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quinta-feira, 25 abril, 2024

O gosto amargo da inflação

Entenda porque a inflação não para de subir e afeta cada vez mais a população brasileira

Por Marlon Max e Munik Vieira

O mercado deu sequência ao aumento das expectativas para a inflação mais uma vez neste ano, ao mesmo tempo em que continuou a ver crescimento menor da atividade econômica para 2022. Segundo o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neves, a alta da inflação deve ter chegado ao pico – seu maior nível – em setembro.

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“Nós entendemos que, em termos de inflação de 12 meses, setembro deve ser o pico. A gente ainda tem uma inflação alta em setembro”, disse Campos Neves, em palestra na Associação Comercial de São Paulo.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que mede a prévia da inflação oficial no país, chegou a 1,14% em setembro. A taxa é superior ao resultado de 0,89% de agosto e a 0,45% de setembro do ano passado. Com o resultado, a prévia da inflação oficial acumula taxas de 7,02% no ano e de 10,05% em 12 meses.

O gosto amargo da inflação
Fonte: Boletim Focus

Para entender como essa conta fecha – e se fecha -, o portal ES Brasil conversou com a economista Arilda Teixeira, para explicar um pouco sobre o contexto “economia x inflação”. Confira!

ES Brasil: O que é a inflação e como isso afeta o nosso país?

Arilda Teixeira: Na verdade, são três perguntas com três respostas: o que é inflação, o que provoca e qual o efeito de haver inflação.

A primeira: inflação é o aumento do custo de vida. Não é o aumento de um único elemento apenas, mas sim da economia de uma forma geral.

O que provoca a inflação: é um fato que ocorre na economia, onde o custo da produção fica mais caro. Sendo assim, tudo o que é produzido tem seu preço aumentado.

Sobre o efeito da inflação: esse é o pior resultado para a população, pois empobrece as pessoas. Na economia, costumamos dizer que o efeito da inflação “corrói o poder de compra do dinheiro”. Por exemplo, uma nota de R$ 50 não compra os mesmos produtos que compraria no período anterior.

É por isso que quando vamos ao mercado, percebemos que o dinheiro vale cada vez menos? Ou seja, isso enfraquece nosso poder de compra?

Esse é o lado mais ‘perverso da inflação’. Se ela corrói o poder de compra do brasileiro, quanto menos dinheiro a pessoa tiver no bolso, mais ela vai ser prejudicada pelos aumentos de preço. A inflação é o ‘imposto regressivo’, que cobra mais de quem ganha menos. A inflação, além de ser um distúrbio, dissemina desigualdade social e pobreza. Sempre os menos favorecidos pagam mais caro por essa distorção.

O gosto amargo da inflação
Fonte: Boletim Focus

Uma questão que hoje afeta o brasileiro – talvez no pior patamar da década – é o preço dos combustíveis, gás de cozinha e a conta de energia. O que os governos Federal ou Estadual poderiam fazer para, ao menos, congelar esses preços? Quais são os mecanismos para frear a inflação?

Na verdade, quem resolve esse é o Banco Central, autoridade monetária responsável para dar estabilidade à moeda. Neste momento, estamos vivendo um choque inflacionário que aumenta o custo de produzir, e isso ocorre no mundo inteiro. Os países estão com custo de produzir aumentados, pois os preços dos insumos em moeda estrangeira (dólar e euro) aumentaram. E aí, se o preço do dólar está em alta, logo, a moeda brasileira passa a desvalorizar. É uma conjuntura internacional.

Sabemos que o Governo Federal tem uma equipe econômica com vasta experiência. Para a população, fica a impressão que o Ministério da Economia poderia utilizar mais mecanismos para diminuir essa desvalorização da moeda brasileira, seja com algum programa ou incentivo social. Temos notícias de famílias que voltaram a cozinhar utilizando fogão à lenha. Como é possível o Ministério da Economia receber esta informação de forma tão passiva?

Essa descrição está relacionada ao comportamento dos preços, ou seja, à inflação, que é responsabilidade do Banco Central. Se o petróleo sobe, todos os derivados também têm os custos aumentados. Esses aumentos impactam em toda a cadeia produtiva.

Qual seria a missão, então, do Ministério da Economia?

O ministério cuida do fiscal, administra o caixa, controla e gerencia as receitas tributárias para torná-las compatíveis com os gastos do Governo Federal, como por exemplo, gastos com investimento, educação, saúde e saneamento básico. O Ministério da Economia administra o lado real da economia.

O gosto amargo da inflação
Foto: Marlon Rosa

Mas por exemplo, o Ministério da Economia aumentou os juros, IOF…

Não foi o Ministério da Economia, mas sim a tributação, ou seja, a Receita Federal.

Para entendermos: o que vem a ser essa tributação? Quem é este personagem, se não o Ministério da Economia?

Tributação é o Sistema Tributário.

Mas não tem um nome, um cargo, um responsável?

Quem cuida do sistema tributário é um setor dentro do Ministério da Economia. No entanto, o ministério não poderia reduzir o IOF, pois só pode gastar se o mesmo tiver receita. Ou então, se cortar gastos.

O aumento do imposto ou dos juros não está mirando uma captação maior para, quem sabe, ter uma inflação mais controlada?

Os juros não estão relacionamentos ao fiscal, mas sim ao dinheiro. Juros são formados a partir da taxa básica dada pela Selic – taxa básica de juros da economia. Essa taxa é decidida pelo estudo e análise das expectativas da inflação. Nesse momento, o Banco Central está correndo para conseguir atingir a meta da inflação, que é de 3,5%. No entanto, a inflação atual está muito mais alta, em 8,51%. Ou seja, o Banco Central tem que encarecer a taxa básica – via juros – para enxugar a liquidez da economia e, dessa forma, abortar o efeito da inflação. Ou seja, estão tentando manter a inflação na meta, mas isso impacta a economia, pois reduz a disponibilidade de dinheiro. Esse impacto é um dos componentes que fica na inflação.

O gosto amargo da inflação
Fonte: Boletim Focus

O presidente Jair Bolsonaro argumenta que a pandemia da covid-19 “prejudicou o crescimento do país”, apesar de ser um fator global. No entanto, outros países que também foram afetados pela pandemia já voltaram à ativa. Qual a sua avaliação neste sentido ‘pandemia x economia’?

O presidente, mais uma vez, está equivocado. A pandemia da covid-19 agravou a economia, mas não provocou a crise econômica. Isso porque a economia brasileira já vinha desacelerando desde 2019, dada à instabilidade macroeconômica e fragilidade institucional instalada. Durante a pandemia, o crescimento econômico continuou caindo e não houve uma gestão adequada do impacto sanitário junto ao aspecto econômico. Em minha opinião, quando a pandemia se iniciou, o Ministério da Economia deveria ter acionado de imediato o Ministério da Saúde, para que ambos criassem uma estratégia de combate. No entanto, isso não aconteceu e a situação só se agravou.

Vamos falar agora sobre a questão cambial e alta do dólar. Elas influenciam no cálculo da inflação, ou isso depende de outros fatores?

Aumentos influenciam sim a inflação. Nós estamos sob o foco inflacionário, sob um contexto em que há um aumento de custo para a população. Sempre que os preços internacionais (taxa de câmbio) sobem, causa a inflação.

O gosto amargo da inflação
Foto: Marlon Rosa

Atualmente, o salário mínimo está em R$ 1.100. Esse é um valor que está sem aumento acima do IPCA, ou seja, isso modifica diretamente a forma com que esse dinheiro chega ao bolso do trabalhador. Como podemos orientar as famílias mais simples para que consigam utilizar esse dinheiro da melhor forma?

Vou deixar um recado para todas as famílias de uma forma geral. Em momentos de restrição, temos de ser muito corretos em nossas escolhas. Focar em comprar apenas o essencial na quantidade necessária, pois isso já ajuda a controlar os gastos. Esse é um comportamento que uso. Eu não compro o que quero, mas sim o que posso comprar. Se nós nos comportarmos dessa forma, a própria demanda vai encolher e o mercado, dessa forma, ficará ‘ redondo’. O problema é que as pessoas não compram o que precisa, mas sim o que querem.

Mas não podemos deixar de destacar que, atualmente, 50 milhões de brasileiros – cerca de 25% da população – vivem na linha de pobreza e têm renda familiar equivalente a R$ 387,07. Isso é muito grave, principalmente se compararmos no mundo tecnológico em que vivemos hoje, com foguetes que vão à lua e, mesmo assim, ainda existirem famílias que comem no chão ou não conseguem comer. Isso é inadmissível. Governantes deveriam ficar envergonhados por isso.

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