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terça-feira, 23 abril, 2024

Positivo, só que não

Positivo, só que não
Fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC)

No começo de janeiro, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) divulgou dados positivos quanto ao saldo da balança comercial brasileira em 2016. A diferença entre as exportações e as importações atingiu superávit recorde de US$ 47,7 bilhões, o maior desde o início da série histórica, em 1989. Porém, o resultado reflete a redução da atividade econômica no país, visto que desembarques e embarques tiveram quedas expressivas, alcançando os piores resultados desde 2009.

De um lado, as exportações brasileiras fecharam 2016 com baixa de 3,09% em relação a 2015, ficando em US$ 185,2 bilhões. Do outro, as importações caíram cerca de seis vezes, acumulando um total de US$ 137,6 bilhões, recuo de 20,1% contra o ano anterior. Foi justamente esse fraco desempenho que possibilitou a conquista do “superávit recorde”. “É uma mera questão aritmética. O resultado ruim das vendas ao exterior foi compensado por uma queda maior das compras, o que gera essa impressão positiva”, analisa o economista Arlindo Villaschi.

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Positivo, só que não
“Embora o estilo de Trump tenha deixado muitas pessoas preocupadas ao redor do mundo (…), não acredito que ele tomará decisões mirabolantes e unilaterais” – Otacílio José Coser Fillho, presidente da Câmara de Comércio Americana no Espírito Santo Amcham ES)

Quando analisados os dados referentes à corrente de comércio, que é a soma das exportações e das importações, fica mais evidente o quadro recessivo em que se encontra a economia nacional. Em 2016, esse indicador ficou em US$ 322,7 bilhões, retração de quase 11% na comparação com os US$ 362,5 bilhões alcançados em 2015, que por sua vez já representava uma queda superior a 20% em relação ao registrado em 2014. Foi o pior resultado da corrente de comércio brasileira desde 2009.

Velhos paradigmas

Tais números são fruto de velhos paradigmas que ainda precisam ser superados. “Somos basicamente exportadores de matérias-primas ou commodities industriais. Quando a demanda e os preços das commodities sofrem uma queda, as nossas exportações são afetadas. Na outra ponta, estamos comprando menos devido à recessão no país,  que já dura dois anos”, pontua o presidente do Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Espírito Santo (Sindiex), Marcílio Machado.

Nesse sentido, pode-se afirmar que o Brasil não se preparou, por exemplo, para enfrentar a redução do crescimento de seu principal parceiro comercial, a China. A corrente comercial com o país oriental, grande comprador de commodities brasileiras, encolheu 12% em 2016 na comparação com 2015, passando de US$ 66,3 bilhões para US$ 58,4 bilhões. “Não há dúvida de que uma redução da demanda internacional de nossos produtos afetou a nossa economia. Houve uma desaceleração do crescimento chinês e está havendo uma recessão no Brasil. Consequentemente, isso teve um impacto nas transações comerciais entre os dois países. Quando o Brasil voltar a crescer, é provável que haja um aumento das importações provenientes da China. Como segunda maior economia mundial, a China deverá continuar sendo, também, um importante destino de nossas exportações”, avalia o presidente do Sindiex. Positivo, só que nãoA preocupação com a “qualidade das importações e das exportações” foi apontada por Villaschi. “Uma coisa é exportar celulose ou carne, que embora sejam insumos básicos, é uma fonte renovável. Outra é exportar minério de ferro ou seus derivados, que ainda por cima são recursos naturais não renováveis, sujeitos a variações de cotação no mercado internacional. Essa questão da qualidade das nossas exportações ainda está atrelada ao nosso modelo histórico de exportação”, acrescenta.

Villaschi faz a mesma ponderação em relação às importações. “Se estamos importando máquinas e equipamentos ou insumos industriais, quer dizer que a economia está em processo de dinamização e a capacidade produtiva está aumentando, o que eventualmente melhoraria a capacidade do país de substituir importações e diversificar exportações”, revela. Porém, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), as importações do setor acumularam uma queda de 18% em dezembro, ficando em US$ 15,4 bilhões.

