Bolsonaro continua a afirmar ser vítima de perseguição politica e que não cometeu crime algum. O processo contra ele gerou suspeitas e indignação entre os bolsonaristas
Por André Pereira César
Jogo jogado. Confirmando o esperado, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete aliados responderão a processo por tentativa de golpe de Estado. A partir de agora, todos se tornam réus e terão pela frente um longo e penoso período de apresentação de provas e contraprovas.
Calcula-se que o caso esteja encerrado por volta de outubro ou novembro, o que seria rápido, dado o conhecido ritmo da Justiça brasileira e a complexidade da questão. As defesas dos envolvidos terão acesso a todos os documentos que estão em mãos da Corte e trabalharão para ao menos minimizar as possíveis penas a serem impostas aos réus.
Bolsonaro, é claro, continua a afirmar ser vítima de perseguição politica e que não cometeu crime algum. Um fato é certo – o processo contra o ex-mandatário avançou de maneira muito mais célere do que o do Mensalão, gerando suspeitas e indignação entre os bolsonaristas.
Por sinal, observa-se o recrudescimento dos embates entre os defensores do ex-presidente e os apoiadores do governo Lula (PT), em especial nas redes sociais. Exemplo claro disso está na polêmica em torno do caso de Débora Rodrigues dos Santos, que está sendo julgada pela participação nos atos de 8 de janeiro e tornou-se nacionalmente conhecida por haver escrito, com um batom, a frase “perdeu mané” na estátua da Justiça que fica em frente ao prédio do STF. “Somos todos Débora”, apregoam os bolsonaristas, em um movimento que antecipa a defesa que deverão fazer de Bolsonaro.
O debate em torno do projeto da anistia continua em campo e existe, no Congresso Nacional, pressão para que a matéria vá a voto o quanto antes. O presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União Brasil/ AP), porém, rejeita qualquer possibilidade de colocar o texto em pauta. “Não é do interesse do brasileiro”, em suas próprias palavras. De qualquer modo, a polêmica está posta e pode inclusive atrapalhar a agenda governista, em especial a proposta de isenção do IR para quem recebe até cinco mil reais. Risco real para o Planalto e para a equipe econômica.


A realidade é uma só – a polarização há tempos em curso no país ganhará ainda mais força nos próximos meses, com o avanço do processo contra Bolsonaro e aliados. Algo danoso para nossa jovem e frágil (porém resiliente) democracia.
Um último ponto. Será importante observar o comportamento do governo norte-americano ao longo do processo, dado o alinhamento entre o republicano Donald Trump e Bolsonaro. O Brasil, como se sabe, é considerado estratégico para os interesses dos Estados Unidos na região. Haveria algum tipo de interferência externa?
Enfim, o ex-presidente entra em um longo e penoso inverno, que colocará à prova sua capacidade de resistência. Os adversários de Bolsonaro, no entanto, não devem comemorar. Na verdade, trata-se de um triste capítulo da história brasileira que, esperamos, não deve se repetir.
André Pereira César é cientista político e sócio da Hold Assessoria Legislativa.