O Banco Central apresentou em janeiro, uma prévia para o PIB de 2020: queda de 4,5%
Por Arilda Teixeira
Neste século, queda nessa proporção, só se registrou em 2007 (-5,4%) e 2008 (-5,1%), auge da crise do subprime. Reforça a percepção de baixo dinamismo da economia brasileira.
O IBGE trará os resultados completos de 2020, quando divulgar o PIB do 4º trimestre. Vamos aguardar.
À essa altura dos acontecimentos até as areias da praia conhecem os fatores determinantes da desaceleração da economia brasileira: deficiências do parque produtivo em consequência de um sistema tributário anacrônico, estrutura regulatória enviesada politicamente, baixo nível tecnológico, mercado de trabalho desqualificado.
Em 2020, inadvertidamente, veio-nos o fator agravante dessa desaceleração: a pandemia de Covid. Menos por ser pandemia, e mais pelos critérios inoportunos e equivocados utilizados pelo Chefe do Poder Executivo para lidar com ela.
Daí para a quase paralização foi um pulo.
A questão é que esses fatores agravantes aumentaram o custo de oportunidade para recolocar a economia brasileira na rota do crescimento. Com isso, reduziram sua atratividade como mercado, o que afastou o Investimento Estrangeiro (IE) para o Brasil.
O problema é que esse tipo de investimento é decisivo para criar infraestrutura e ampliar o parque produtivo dos países receptores. Mas, para atraí-lo, precisa garantir o retorno esperado pelo investidor. Assim, sua atratividade depende de segurança jurídica e lucratividade – insumos inexistentes na economia brasileira neste momento.
Por exemplo, os países em desenvolvimento absorvem 72% do fluxo global de IE. Dentre eles, a China é o principal mercado de destino desses investimentos. Em 2020 ela teve aumento de 4% do seu influxo de IE devido sua capacidade de controlar a pandemia do Covid e preservar as oportunidades de negócio no seu mercado.
Enquanto isso, a economia brasileira, a reboque dos desencontros entre Governo e Equipe Econômica, conseguiu a proeza de resgatar sua imagem de mercado não atrativo que outrora carregou, e que agora a leva a amargar uma perda de 50% do seu influxo de IE – um vexame e um desperdício.
Em 2020 houve queda de 42% no fluxo de IED para o mundo; de 46% para a América do Norte; de 18% para a África; 37% para América Latina e Caribe; 4% para parte da Asia que abriga somente países em desenvolvimento; 69% para economias desenvolvidas; 77% para economias em transição; 12% para países em desenvolvimento.
Essas estatísticas sugerem o foco do IE para os mercados emergentes; consequentemente, a importância de esses mercados serem estáveis para concretizar a parceria.
Brasil, Rússia, Índia e China são membros do BRICS. Brasil e Rússia perderam, respectivamente, 50% e 96% de fluxo de IE em 2020. Em contrapartida, China e Índia ganharam esse fluxo em, respectivamente, 4% e 13%. Por quê? O tratamento que cada um deu para combater o vírus sem perder a perspectiva da economia. Em circunstâncias como esta tem que haver bom senso para saber a hora de puxar e a de empurrar, porque a economia sempre está debaixo de um cobertor curto. Quando cobre a cabeça, descobre o pé. Não adianta o MDIC atenuar a gravidade da situação externa do Brasil com estatísticas do Balanço Comercial. Elas não informam a capacidade de inserção externa, e/ou seu grau de abertura da economia, passaporte para negociar com o resto do mundo.
Arilda Teixeira – Economista e Profa da Fucape