Efeito Trump

A chegada do bilionário Donald Trump à presidência dos Estados Unidos trouxe incertezas para o comércio mundial, principalmente em virtude da promessa de adoção de medidas protecionistas. “Embora o estilo de Trump tenha deixado muitas pessoas preocupadas ao redor do mundo, é preciso deixar claro que ele está ligado ao Partido Republicano e suas ações deverão ser aprovadas pelo Congresso. Portanto, não acredito que ele tomará decisões mirabolantes e unilaterais”, reforça o presidente da Câmara de Comércio Americana no Espírito Santo (Amcham ES), Otacílio José Coser Filho.

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As importações caíram 3,09% em 2016, e as importações tiveram recuo de 20,1% em comparação a 2015.

Machado acrescenta que, embora Trump tenha feito discursos protecionistas e afirmado que iria rever acordos comerciais dos Estados Unidos, seu partido tradicionalmente apoia o livre comércio. “Existem muitas incertezas em relação ao que ele poderá implementar, pois além de negociar com a oposição democrata, também terá que vencer a resistência de muitos membros de seu partido que são contrários ao isolamento comercial de seu país. Não será fácil impor barreiras comerciais, pois isso pode implicar retaliações, além da resistência dos empresários americanos que vendem seus produtos no mercado global”, destaca.

Os Estados Unidos são o segundo principal destino dos produtos brasileiros. Em 2016, o valor exportado para lá ficou em US$ 23,2 bilhões. Na visão de Villaschi, essa relação comercial não deve mudar, inclusive porque o Governo Federal tem adotado uma postura “pró-estadunidense” em suas relações exteriores. “A pauta de exportações do Brasil para os Estados Unidos não vai preocupar o Trump. Os principais produtos que vendemos, como minério de ferro, petróleo e café, não estão relacionados ao que ele entende como responsáveis pela perda dos empregos no país. Porém, em áreas que somos mais competitivos, como o aço, é possível que sejam criadas barreiras tarifárias. A priorização da defesa dos interesses estadunidenses não é uma política do Trump, faz parte de uma política de Estado”, afirma.

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“Precisamos desenvolver não apenas uma economia empreendedora, mas uma cultura do empreendedorismo no país e no estado de modo que haja uma maior inclusão das pequenas e médias no esforço exportador” – Marcílio Machado, presidente do Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Espírito Santo (Sindiex)

Exportações e importações capixabas

No Espírito Santo, o setor de comércio exterior também sofre os reflexos da recessão econômica, inclusive com resultados piores que a média brasileira. As exportações, por exemplo, acumularam US$ 6,5 bilhões no final de 2016, queda de 33% em relação a 2015. O Estado também perdeu participação nas exportações brasileiras, de 5,14% para 3,53%. As importações, na mesma base de comparação, caíram mais de 28%, fechando em US$ 3,69 bilhões. A presença do Estado nas importações do país passou de 3,01%, em 2015, para 2,68%, em 2016.

“A resolução 13/2012, que reduziu a alíquota interestadual do ICMS de 12% para 4%, afetou a competitividade do Espírito Santo e do Fundap (Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias). Entretanto, parte desse problema poderia ter sido mitigado se houvéssemos investido em infraestrutura portuária. Essa deficiência afeta tanto as importações como as exportações, que passaram a ser realizadas através de outros portos brasileiros”, pondera Machado.

Embora os dados de embarques e desembarques pelo Espírito Santo estejam abaixo do registrado em anos anteriores, o presidente do Sindiex não acredita que o Estado tenha perdido sua vocação para o comércio exterior. “Creio que o que desenvolve um país ou um estado são as pessoas. Nós temos no Espírito Santo um agrupamento de pessoas e empresas que acumularam um grande conhecimento e experiência em comércio exterior.
Isso faz grande diferença para atrair negócios. Precisamos parar de pensar, contudo, que o Governo Federal vai resolver o nosso problema de infraestrutura. A sociedade e os empresários precisam discutir alternativas e implementar soluções para solucionar o gargalo portuário no curto prazo”, ressalta.Positivo, só que não

Machado frisa ainda que o Governo do Estado vem fazendo sua parte ao promover um ambiente de negócios favorável a novos empreendedores. “Ao reduzir a burocracia e permitir que se obtenha, por exemplo, a inscrição estadual com mais agilidade, teremos condições de atrair mais investidores e empresas. Isso já é um bom começo, porém, muito mais precisa ser feito. Devemos desenvolver não apenas uma economia empreendedora, mas também uma cultura do empreendedorismo no país e no Estado de modo que haja uma maior inclusão das pequenas e médias no esforço exportador”, finaliza.

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