Os programas “Calçamento Rural” e “Rotas Turísticas” pavimentaram estradas rurais espalhadas por mais de 17 municípios capixabas
Por Kikina Sessa e Ludmila Azevedo
Os programas de pavimentação das estradas do interior do Espírito Santo vão além do “Caminhos do Campo”. Além do uso do Revsol para a pavimentação, algumas vias receberam os blocos intertravados, como Rota do Carmo, em Aracê, distrito de Domingos Martins, conhecida pelo grande número de propriedades rurais agrícolas e estabelecimentos turísticos como restaurantes, cafés e pousadas.
De acordo com a Seag, foram 9 km de reparos, facilitando o tráfego de veículos, a visitação de turistas e o escoamento da produção agrícola. O governo do Estado pavimentou o trecho com blocos intertravados, num investimento de R$ 13 milhões.
Estes blocos intertravados de cimento também foram a escolha da Seag para obras do programa “Calçamento Rural” em estradas espalhadas por 17 municípios capixabas.
Em 2024, a secretaria investiu mais de R$ 18 milhões na aquisição e repasse desses blocos às prefeituras, que executam as obras em parceria com o governo do estado. Com essas entregas, 35 km de vias rurais estão recebendo o revestimento com os blocos.
O programa Rotas Turísticas, parceria entre o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-ES) com as prefeituras municipais, é mais um que prevê recursos para pavimentação de locais com potencial turístico. Em Domingos Martins, por exemplo, graças a essa iniciativa foram pavimentados 90.304 m² no ano passado.
Além disso, 31 mil metros de meio-fio foram instalados. As obras são realizadas com blocos PAV’s do tipo holandês.
A chamada Rota Imperial Barcelos, localizada no município, foi contemplada pelo Rotas Turísticas em 2023. O produtor rural Rogério Manzolli é morador da região e também comemora as melhorias alcançadas com a revitalização do distrito. “Nossa estrada vicinal é de chão de terra. Sempre tivemos problemas nos períodos de chuva, apesar da manutenção com patrolamento e cascalho nas épocas secas. Como há muitos morros por aqui, era comum a formação de valetas, tornando impossível passar. Algumas crianças já chegaram a ficar dois meses sem frequentar as aulas por causa da qualidade das estradas após as chuvas”, lembra Rogério. Com a parceria, 3 km de estrada receberam calçamento rural na região, transformando a vida da comunidade.
Acesso a insumos agrícolas e aumento nas vendas
A Rota Imperial Barcelos é uma das mais antigas rotas turísticas da região das Montanhas Capixabas, e recebeu este nome porque o imperador D. Pedro II chegou a fazer esse percurso. No distrito de Barcelos, inclusive, ainda há uma construção que foi erguida na época para abrigar a tropa que percorreu esse caminho.
“O local já tinha sido pensado para o agroturismo, por termos uma fábrica de bombons caseiros, uma pequena pousada, famílias produzindo biscoitos… Com o calçamento, estamos crescendo e recebendo mais visitantes nas propriedades”, explicou Rogério.
O agricultor produz abacate, mexerica, pocã, goiaba, morango, pimentão, abobrinha e tomate e, agora, também tem maior facilidade para escoar a produção para os compradores. “Os vizinhos também estão tendo boas vendas com produção de repolho, feijão, milho, gado, leite e queijo”, acrescentou.
Em Alfredo Chaves, a ES-164, que liga as localidades de Nova Estrela e São João de Crubixá, recebeu recursos do Caminhos do Campo para a aplicação de Revsol. Desde 2017 o município recebe o produto para o uso nas estradas rurais. Em 2020, foi inaugurado o Centro de Distribuição de Revsol (CDR) em Alfredo Chaves.
O local é responsável pela doação dos coprodutos Revsol e Revsol Plus. O CDR recebe cerca de 5 toneladas por mês e ainda encaminha o material a outras prefeituras da região sul do estado.
“Houve muitas melhorias na nossa estrada com o Revsol.
Antes da aplicação era muito difícil o acesso na ES-164 para chegar à minha propriedade, em Nova Estrela. Agora, mesmo quando chove, não temos problemas para escoar a produção”, comemorou o produtor de leite e derivados Luciano Grasse, diretor da Cooperativa de Laticínios de Alfredo Chaves (Clac).
Outras localidades do município, porém, ainda aguardam o serviço de pavimentação ou calçamento. É o caso do Vale do Batatal, na ES-376. “Hoje, nossa comunidade tem uma comissão de moradores que está dialogando com os órgãos estaduais, pedindo melhorias para essa estrada. O posto de saúde 24 horas, farmácia e supermercado mais próximos da minha casa ficam a aproximadamente 15 km de distância da propriedade. Infelizmente, ainda temos que enfrentar estradas de terra, muitas vezes em péssimo estado, com buracos e atoleiros”, afirmou a produtora Angélica Rossi Bubach, da Associação das Mulheres do Vale do Batatal.
A associação produz bolos, biscoitos caseiros, conservas e massas. “É muito importante para o nosso negócio ter uma estrada em boas condições, porque facilitaria o nosso deslocamento para a compra de matéria-prima e, posteriormente, para a venda e entrega de nossos produtos. Não conseguimos comprar matéria-prima de empresas no atacado, que não fazem entregas na nossa associação, alegando que a estrada é muito ruim para os caminhões. No momento, pagamos mais caro nos insumos em supermercados da região”.
Em 2022, o município chegou a se reunir com o DER-ES para pleitear a aplicação de Revsol na ES-376, ao longo de 22 km entre Batatal e a comunidade de Aparecida. A prefeitura argumentou que o trecho é muito usado para escoar produção agrícola e passagem de transporte escolar. Na ocasião, o município informou que há interesse em executar a obra com recursos próprios, mas uma normativa do Ministério Público inviabiliza a realização dos serviços com verba municipal, por se tratar de uma rodovia estadual. Enquanto isso, os moradores aguardam a liberação do trecho para o Caminhos do Campo.
*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 223, de setembro de 2024. Leia a edição completa sobre o Agronegócio capixaba aqui.