Expectativas para o próximo ano são de que o Espírito Santo continue crescendo acima da média nacional, mas riscos climáticos e fatores externos preocupam
Por Daniel Hirschmann
A economia do Espírito Santo chega ao final de 2024 com perspectivas positivas para o ano de 2025. Em geral, as expectativas são de continuidade do crescimento do PIB, manutenção do desemprego em níveis baixos e melhora de indicadores sociais e econômicos em todas as regiões do território capixaba. Grande parte desse otimismo se deve ao equilíbrio das contas públicas estaduais e aos valores previstos em investimentos, tanto públicos quanto privados, para os próximos anos. Ainda assim, alguns pontos em especial merecem atenção, pois podem afetar negativamente o desempenho de alguns setores.
Segundo a economista-chefe e gerente executiva do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Marília Silva, apesar do otimismo, as perspectivas para 2025 indicam um crescimento econômico mais moderado. “Há uma expectativa de continuidade do crescimento econômico em 2025. A taxa de crescimento do PIB do Espírito Santo deve ser positiva, mas menos acelerada em comparação com 2024, refletindo um cenário macroeconômico mais desafiador”, avalia.
Ela afirma que a indústria deve continuar se destacando positivamente, com ênfase no setor extrativo, impulsionada pela retomada do crescimento na produção de petróleo e gás natural, como resultado do comissionamento da FPSO Maria Quitéria e das expectativas relacionadas ao Plano de Negócios da Petrobras para o Espírito Santo.
Além disso, a reativação da Usina 2 da Samarco e novos investimentos, como a nova fábrica de papel da Suzano, em Aracruz, e a expansão da unidade fabril da Marcopolo, em São Mateus, deverão contribuir significativamente para o aumento da produção industrial ao longo do ano, na visão da economista da Findes.


Atenção aos juros
“Um ponto de atenção para 2025 é a recente sinalização do Banco Central sobre possíveis aumentos na taxa de juros. Esse cenário pode ter implicações significativas para a economia brasileira, ao desacelerar a atividade econômica. Juros mais altos podem afetar o consumo das famílias, impactando o setor de serviços e o mercado de trabalho”, salienta Marília.
Nesse contexto, a indústria também pode ser afetada, especialmente em atividades mais sensíveis às variações da taxa de juros, como a indústria de transformação e a construção civil, “que são sensíveis ao crédito”.
O setor agropecuário pode enfrentar desafios adicionais, decorrentes do ciclo de bienalidade negativa do café e da provável persistência de condições climáticas adversas. “A combinação desses fatores sugere um cenário desafiador para a economia capixaba no próximo ano”, reforça a economista da Findes.
Por isso, Marília Silva destaca a importância de que haja comprometimento do governo federal com uma política fiscal que garanta a sustentabilidade das contas públicas, mas considera “igualmente crucial que ela seja capaz de promover o crescimento econômico”.
Em sentido oposto, adverte que a manutenção de uma taxa de juros elevada pode frear o avanço do crescimento econômico. “Esse é um alerta não apenas para o setor industrial, mas para todos os agentes econômicos, uma vez que uma taxa de juros elevada onera investimentos e torna o acesso ao crédito mais custoso”, salienta.
Negócios típicos do verão movimentam a economia no Espírito Santo
Ambiente favorável no ES
O presidente do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES), Claudeci Pereira Neto, também entende que as perspectivas de crescimento para o estado em 2025 são boas. “O que pode influenciar o desempenho, do lado positivo, é o bom momento do Espírito Santo, a credibilidade, a proximidade, a boa infraestrutura portuária que o estado tem. Isso vai se manter”, afirma.
Ele prevê que em 2025 os investimentos públicos continuarão altos, principalmente por parte do Governo do Estado, que está “bem organizado, com as contas em dia”. Em relação ao setor privado, Claudeci espera impactos positivos dos investimentos da ordem de R$ 97,9 bilhões previstos até 2028, a maior parte na indústria – principalmente na indústria extrativa e de construção civil.

No entanto, o presidente do Corecon-ES observa que quase metade desses investimentos privados se concentram na Região Metropolitana. Depois, cita o Litoral Sul, principalmente Presidente Kennedy, Marataízes e Itapemirim – que é a área de petróleo –, e a região do Rio Doce, beneficiada por integrar a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). “O desafio é dinamizar as outras regiões, principalmente as regiões Sul, do Caparaó, Central, Nordeste e Noroeste do estado. É um desafio para equilibrar esse nível de investimento”, avalia.
