Economia brasileira volta a crescer e o Espírito Santo registra resultados positivos acima da média nacional
Por Gilberto Medeiros
Lideranças empresariais da indústria, do comércio, do setor de serviços e analistas do poder público são afirmativos ao dizer que a economia está voltando a crescer – ainda em passos lentos, é verdade – e dá sinais de que os próximos anos poderão ser de uma recuperação constante, se o mercado sentir confiança de que prosseguirão as reformas do Estado e de que será controlada a pandemia de covid-19. No primeiro trimestre de 2021, o Produto Interno Bruto brasileiro cresceu 1,2% e, no Espírito Santo, a alta foi de 0,7%.
A comparação é com os últimos três meses de 2020.
Apesar de todos os entrevistados a seguir terem adotado a cautela na expectativa de recuperação da economia, praticamente todos argumentam que, desta vez, não será um “voo de galinha”.
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Aqui no Espírito Santo, o mercado conta com um acelerador na retomada: o alto grau de abertura de nossa economia ao comércio exterior, sobretudo em parcerias com os Estados Unidos, com a China e com a Argentina.
É o que explica o diretor de Integração e Projetos Especiais do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Pablo Silva Lira, enquanto revela que a projeção para o crescimento do Espírito Santo é superior ao que se espera do desempenho nacional. “A projeção do Banco Mundial é de 4,5% para o Brasil, e o Espírito Santo tem condições de crescer mais que o país em 2021. Vou atualizar os dados do IBGE, comparando abril de 2021 com abril de 2020: o comércio varejista apresentou uma expansão de 27%; a produção industrial cresceu 26%; e o setor de serviços obteve crescimento de 12%”.
De fato, o comércio varejista brasileiro obteve o maior avanço mensal das vendas para um mês de abril desde o início da série histórica no ano 2000: cresceu 1,8%, de acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Um dos segmentos do comércio que alimenta altas expectativas em 2021 é o de automóveis. “Estamos com fila de três meses de clientes esperando carro. Estimamos, a partir de setembro, que o avanço da vacinação possa trazer um crescimento de 30%, chegando perto de 9 mil unidades vendidas por mês para fechar o ano mais satisfatório”, calcula o diretor-executivo do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Espírito Santo (Sincodives), José Francisco Costa.
Ele conta que o fundo do poço foi o mês de março de 2020, quando as vendas despencaram para 2,7 mil unidades em todo o Espírito Santo. “A partir do segundo semestre, começamos a melhorar esses números e chegamos a 4,5 mil veículos por mês em dezembro. De janeiro a maio, estamos com uma base de 6,8 mil unidades por mês, o que poderia ser maior. A demanda está reprimida, mas começamos a sofrer com o desabastecimento de peças”, lamentou.
Outro termômetro para a economia é a indústria, na qual qualquer ponto percentual de crescimento representa mais emprego, geração de renda e movimentação dos demais setores da economia. Segundo Marília Silva, gerente do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), o setor cresceu 0,2% no primeiro trimestre deste ano em relação ao último trimestre de 2020.
“Para a indústria de transformação, por exemplo, ao compararmos o nível de atividade medido no 1° trimestre de 2021 com o nível de atividade pré-pandemia – 4° trimestre de 2019 – , podemos observar um expressivo crescimento de 21%”, ressaltou Marília.
Construção civil cresce 29,1%
São as indústrias da construção e da transformação que, recentemente, têm influenciado positivamente o desempenho do setor industrial capixaba. A afirmação é da gerente do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Marília Silva. A indústria da construção cresceu 29,1% no primeiro trimestre de 2021 em comparação com o mesmo período de 2020.
Os empresários da construção civil comemoram os números, mas com cautela. Segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Espírito Santo (Sinduscon-ES), no 1º trimestre de 2021, o Índice de Velocidade de Vendas mensal geral foi de 8%, sendo 7,23% no segmento de médio e alto padrão, e 9,83% no segmento econômico.
Apesar de esses índices apontarem uma redução na velocidade de vendas em relação ao ano de 2020, o presidente do Sinduscon-ES, Paulo Alexandre Gallis Pereira Baraona, explica que são números bons, pois estão acima do nível pré-pandemia.
“Estamos entrando novamente num processo de recuperação, mas ainda uma recuperação mais lenta. Dependemos da reforma administrativa e tributária. Quando pensa em comprar um imóvel, o consumidor avalia a estabilidade do emprego, do seu negócio. Ele precisa de confiança no governo, nos mercados. Precisa que o governo ajude a dar às pessoas segurança para que elas façam investimentos. Mas a tendência é de início da recuperação”, apontou.
O presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Espírito Santo (Ademi-ES), Sandro Udson Carlesso, mostrou-se otimista. Ele disse que a alta nas vendas em 2020 contribuiu para reduzir estoques, o que faz girar a roda da construção civil.
Na sequência, ele lista os motivos para a expectativa de crescimento. “A indústria está voltando a fazer lançamentos; com a taxa de juros baixa, a poupança dá prejuízo; com a concorrência, os bancos aumentaram a oferta de crédito; as empresas incrementaram o atendimento virtual; e passando mais tempo em casa durante a pandemia as pessoas despertaram para a necessidade de mudar o perfil de seu imóvel, para poder trabalhar em casa”, afirmou Carlesso.
Avanço da vacinação possibilita retomada para bares, restaurantes e turismo
Vêm do turismo também as primeiras boas notícias de 2021. A Pesquisa Mensal de Serviços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas mostrou que, no 1º trimestre de 2021, as atividades turísticas no Espírito Santo cresceram 1,6% sobre o trimestre anterior. Esse foi o terceiro crescimento consecutivo, principalmente, pelo resultado dos meses de janeiro e fevereiro. O número de pessoas ocupadas nas atividades características do turismo, no estado, foi estimado em aproximadamente 137 mil pessoas no 1º trimestre de 2021, cinco mil a mais que no final de 2020, quando eram 132 mil.
Dez por cento dessas novas vagas (503) foram abertas em estabelecimentos de alimentação. Exatamente o setor que talvez tenha sido o que amargou o maior prejuízo em 2020, conforme lamenta o presidente do Sindicato dos Restaurantes, Bares e Similares do Espírito Santo, Gustavo Vervloet. “A gente registra o fechamento de 60% dos estabelecimentos de bares, restaurantes e lanchonetes”, calculou.
“Essa retomada é ainda muito tímida e muito recente, mas a perspectiva para o Natal é positiva. Todos estão contratando com cautela, comprando estoque com cautela. Mas a esperança, o otimismo a gente sempre tem. A vacinação é o grande divisor de águas para 2021 ser melhor que 2020”, completou.