25.5 C
Vitória
segunda-feira, 9 DE dezembro DE 2024

Marketing Bugado

“Não faz mal pedir ajuda aos algoritmos para atingir nossos diferentes objetivos, mas é importante dar um passo para trás e respirar”

Por Cláudio Rabelo

Depois dos smartphones, tablets, vestíveis (watch, ear phone, glass) e assistentes por voz, a indústria lança uma novidade: cada criança recebe um robô de brinquedo, que usa seus algoritmos para varrer todos os padrões já deixados nas redes, desde o nascimento de seus “donos” até seus hábitos atuais. E assim se tornam assistentes pessoais para encontrar amigos compatíveis.

Essa é a história de “Ron bugado”, lançado pela Disney, sobre um desses robôs que caiu de um caminhão e, assim, ficou com um bug, que o impossibilita de acessar a nuvem. Dessa forma, ele deve aprender sobre os hábitos e preferências da criança de forma analógica, de acordo com a vivência e a experiência cotidiana.

Percebi que o mundo tem se mostrado estéril e dualista. Mesmo que existam milhares de perspectivas e nós de redes para entendimentos de um dado tema, as pessoas têm buscado conforto nos algoritmos para enxergar suas verdades. A persuasão, como estratégia discursiva, atingiu a sua máxima potência, uma vez que a mágica dos dados entrega a realidade empacotada que cada um está predisposto a aceitar.

- Publicidade -

Particularmente tenho buscado as coisas bugadas. O livro sobre um assunto que não me diz respeito, a comida que ainda não experimentei, as amizades com as pessoas diferentes de mim, as músicas de artistas desconhecidos em países aleatórios e os filmes que o algoritmo não me indica.

Tenho visto que muitos dos meus colegas publicitários, ou profissionais de marketing têm se focado tanto em machine learning, conversões, otimizações, análises preditivas, data driven e SEO, que parecem ter se esquecido da humanidade, ainda essencial para atingir quaisquer objetivos.

Eu não estou negligenciando a importância dos dados… as ferramentas acima descritas inclusive estão contempladas no meu novo livro, que já está em fase de assinatura de contrato com uma das maiores editoras de negócios do Brasil.

Porém vejo muitos estrategistas falando de conversões e dados sem falar em experiência humana, confiança, sensorialidade, qualidade na entrega, responsividade empática, usabilidade, conversa, pós-vendas, assistência técnica, espírito de comunidade, contrapartida social, encantamento, sinceridade e respeito.

Vou falar uma grande besteira. Pode ser besteira. Então, entenda como uma utópica metáfora e não como uma possibilidade, já que nosso imaginário sobre desenvolvimento humano já criou esse simulacro absurdo, que sobrepõe qualquer sentido de real. Enquanto Rússia, Ucrânia, EUA, China, Alemanha, Inglaterra, ONU, Otan, Greenpeace, o Vaticano, os investidores da bolsa de valores e até mesmo o Brasil usam hackers, sistemas complexos e seus turbilhões de dados para tentar resolver o impossível quebra-cabeças de um impasse econômico, histórico, político, geográfico e bélico mundial, seria de grande valia um bug nessa lógica estratégica.

Imagina só se tudo fosse resolvido com um grande abraço. Simples assim! A professora do ensino primário de cada um deles chegaria perto e diria… “Shhh…não quero ouvir mais nem um pio.

Dá um abraço nele e fica amigo logo”. Ninguém sairia humilhado e a gente tentaria fazer aquilo que Habermas propôs: uma ação comunicativa em prol de um consenso em vez de uma razão instrumental que busca a vantagem para atingir um fim. Isso representaria um grande bug na política mundial. Somente líderes mundiais “bugados” iriam propor resolver as coisas com um abraço.

Somente marcas “bugadas”, que dão pausas nessa lógica dos dados, vão passar a tratar seus clientes, colaboradores, fornecedores, concorrentes, mercados correlatos, mídia e sociedade de forma mais humana e justa. Não faz mal pedir ajuda aos algoritmos para atingir nossos diferentes objetivos, mas é importante dar um passo para trás e respirar.

Claudio Rabelo é professor da Ufes, TedX Speaker, pós-doutor em Estudos Culturais pela UFRJ e autor do Livro “Faixa preta em publicidade e propaganda”.

 

Mais Artigos

RÁDIO ES BRASIL

Continua após publicidade

Fique por dentro

ECONOMIA

Vida Capixaba