Riscos climáticos e externos
De acordo com o economista, os riscos para 2025 são ligados às mudanças climáticas. “Nós podemos ter uma seca enorme ou desastres naturais, como em Mimoso, que podem impactar a economia de um município ou de uma região. Tanto o nível de seca como o aumento de chuvas podem impactar negativamente a agricultura, especialmente”, alerta.
Em relação à agropecuária, outro ponto que pode afetar o desempenho são os preços das commodities, que estão bons em 2024, mas que podem se reverter com o tempo. “A gente produz aqui e exporta para outros estados da Federação ou para outros países. Mas nós temos um mercado interno pequeno. Então, a gente vai continuar dependendo do mercado externo para ter bom desempenho”, explica Claudeci.


Além disso, ele vê problemas de lentidão em algumas obras, principalmente de estradas, que podem atrapalhar o desempenho da economia capixaba no próximo ano. Por outro lado, Claudeci considera positivo o anúncio de uma ferrovia para ligar a região Metropolitana com a Sul, com o futuro porto em Presidente Kennedy.

Crescimento deve continuar
A expectativa mais otimista para 2025 vem do diretor-geral do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Pablo Lira, que prevê a continuidade do crescimento do PIB do Espírito Santo acima da média nacional, mantendo uma taxa de desemprego abaixo da média do País, com saldos positivos na geração de novos empregos, crescimento da renda do trabalhador capixaba e um novo aumento dos investimentos públicos.
“Em 2025, o investimento público deve chegar a aproximadamente R$ 5 bilhões, com tendência de ampliação desses investimentos para os próximos anos”, estima o diretor do IJSN.
Ele destaca que a expectativa é positiva na ótica dos investimentos. O otimismo nesse sentido se fundamenta no “ambiente equilibrado” das contas públicas do Espírito Santo, além de um “equilíbrio político institucional”, na visão de Lira. “Temos uma sinergia entre o governo do Estado, dialogando com os poderes republicanos, com os 78 municípios capixabas, que vêm recebendo investimentos do governo. Também temos o Tribunal de Contas, o Ministério Público, todas as instituições, junto com o setor empresarial, em um diálogo permanente em favor do desenvolvimento do Espírito Santo”, justifica.
Economia entre crescimento automação e desenvolvimento
Impactos da reforma tributária
Do ponto de vista dos riscos, ele aponta a escalada dos conflitos geopolíticos mundiais e as mudanças previstas para os próximos anos – não só para 2025 –, incluindo os desdobramentos da reforma tributária. “O Espírito Santo vai ser impactado, não diretamente em 2025, mas tudo que a gente está fazendo agora, em termos de gestão das finanças públicas nos municípios e no Estado, vai repercutir no período da transição da reforma tributária. Então, é um período de atenção, também, na ótica das finanças públicas, para manter a prudência e seguir com esse ambiente equilibrado das contas públicas ao longo dos próximos anos”, comenta Pablo Lira.
Outro fator que requer atenção para 2025 é o desempenho da economia brasileira. “Tem que observar como vai se comportar a economia brasileira em 2025. Se a economia brasileira vai bem, a economia capixaba tende a ir melhor ainda. Então, tem que observar como vai ficar a questão da inflação, da taxa de juros, do desempenho econômico do nosso país”, pondera o diretor do IJSN.
Investimentos para 2025
Um dos principais impulsos da economia capixaba em 2025 deve vir mesmo da carteira de investimentos, que até 2028 aponta para um valor de quase R$ 97,9 bilhões em recursos públicos e privados. Somente em 2025, segundo o IJSN, os investimentos do governo do Estado devem superar a marca histórica dos R$ 4 bilhões de 2024.
“Foi o maior investimento em 2023 e vai superar isso em 2024. Então, 2025 também vai seguir essa tendência, com o investimento bem robusto por parte do governo do Estado, focado nos 78 municípios capixabas e nas dez microrregiões”, prevê Pablo Lira.
Lira concorda com Marília Silva, da Findes, dizendo que a economia capixaba também vai sentir os impactos positivos de investimentos realizados pelas grandes empresas. “O porto da Imetame; a área da Zona de processamento de Exportação, a ZPE de Aracruz. É uma área muito dinâmica, que vai receber investimentos consideráveis ao longo dos próximos anos”, cita o diretor.
