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sexta-feira, 16 DE maio DE 2025

Momento é favorável para empresas aderirem ao ESG

Não há mais uma visão de que a agenda ESG seja apenas da área de sustentabilidade e passou a ser tratada como uma agenda da organização

Por Daniel Hirschmann

O Brasil vive um momento favorável para as empresas implantarem em seus negócios a agenda ESG (sigla em inglês para boas práticas nas áreas Ambiental, Social e de Governança Corporativa). Na opinião de analistas e consultores com experiência na área, hoje existem boas referências nacionais do ponto de vista de práticas e de benchmark, além de referências internacionais de fácil acesso para as organizações seguirem.

As companhias têm formas de comparação com concorrentes, com o mercado e com o seu próprio setor de atuação. “Eu vejo um momento muito propício para as empresas avançarem. Eu vejo referências muito boas para que se possa ter a inspiração para fazer essa agenda avançar internamente. Então, hoje só não avança quem não quer”, afirma o coordenador do grupo de trabalho da Comissão de Sustentabilidade e da Comissão de Gerenciamento de Riscos Corporativos do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), João Carlos Redondo.

Segundo Redondo, o momento é “muito feliz do ponto de vista de prática”, porque não há mais uma visão de que esta agenda seja apenas da área de sustentabilidade e passou a ser tratada como uma agenda da organização, liderada não pela área operacional, mas pela alta liderança, dentro do conselho de administração ou da presidência executiva. “Então, vejo um momento muito propício a essa agenda, ainda que haja necessidade de esclarecimento da sociedade como um todo sobre o que é ESG nas organizações”, comenta o coordenador do grupo do IBGC.

Entre os esclarecimentos necessários, destaca-se uma dúvida: quem tem que fazer ESG e para quem ele se aplica? “O ESG é uma agenda e uma pauta que se aplica para absolutamente todas as empresas”, responde o vice-coordenador do Doutorado Acadêmico de Ciências Contábeis e Administração da Fucape, Poliano Bastos da Cruz. Ele lembra que essa agenda teve início no âmbito do mercado financeiro, mas hoje vai além, abrangendo tanto consumidores quanto investidores. “Não é só investimento em mercado financeiro. A gente está falando de consumidor, de produto final no varejo também, e de produtos e serviços. Então, ele se aplica absolutamente a todas as empresas”, salienta.

Momento é favorável para empresas aderirem ao ESG
Poliano Bastos da Cruz é professor da Fucape

Bastos da Cruz frisa que o ESG não é só uma pauta ambiental, pois tem os aspectos social e de governança. Na parte ambiental, por exemplo, não são somente grandes empresas e indústrias que poluem. Uma empresa de serviço pequena ou um profissional autônomo pode reduzir seu impacto no meio ambiente fazendo uma melhor gestão de resíduos, coleta seletiva de lixo, ou reduzindo o uso inadequado de água. “É por isso que o ESG se aplica para absolutamente todas as empresas, todos os segmentos, todos os tipos de bens e serviços”, reforça. Nesse sentido, pequenos negócios também podem avaliar, por exemplo, os níveis de emissão de gases de efeito estufa, quantos aparelhos de ar-condicionado a empresa tem, se eles têm gás ecológico, quanto tempo ficam em uso, qual o tamanho do local em que estão instalados, se a empresa usa algum tipo de energia renovável, como a fotovoltaica, entre outros aspectos.

Na parte social, o professor da Fucape diz que é preciso observar como é a qualidade de vida dos trabalhadores da empresa, se existe um mapa de risco no setor, se tem Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa). Também são importantes as práticas dos fornecedores, para identificar problemas que possam causar prejuízos à imagem e aos negócios, como o uso de mão de obra análoga à escravidão, entre outros riscos.
Já na parte de governança, ele destaca a transparência com as informações para os clientes e todos os stakeholders.

“Você tem, dependendo da sua estrutura societária, política de diversidade, de inclusão? Se você tem um conselho de administração, tem algum tipo de bonificação que é atrelada a critérios ESG? Você tem política de diversidade e inclusão no seu conselho de administração? Você protege o seu acionista minoritário?”, cita Bastos da Cruz.

ESG x Ação Social

Para Daniela Klein, consultora de ESG e CEO da KICk, uma empresa capixaba de comunicação ambiental, é importante não confundir uma simples ação social com ESG. Ela lembra o caso de um pequeno empresário que fazia coleta de tampinhas plásticas para ajudar uma entidade e pensava estar fazendo ESG.

