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terça-feira, 11 DE fevereiro DE 2025

Por que o dólar aumentou tanto?

A elevação do dólar reflete tanto fragilidades internas quanto tensões externas, exigindo respostas coordenadas

Por Ricardo Paixão

Desde o final de 2024, a cotação do dólar em relação ao real vem apresentando uma elevação significativa, resultando em uma desvalorização expressiva da moeda brasileira. Esse movimento é resultado de uma combinação de fatores internos e externos que impactam a economia nacional de forma estrutural e conjuntural. A análise dessas causas revela a complexidade do cenário e a necessidade de medidas econômicas estratégicas por parte do governo.

Internamente, um dos pontos de atenção que têm alterado as expectativas dos agentes econômicos é a percepção de uma possível deterioração das contas públicas do governo, o que tem contribuído para a alta do dólar. O crescimento dos gastos governamentais, sem o devido acompanhamento por parte das receitas, gerou uma percepção de risco fiscal entre os investidores. No entanto, é fundamental ressaltar que essa situação está longe de ser uma tragédia fiscal. O Brasil conta com reservas cambiais robustas, que superam os R$ 300 bilhões, além de o governo já estar implementando um ajuste fiscal.

Apesar disso, o foco predominante do mercado tem sido sobre cortes nos gastos sociais, uma área sensível por atingir diretamente a parcela mais vulnerável da população. Essa abordagem precisa ser revista, uma vez que existem outras áreas de maior impacto fiscal que podem contribuir para o ajuste de forma mais equitativa. Entre essas áreas estão as despesas com as Forças Armadas, que consomem quase R$ 90 bilhões anuais, as emendas parlamentares, que ultrapassam R$ 55 bilhões, e os incentivos fiscais concedidos a setores econômicos, que geram renúncias de receita da ordem de R$ 400 bilhões por ano.

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Externamente, a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos em novembro de 2024 trouxe expectativas de políticas econômicas mais protecionistas, fortalecendo o dólar frente a outras moedas. Além disso, a possibilidade de manutenção ou elevação das taxas de juros pelo Federal Reserve atraiu investidores para ativos denominados em dólar, aumentando a demanda pela moeda americana e pressionando ainda mais o real.

Adiciona-se ainda a esses fatores as declarações recentes do presidente dos Estados Unidos, que adotou uma postura expansionista em sua política externa, bastante controversa, sugerindo a possibilidade de anexação de territórios e países, como por exemplo, o Canada. Essa retórica agressiva tem gerado um clima de incerteza e insegurança nos mercados globais, levando investidores a buscar ativos considerados mais seguros, como o dólar. Esse movimento fortalece a moeda norte-americana em relação a outras, incluindo o real, e aumenta a volatilidade cambial.

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Para conter a valorização do dólar, o governo brasileiro pode adotar um conjunto de medidas articuladas. Do lado da política monetária, o Banco Central pode intensificar suas intervenções no mercado cambial, por meio de leilões de venda de dólares, para equilibrar a oferta e a demanda por moeda estrangeira. No entanto, essas intervenções devem ser complementadas por ações estruturais que restaure a confiança dos investidores e reduza a percepção de risco associada ao Brasil.

O ajuste fiscal pode e deve ser feito de maneira mais equitativa, contemplando áreas que até agora têm sido negligenciadas nesse debate. Por exemplo, as Forças Armadas, que representam custo significativo para o Estado brasileiro, precisam contribuir mais efetivamente. Apesar da legitimidade de sua existência, o retorno social proporcionado pelas Forças Armadas é limitado em relação ao montante investido. Uma revisão desses gastos poderia trazer maior eficiência ao orçamento público.

Além disso, as emendas parlamentares, que movimentam volumes financeiros elevados, também devem ser revistas. Uma redução significativa nesse instrumento de alocação de recursos poderia contribuir para um ajuste fiscal mais justo, promovendo maior responsabilidade na gestão orçamentária. Outro ponto crucial são os incentivos fiscais concedidos a setores econômicos, muitos dos quais já se encontram consolidados e não dependem desses benefícios para operar. A revisão desses incentivos, com foco na eliminação de privilégios injustificados, poderia ampliar as receitas públicas sem prejudicar as áreas sociais.

Portanto, a elevação do dólar reflete tanto fragilidades internas quanto tensões externas, exigindo respostas coordenadas que integrem ajuste fiscal, equilíbrio nas políticas sociais e uma postura diplomática estratégica. Somente com uma abordagem ampla e consistente será possível estabilizar a economia e mitigar os efeitos da volatilidade cambial sobre o país.

Ricardo Paixão é Economista, Mestre em Economia e Doutorando em Educação – UFES

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