Além disso, há investimentos da Petrobras no estado, com uma carteira que está na casa dos R$ 25 bilhões até 2028. Lira destaca, ainda, projetos da Samarco, com a retomada da produção gradativa, que agora já passa de 50% de operação, e investimentos no segmento de papel e celulose, com a Suzano também anunciando recursos a serem aplicados no estado.
Propostas prioritárias para o ES recomendadas pela CNI Infraestrutura Propostas BR-262 (João Monlevade ao Espírito Santo) Direcionar recursos públicos para a duplicação do trecho entre João Monlevade (MG) e Viana (ES), considerando a falta de atratividade do trecho para a iniciativa privada. BR-101 Agilizar a duplicação de trechos da rodovia no sentido Sul, principalmente no trecho de Jabaquara a Safra. Iniciar e realizar com urgência a duplicação do trecho Serra a João Neiva, paralelamente à execução dos contornos de Fundão e Ibiraçu. BR-259 Elaborar com urgência a modelagem para concessão ou inversão de recursos federais e estaduais para duplicação da rodovia. BR-342 Elaborar projeto de engenharia e implantar o trecho de Sooretama à divisa ES/MG, com extensão de 209,9 km. A BR-342 conecta Carinhanha, no sudoeste da Bahia, a Sooretama, no Espírito Santo, passando por Teófilo Otoni. BR-447/ES Melhorar o nível de serviço do corredor logístico com 4,33 km que interliga as BR-262 e BR-101 com o porto de Capuaba, através da conclusão das obras de implantação e pavimentação, incluindo obras de arte especiais. BR-482/ES Construir o Contorno de Cachoeiro de Itapemirim (ES) através da implantação, pavimentação e/ou adequação da capacidade do entroncamento com a BR-101 (Safra) ao entroncamento com a BR-484. Contornos Norte e Sul de Aracruz Realizar as obras de implantação e pavimentação. Contorno de Jacaraípe e Nova Almeida Concluir as obras de implantação e pavimentação da Av. Minas Gerais (ES 115 – Nova Almeida). Ferrovia Centro Atlântica (FCA) Aumentar a capacidade ferroviária da FCA para o ES. Atualmente limitada a 10 milhões de toneladas por ano, a concessão atual prioriza seus ativos portuários, principalmente em Santos e Aracaju, negligenciando a capacidade da unidade no porto de Tubarão. É fundamental fortalecer a conexão com a Estrada de Ferro Vitória Minas e aumentar a capacidade do trecho que liga a ferrovia ao complexo portuário de Aracruz. Ramal Sul da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) Garantir a implantação do trecho ferroviário entre Santa Leopoldina e o Porto de Ubu, em Anchieta, através de incorporação da obrigação de fazer ao contrato de concessão da Estrada de Ferro Vitoria a Minas (EFVM), com estabelecimento de prazo para cumprimento. Esse trecho ferroviário deverá ser projetado em bitola mista. Estrada de Ferro Vitória-Rio (EF-118) Determinar se o trecho continua sob concessão ou se fica disponível para autorização. Aprovar projeto e incluir no orçamento da União recursos para implantação do trecho ferroviário de Anchieta à divisa ES/RJ, com opção de extensão até a cidade do Rio de Janeiro. Esse trecho ferroviário também deverá ser projetado em bitola mista. Ferrovia JK – EF 030 Apoiar a implantação da estrada projetada pela Petrocity Ferrovias, que poderá redirecionar ao ES parte da grande carga do agro e da mineração do país, já que acessa o Porto Petrocity e poderá ligar também o Porto Imetame. Além de conectar as malhas de bitola larga e métrica da região centro sudeste do país.
