa”, disse.
Segundo o presidente, o ex-ministro marcou uma coletiva para falar coisas que não tem fundamento. “Eu lamento. Nós que estamos na linha de frente temos algo melhor para falar do que a nossa biografia. Aqui tem ministros que “apanham” todos os dias, mas lutam contra uma doutrinação de décadas e que mostram que a educação do Brasil nunca esteve tão mal. Por exemplo, o diploma hoje passou a ser um objeto figurativo.”, destacou.
Sobre os conflitos, Bolsonaro disse que é muito difícil a convivência com pessoas que pensam diferente. “Eu sempre fui do diálogo. Você não vai encontrar nenhum ministro meu que diga o contrário. Mas o meu compromisso é com o Brasil e com a democracia”, disse em pronunciamento.
O presidente afirmou que nessa quinta-feira (23) conversou com Moro sobre um novo nome para ocupar a diretoria geral da PF, mas não houve diálogo. Além disso, se mostrou decepcionado com a atitude do ex-juiz da Operação Lava-Jato.
“Ontem, esperava em conjunto com o sr. ministro encontrar um nome para ocupar a PF, apesar dessa ser uma prerrogativa do presidente da República. Estou decepcionado e não esperava essa atitude. Não são verdadeiras as insinuações de que eu tinha interesse em saber sobre as investigações. Ele sabe que nunca o procurei para saber sobre as ações que estavam investigações, não como interferência, mas como apelo para saber sobre meu filho “04” e o porteiro. Ontem e eu conversei com o Dr. Valeixo e ele concordou com a exoneração. Desculpe, senhor ministro, o senhor não me chamará de mentiroso.”, finalizou Bolsonaro.
Impressões
Essa pode ser considerada uma tentativa do presidente se proteger, segundo o historiador, professor universitário e consultor de Marketing Político, Darlan Campos. “Ele usou uma estratégia comum que muitos políticos usam para se proteger em períodos de crise, tentando mostrar a ideia de unidade. Falou sobre vários temas, buscando atacar o Sérgio Moro, não diretamente, mas desqualificando algumas ações, tentando passar imagem de uma pessoa simples. Também confirmou algumas teses do ex-ministro e abre processos de justificativa, com um discurso vazio e perdido, mas em uma tentativa de confronto”, disse ele.
Já o cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, Rodrigo Prando, destaca que o presidente tentou se mostrar como vítima do ex-ministro Sérgio Moro que anseia, sob a perspectiva de Bolsonaro, a cadeira da presidência.
“Foi um discurso desconexo, apresentando a família, colocando questões pessoais, entre outras. Ele esqueceu que o Moro é juiz e que entrou em um embate com o ex-presidente Lula, e mesmo assim o levou à prisão. Quando Bolsonaro o atacou, logo ele respondeu pelo Twiiter. Em síntese, isso é indicativo de que a coisa está ficando muito séria. Bolsonaro tinha como seguir o discurso das três páginas, mas ele preferiu seguir o simbolismo com toda a sua equipe por trás, que significa que está enfraquecido e acoado. Isso ficou claro em seu discurso”, finalizou.