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sexta-feira, 29 março, 2024

“Para onde vai a ‘guerra da vacina’?”

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Foto: Reprodução

Quais os limites para a nova “guerra”? Ainda é cedo para se cravar um resultado final, mas algo já pode ser afirmado

Por Andre Pereira Cesar

É inegável que a versão 2020 da “guerra da vacina”, iniciada pouco tempo atrás, representa mais um passo na disputa política entre o governo federal e os estados. A questão, que tende a ser judicializada, pode ter perdedores de todos os lados – e, no limite, nenhum real vencedor.

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Apenas para relembrar, tudo começou com a assinatura de um protocolo de intenções, pelo ministério da Saúde, para a compra de milhões de doses da vacina contra a Covid 19 produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac.

A assinatura foi anunciada aos governadores pelo próprio titular da pasta, Eduardo Pazuello. No entanto, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vetou o acordo, afirmando que o Brasil “não vai comprar a vacina da China”. A crise estava instalada, e foi reforçada com a declaração do vice-presidente, Hamilton Mourão, de que o país poderá sim adquirir o medicamento.

Com a posição, o presidente jogou de maneira clara – seu alvo principal são os eleitores bolsonaristas mais fiéis (de “raiz”), que representam cerca de 20% do eleitorado e aplaudem decisões como essa. Além disso, ele tentou acuar o principal patrocinador da vacina no país, o governador paulista João Dória (PSDB) – não por acaso, o grande adversário de Bolsonaro na faixa da centro-direita para as eleições de 2022.

Dória, por sua vez, dobrou a aposta e reafirmou que a população de seu estado será vacinada quando (e se) a medicação for aprovada. Ele conta com o apoio de outros governadores, de autoridades sanitárias, de setores da imprensa e de boa parte da opinião pública e espera surfar bem nessa onda.

É praticamente inevitável que a questão acabe nos tribunais, como bem afirmou o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux. Já há ações sobre o tema em discussão na Corte, e os governadores podem ingressar com ação conjunta para obrigar o governo federal a adquirir as vacinas.

Quais os limites para a nova “guerra”? Ainda é cedo para se cravar um resultado final, mas algo já pode ser afirmado. De um lado, Bolsonaro desmoraliza publicamente mais um ministro da Saúde, que perde condições políticas de seguir no posto, e também isola ainda mais o Brasil na comunidade internacional – a condição de “pária” é um fato consumado. De outro, os governadores, Dória à frente, assumem um risco político – caso a vacina não funcione nos testes que ainda restam, poderão dar mais um palanque para o titular do Planalto.

Por fim, o STF, já enredado em seus próprios problemas (vide o recente caso André do Rap), poderá entrar em nova bola dividida e aumentar o seu desgaste junto à opinião pública.

A politização da pandemia atingiu seu ponto máximo, em um caminho que parece não ter retorno. Difícil imaginar algum protagonista da crise – presidente ou governadores – recuar a partir de agora. O jogo tende a ficar ainda mais bruto.

O fato é que o negacionismo hoje em voga no Planalto coloca o país em situação difícil. Todos pagarão por isso – para a população, o elo vulnerável do sistema, o valor dessa fatura pode ser mais elevado.

André Pereira César é Cientista Político e sócio da Hold Assessoria Legislativa

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