“É uma ação bacana, que pode se encaixar como uma ação social. Mas quantas tampinhas você consegue recolher? Qual é o seu objetivo ao recolher essa tampinha? Qual sua meta? E como isso resolve um problema da sua empresa?”, pondera.

Klein explica que é preciso ter objetivos definidos e mensurar os efeitos positivos de cada ação. “Não é fazer por fazer; é contabilizar o que você fez. É ter indicadores. É ter meta para o que você está fazendo, ter propósito no que está fazendo. Você sabe o porquê do que você está fazendo?”, questiona a consultora.

Outro engano, segundo ela, é pensar que a agenda ESG existe para tirar dinheiro das empresas e destinar para ações de meio ambiente ou ações sociais. “Esquece. Não tem nada de tirar dinheiro da empresa. O ESG prevê uma harmonia muito grande entre as coisas para que a empresa não perca dinheiro. Não é o contrário. As pessoas ainda confundem muito isso”, diz Klein.

João Carlos Redondo, do IBGC, acrescenta que a agenda ESG exige formalização, e não burocracia. Ela exige processo e responsabilidade. “À medida que você tem um processo muito mais estruturado dentro da organização, para o empresário, seja de que porte for, vai ficar mais seguro do ponto de vista da gestão de risco. Ele vai ter um processo mais eficiente, com menor custo, com menor desperdício e, portanto, com mais lucratividade”, explica.

Além disso, há a parte da percepção, de uma captura de valor do ponto de vista reputacional e de confiança, credibilidade e responsabilidade corporativa. “Quanto vale isso? Isso não está na contabilidade, isso não está em relatório nenhum, mas as pessoas percebem, a partir da transparência que é dada por aquela organização, nas suas práticas, como ela lida com seus dilemas”, comenta.

Redondo percebe que existem alguns dilemas para empresas que querem começar a adotar a agenda ESG. O primeiro ponto, segundo ele, é desconhecer onde a empresa está nesse processo. “O primeiro ponto é não entender o momento da organização. O que eu quero dizer com isso? Qual a maturidade das minhas práticas socioambientais e de governança?”, diz ele. A recomendação, nesse caso, é começar pelo básico, por aquilo em que a empresa já está confortável. O empreendedor deve “tirar uma ‘fotografia’ de onde está para saber para aonde quer ir”. Se essa etapa não for cumprida, com metodologias adequadas, a empresa pode “começar a construir um prédio a partir do segundo andar” e depois vai ter que corrigir o processo.

Critérios e certificações

Escolher as metodologias, porém, pode ser uma dificuldade para quem tiver interesse na adoção do ESG, já que não existe uma certificação com um critério fixo para definir o nível de ESG de uma empresa. “O que tem é um entendimento se existe equilíbrio e sustentabilidade naquela empresa, atendendo às três letrinhas (ESG), para saber se vale a pena ou não botar o meu dinheiro, botar o meu talento, associar minha imagem”, diz Daniela Klein.

Um dos sinais, de acordo com ela, para saber se uma empresa está realmente seguindo a agenda ESG é a adoção, seja como signatária ou não, do Pacto Global, com foco nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). “A empresa deve tentar pelo menos se inspirar nesses critérios. E adotá-los, adotar esses Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, é um caminho para seguir a agenda ESG”, sugere.

Já Poliano Bastos da Cruz, da Fucape, entende que os ODS não contemplam todos os aspectos do ESG e aponta outras fontes de orientações para os interessados, como a certificação BCorp, a Morgan Stanley Capital International (MSCI), a Sustainalytics Risk Ratings, o Institutional Shareholder Services (ISS ESG) e o Global Reporting Initiative (GRI), entre diversas outras.

Ele destaca a International Financial Reporting Standards Foundation (IFRS Foundation), de que o Brasil é signatário, inclusive com a criação do Comitê Brasileiro de Pronunciamento de Sustentabilidade, que interpreta as normas internacionais do IFRS emitidas por um órgão chamado International Accounting Standards Board (IASB), com o padrão para comunicação de normas contábeis financeiras.

“Ela está muito próxima da SEC (sigla em inglês para a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos), em termos de conversa e alinhamento do que vai ser feito para divulgação de critérios de ESG”, conta Bastos da Cruz. Desse trabalho foi criado o International Sustainability Standards Board (ISSB), equiparado ao IASB, que neste ano já emitiu duas normas contábeis para sustentabilidade – a IFRS S1 e a IFRS S2.

