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quinta-feira, 28 março, 2024

“O retrato final das eleições municipais”

“O retrato final das eleições municipais”
(Fotografia – Agência Brasil)

As eleições municipais servem como uma espécie de laboratório para as eleições gerais, que ocorrem dois anos depois

Por Andre Pereira Cesar

Abstenção: a explicação para os elevados índices de abstenção registrados no pleito (23,1% no primeiro turno e 29,4% no segundo turno) vai além da questão pandemia. É evidente que parcela significativa do eleitorado está desencantada com a política em geral e o cidadão médio não se sente representado a contento. As urnas, ao final, mandaram um recado claro – os partidos precisam de uma revisão completa.

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MDB, PSDB e DEM: entre os partidos, a centro-direita tradicional (MDB, PSDB e DEM), que no passado foi a base de sustentação do governo Fernando Henrique Cardoso, somada, se saiu bem nas urnas. Juntos, os três partidos governarão poucos mais de 40% da população brasileira. O MDB conquistou 803 prefeituras, o PSDB 533 e o DEM 475. Nesse quadro, o MDB vê o surgimento de novas lideranças ocupando o espaço de velhos caciques, enquanto o PSDB concentra boa parte de seu poder no estado de São Paulo – uma demonstração de força e ao mesmo tempo uma limitação para o governador João Dória (PSDB).

PP e PSD: outros dois partidos que saem vitoriosos das urnas são o PP e o PSD. Ambos ficaram atrás apenas do MDB em número de prefeituras conquistadas (698 e 662, respectivamente), e boa parte desse poderio se concentra na região Sul do país. O resultado levou o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, hoje aliado do governo federal, a admitir a possibilidade de lançar candidatura própria em 2022. Em resumo, o peso político das duas legendas aumentou.

PT: no âmbito da esquerda e centro-esquerda, o resultado não foi dos melhores. O principal partido, o PT, elegeu apenas 183 prefeitos, amargando um nada honroso décimo-primeiro lugar no ranking partidário. Pior, não conquistou capital alguma, o que não ocorria desde a primeira metade da década de 80. As lideranças petistas precisam rever tudo – discurso, programa, comunicação com o eleitor e renovação de quadros. O discurso do “golpe” precisa ser superado rapidamente.

PDT e PSB: ainda na esquerda e centro-esquerda, PDT e PSB foram relativamente melhor. Ganharam, respectivamente, 320 e 258 prefeituras, inclusive capitais. No entanto, é inegável que ambas as legendas correm o risco da excessiva personalização de suas lideranças – as famílias Gomes (PDT) e Campos (PSB).

PSOL: a novidade emergente na esquerda é o PSOL. O partido, quem vem em uma trajetória ascendente já há alguns anos, conquistou cinco prefeituras e, mais importante, tem em Guilherme Boulos uma nova liderança nacional.

PSL: o antigo partido do presidente Jair Bolsonaro, hoje em busca de uma agremiação, triplicou seu tamanho e conta agora com 90 prefeituras. Somando-se isso ao tamanho da bancada do partido na Câmara dos Deputados (a segunda maior, empatada com o PL e atrás apenas do PT), é um equívoco chamar a legenda de “nanica”.

Jair Bolsonaro: por fim, o presidente da República não se saiu bem no pleito. Não se trata aqui de questão numérica, mas de equívocos de ação. Apoiou muito cedo candidatos pouco competitivos em importantes cidades, confrontou a legislação eleitoral ao divulgar candidaturas em suas lives e criticou novamente, sem apresentar provas, o sistema eleitoral. Erros que podem cobrar um preço elevado em breve.

Considerações finais: as eleições municipais servem como uma espécie de laboratório para as eleições gerais, que ocorrem dois anos depois. O resultado geral do pleito de 2020 confirmou o já esperado quadro fragmentado, com muitos partidos conquistando seu quinhão na cena nacional. A partir de agora, terão início efetivo as negociações visando 2022. Muitos atores políticos já se movimentam em busca de espaço e protagonismo. Aos poucos, esse quadro, hoje turvo, ganhará contornos mais nítidos.

André Pereira César é Cientista Político e sócio da Hold Assessoria Legislativa

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