Os depoimentos dados por Marcelo Odebrecht e os demais delatores do grupo à Justiça indicam os beneficiários de pelo menos R$ 1,68 bilhão pago em propinas e contribuições ilegais de campanha. Recurso esse distribuído a políticos, lobistas, empresários e dirigentes de estatais no Brasil e no exterior, totalizando quase 500 beneficiários.
Mas o esquema montado pela empreiteira para garantir o superfaturamento de obras e o desvio de recursos públicos movimentou quantias muito maiores. Segundo delação do ex-executivo Hilberto Mascarenhas, entre 2006 e 2014, o Setor de Operações Estruturadas – famoso departamento de propinas da Odebrecht – realizou pagamentos de US$ 3,37 bilhões, montante que hoje equivale a mais de R$ 10,5 bilhões. Isso sem contar que em diversas operações apontadas pelos delatores não há detalhamento de quanto foi pago aos agentes públicos envolvidos.
O rastreamento de R$ 1,68 bilhão foi feito pelo jornal O Estado de S.Paulo com base no cruzamento de dados de três fontes de informação: os 337 pedidos de abertura de inquérito e petições assinadas pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF); os depoimentos que executivos da Odebrecht prestaram, como parte de seus acordos de delação premiada; e a planilha de pagamentos entregue aos procuradores por Benedicto Júnior, um dos delatores.
Do total de recursos em que o beneficiário foi identificado, a maior parte se destina a representantes do PT e do PMDB, partidos que dividiram o poder nos governos Luiz Inácio Lula da Silva Dilma Rousseff. Mas também há uma grande parcela destinada a líderes do PSDB, principal partido de oposição durante as gestões petistas.
O grupo Oderbrecht, que segundo os delatores enxergavam essas propinas como “investimento”, negociou favores com políticos em todas as esferas de poder – de vereadores em cidades pequenas a autoridades do Palácio do Planalto. E essa vasta negociação rendeu à empresa a aprovação de medidas tributárias que a beneficiaram e benesses em contratos de infraestrutura, compradas em comissões.
A empreiteira atendeu a pedidos, mas também ofereceu contribuições a políticos que se alinhavam a seus interesses. Procurou ainda quebrar resistências de indivíduos e grupos que identificou como potenciais obstáculos. Quanto mais influentes os políticos, maiores eram os valores pagos.
No topo do ranking de pagamentos compilado pelo Estadão – cujas posições ainda podem variar, a depender das investigações e da revelação de novos documentos – estão, além de representantes do PT, do PMDB e do PSDB, um ex-diretor da Petrobras e nomes ligados aos governos de Angola e Venezuela. Entre os políticos brasileiros que mais receberam propina, destaque para o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega (PT), os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e José Serra (PSDB-SP) e o ministro e ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD).