Recentemente, o Brasil assistiu a um verdadeiro desmonte de reputações. Pessoal e institucional; pública e privada. O fogo da depuração ética não poupou recônditos por mais ocultos que estivessem. Uma questão veio à baila: a integridade não é como uma política corporativa, que se pendura na parede e aquilo parece blindar a instituição eternamente. Não! Integridade precisa de cultivo e muito cuidado.
Na amplitude de seu sentido, abrange desde a ética e a transparência em si, transações comerciais e financeiras, relacionamento externo e interno, até o trato humano na relação capital x trabalho. Bem da verdade, quando a integridade é ferida, normalmente houve escorregão na combinação dinheiro, sexo e poder. Mas ela é muito mais que isso. Atualmente, até um estilo de liderança pernicioso suscita discussões à órbita do conceito de integridade.
Imagine alguém que mande cortar, irresponsavelmente, custos de manutenção de equipamentos em uma atividade de risco, e, paradoxalmente, exige estabilidade operacional, assim como segurança do trabalho e qualidade de vida entre seus liderados e servidores outros. Inclusive terceiros. Essa não é uma atitude íntegra.
E tampouco moral. A questão da integridade tem evoluído muito e já não se pensa a gestão – pública, privada ou no terceiro setor – da mesma forma. Se o produtor de insumos está no além-mar, mas desconsidera questões ambientais, escraviza adultos ou explora crianças, a chance de uma marca explodir ou de um CEO ser responsabilizado é cada vez maior, em um cenário de crescente transparência tecnológica. Até porque não precisa de delação premiada para algum insatisfeito trazer provas a público.
E se os responsáveis não estão atentos a isso, a polícia e os órgãos responsáveis estão de olhos bem abertos. Já não é possível transferir responsabilidades nem economizar em práticas fraudulentas. Comprar produtos piratas, manter água parada ou jogar o lixo fora do coletor já compreende faltas graves. Explorar para prosperar está tão fora de moda quanto achar que ainda existe “mercado” como nós o compreendíamos.
Lealdade de cliente hoje é tão volátil quanto a duração de uma inovação no tempo, antes de ser copiada e virar commodity. A ganância começa a entrar na mira das reflexões sobre desigualdade social. A moralidade não é esperada apenas dos que se postam como líderes, pois conduta é uma coisa exigida de qualquer cidadão.
As regras estão ficando densas para os que ignoram câmeras nos tetos, microfones nos bolsos e olhos em um universo de possibilidade de registro. Por isso, para muitos, a era da integridade foi, está sendo ou será um grande tormento. Considerando que somos todos humanos e sujeitos aos mais impensáveis escorregões, urge que respeitemos a Lei e cuidemos do aprimoramento de nosso senso moral.
O velho “orai e vigiai” nunca esteve tão na moda. Apenas para abordar as questões visíveis da gestão, pois a contar pela complexidade da quântica existencial, a mais infalível e dura das justiças pode estar muito além dos homens.
Sidemberg Rodrigues é escritor, mestre em Sociologia, MBA em Gestão e membro da Academia Brasileira de Direitos Humanos