A estrutura das escolas de samba ensina muito sobre planejamento estratégico
Por André Gomyde
Se você já tentou organizar um almoço de família para mais de cinco pessoas, sabe que planejar qualquer coisa que envolva humanos é um desafio comparável a pastorear gatos. Agora, imagine coordenar uma escola de samba. Milhares de pessoas, cada uma com sua fantasia, sua coreografia e sua opinião sobre como tudo deveria ser feito. E, no fim, tudo precisa sair perfeito. No tempo certo. Com emoção.
Empresas também precisam de planejamento. Elas fazem reuniões, definem metas, distribuem tarefas, estipulam prazos. Mas nada que se compare à pressão de um desfile na Sapucaí. Porque se na empresa o cronograma atrasa, as reuniões se multiplicam. Já no samba, se o cronômetro zera antes do último carro passar, adeus título.
A estrutura das escolas de samba ensina muito sobre planejamento estratégico. O enredo é a visão. A bateria, a execução precisa. Os diretores de ala, os gestores que precisam transformar teoria em prática. E enquanto numa empresa os departamentos podem se dar ao luxo de operar com autonomia, no carnaval a interdependência é total. Se a harmonia falha, se uma ala atrasa, o efeito cascata derruba tudo.
Outro detalhe: a maioria dos integrantes se reúne apenas no dia do desfile. Durante o ano, os diretores de ala ensaiam suas equipes, organizam suas tarefas, resolvem crises. Mas, no momento da verdade, tudo tem que fluir com a naturalidade de um samba bem tocado. Na empresa nem sempre é assim. Projetos emperram. Comunicação falha. A burocracia atrasa. Se uma escola de samba funcionasse como certas empresas, teríamos comissão de frente improvisando, alegorias desmontando no meio da avenida e passistas dançando em ritmos diferentes.
E tem o fator humano. No carnaval, ninguém desfila só por obrigação. Há uma paixão que movimenta cada integrante, do mestre-sala ao puxador de samba. No mundo corporativo, nem sempre há essa mesma energia. E talvez esteja aí a grande lição: planejar é essencial, mas só funciona quando há engajamento real.


Então, da próxima vez que sua empresa estiver atolada em planilhas e apresentações de PowerPoint que ninguém vai ler, lembre-se: há quem coordene um espetáculo grandioso com milhares de pessoas e faça tudo dar certo, sem precisar de reuniões intermináveis. E, acima de tudo, com alegria.
André Gomyde é presidente do Instituto Brasileiro de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis e Mestre em Administração pela FCU, nos Estados Unidos. Instagram: @andre.gomyde