Segundo o professor da Fucape, esse framework da IFRS Foundation dá uma sinalização de quais práticas serão mais utilizadas. “Ele pegou o GRI e colocou lá para dentro; os Princípios para o Investimento Responsável (PRI) da ONU estão lá dentro também; os ODS estão lá dentro; Fórum Econômico Mundial está lá dentro. A Task Force on Climate Related Financial Disclosures está lá dentro e ela finalizou os trabalhos dizendo que a missão dela foi cumprida na constituição do ISSB”, relata.

A partir daí, está sendo utilizado o padrão do Sustainability Accounting Standards Board (SASB), que agora faz parte do ISSB, uma organização do terceiro setor que definiu padrões contábeis pró-sustentabilidade de como as empresas devem divulgar seus dados. “Diferente do GRI e dos outros indicadores, que são genéricos, aplicados a qualquer empresa, o SASB tem normas específicas e técnicas e formas específicas por setor, para que a especificidade de cada setor, de cada indústria, seja levada em conta na hora de fazer essas divulgações”, avalia.

A expectativa, segundo ele, é de que o Brasil vai exigir o que o ISSB adota, que é o que o SASB adota e que o GRI adota.

As empresas também podem usar o sistema Business Impact Analysis (BIA), que é gratuito e online, para fazer a análise de impacto do negócio em cenários de risco. “E pode contratar uma consultoria para começar”, acrescenta o professor.

Questões climáticas

Momento é favorável para empresas aderirem ao ESG
Sandra Morales é gerente de Impacto Socioambiental do IBGC

Além de consultorias, a orientação profissional também está disponível por meio de cursos, palestras e fóruns que vêm-se espalhando pelo país, sempre buscando acompanhar as mudanças e transformações da sociedade em que a empresa está inserida. “Talvez a bola da vez sejam as mudanças climáticas. E aí vem um desafio enorme de preparar a liderança para as discussões das questões climáticas, porque as questões ambientais são questões já maduras”, diz João Carlos Redondo, do IBGC.
A gerente da área de impacto socioambiental do IBGC, Sandra Morales, aponta que na questão das mudanças climáticas os desafios são muito semelhantes à agenda ESG como um todo e que, sob a ótica da governança, também deve ser implementada a governança climática. Além disso, deve ser inserida na pauta a questão da biodiversidade. “Esses temas têm que caminhar juntos e, no caso do Brasil, não se pode só olhar para a questão do clima em si, mas também trazer a questão do social e a da biodiversidade, porque eles são temas totalmente entrelaçados, interdependentes”, defende a gerente do Instituto.
Ela nota que vem crescendo o interesse pelos cursos do IBGC na trilha ESG, já incorporando um sobre mudanças climáticas. Neste ano, também foi lançado o curso de mercado de carbono. “A proposta é que a gente venha promovendo esses espaços para que as pessoas possam cada vez mais se apropriar e se letrar, estar mais conscientes, para poder, dentro das suas empresas, se movimentar e avançar com essa agenda”, afirma Sandra Morales.

Motivação para ter agenda ESG

As organizações normalmente iniciam um processo de adoção do ESG por três grandes motivos, segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. E esta é a questão central em que a empresa tem que pensar: qual é a motivação para avançar?

Por convicção
Quando o acionista, o dono e empreendedor, entende que essa agenda é boa para o negócio. Ele percebe que precisa aprender a fazer e decide trabalhar a questão ao longo do tempo. Ele tem convicção de que a agenda ESG vai ser boa e vai gerar valor para sua empresa.

Por conveniência
Este caso “é uma armadilha”, segundo o IBGC. É quando o concorrente está fazendo, o empresário vê todo mundo saindo na mídia e também quer “pegar carona nessa história”. No entanto, não tem as bases resolvidas por dentro e pode gerar um problema de greenwashing (“lavagem verde” ou “maquiagem verde”, que é um marketing falso sobre essas questões). Isso pode arranhar a reputação da empresa, gerando mais problemas do que benefícios.

Pelo constrangimento
Quando a companhia é arrolada em um processo reputacional – por exemplo, numa prática trabalhista ou numa questão ambiental – e precisa dar resposta para sociedade. Aí começa a avançar nisso, porque teve um aprendizado doloroso e precisa resolver a questão.

*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 215, de agosto de 2023. Leia a edição completa do Anuário Verde aqui.

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