Propostas prioritárias para o ES recomendadas pela CNI | |
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Infraestrutura | Propostas |
BR-262 (João Monlevade ao Espírito Santo) | Direcionar recursos públicos para a duplicação do trecho entre João Monlevade (MG) e Viana (ES), considerando a falta de atratividade do trecho para a iniciativa privada. |
BR-101 | Agilizar a duplicação de trechos da rodovia no sentido Sul, principalmente no trecho de Jabaquara a Safra. Iniciar e realizar com urgência a duplicação do trecho Serra a João Neiva, paralelamente à execução dos contornos de Fundão e Ibiraçu. |
BR-259 | Elaborar com urgência a modelagem para concessão ou inversão de recursos federais e estaduais para duplicação da rodovia. |
BR-342 | Elaborar projeto de engenharia e implantar o trecho de Sooretama à divisa ES/MG, com extensão de 209,9 km. A BR-342 conecta Carinhanha, no sudoeste da Bahia, a Sooretama, no Espírito Santo, passando por Teófilo Otoni. |
BR-447/ES | Melhorar o nível de serviço do corredor logístico com 4,33 km que interliga as BR-262 e BR-101 com o porto de Capuaba, através da conclusão das obras de implantação e pavimentação, incluindo obras de arte especiais. |
BR-482/ES | Construir o Contorno de Cachoeiro de Itapemirim (ES) através da implantação, pavimentação e/ou adequação da capacidade do entroncamento com a BR-101 (Safra) ao entroncamento com a BR-484. |
Contornos Norte e Sul de Aracruz | Realizar as obras de implantação e pavimentação. |
Contorno de Jacaraípe e Nova Almeida | Concluir as obras de implantação e pavimentação da Av. Minas Gerais (ES 115 – Nova Almeida). |
Ferrovia Centro Atlântica (FCA) | Aumentar a capacidade ferroviária da FCA para o ES. Atualmente limitada a 10 milhões de toneladas por ano, a concessão atual prioriza seus ativos portuários, principalmente em Santos e Aracaju, negligenciando a capacidade da unidade no porto de Tubarão. É fundamental fortalecer a conexão com a Estrada de Ferro Vitória Minas e aumentar a capacidade do trecho que liga a ferrovia ao complexo portuário de Aracruz. |
Ramal Sul da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) | Garantir a implantação do trecho ferroviário entre Santa Leopoldina e o Porto de Ubu, em Anchieta, através de incorporação da obrigação de fazer ao contrato de concessão da Estrada de Ferro Vitoria a Minas (EFVM), com estabelecimento de prazo para cumprimento. Esse trecho ferroviário deverá ser projetado em bitola mista. |
Estrada de Ferro Vitória-Rio (EF-118) | Determinar se o trecho continua sob concessão ou se fica disponível para autorização. Aprovar projeto e incluir no orçamento da União recursos para implantação do trecho ferroviário de Anchieta à divisa ES/RJ, com opção de extensão até a cidade do Rio de Janeiro. Esse trecho ferroviário também deverá ser projetado em bitola mista. |
Ferrovia JK – EF 030 | Apoiar a implantação da estrada projetada pela Petrocity Ferrovias, que poderá redirecionar ao ES parte da grande carga do agro e da mineração do país, já que acessa o Porto Petrocity e poderá ligar também o Porto Imetame. Além de conectar as malhas de bitola larga e métrica da região centro sudeste do país. |
Construção e mercado imobiliário
Outro segmento que deve movimentar a economia capixaba em 2025 é o da construção civil e do mercado imobiliário, com uma tendência de expansão. “Os negócios já estão bem aquecidos na Região Metropolitana e municípios polos, como Linhares, Aracruz e Cachoeiro de Itapemirim, entre outros, também vão congregar esses investimentos”, prevê Lira.
Com base nesses dados e estatísticas que são processados e analisados pelo IJSN e outras instituições de pesquisa, Pablo Lira acredita que o estado do Espírito Santo vive “seu melhor momento de desenvolvimento econômico, social e sustentável das últimas décadas”. E a perspectiva, segundo ele, é muito positiva para que isso siga ao longo de 2025 e dos próximos anos.


Recursos para saúde, educação e segurança
O Projeto da Lei Orçamentária Anual (PLOA) do governo do Estado estima a receita e fixa a despesa para o exercício financeiro de 2025. Veja alguns pontos:
– A previsão do PLOA 2025 é de uma receita total dos orçamentos da Seguridade e Fiscal no valor de R$ 29,5 bilhões – 18,4% superior ao estimado para 2024, que foi de R$ 24,9 bilhões.
– A Receita de Caixa do Tesouro (receita disponível do Estado) estimada para 2025 está em R$ 22,9 bilhões.
– As áreas com maior aporte de recursos são Saúde, com R$ 4,7 bilhões; Educação, com R$ 3,7 bilhões, Segurança, com R$ 3,5 bilhões; e Infraestrutura, com 2,2 bilhões.
– Uma novidade do PLOA 2025 foi o chamado “Orçamento Climático”, que vai identificar e classificar ações orçamentárias relacionadas à mitigação e à adaptação às mudanças climáticas.
*Esta matéria foi publicada originalmente na revista ES Brasil 225, publicada em dezembro. Leia a edição completa da Retrospectiva 2024 aqui.