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sexta-feira, 19 abril, 2024

Legado da pandemia para educação

Escolas
Foto: Diego da Rosa/ GES

O uso das tecnologias digitais na educação básica veio para ficar, não tem volta

Por Haroldo Corrêa Rocha

A pandemia de Covid-19 provocou, a partir do mês de março, a suspensão das atividades presenciais da educação em São Paulo e em todo o Brasil. Tem sido um grande desafio para os sistemas de ensino e suas escolas praticar a educação remota ou a educação com mediação tecnológica (emt), mas precisamos enxergar nesta experiência um legado da pandemia para a educação básica.

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Importante observar que em grande medida o sucesso alcançado pela educação remota em São Paulo se deveu, em primeiro lugar, à velocidade com que foi implementado o Centro de Mídias e, em segundo lugar, ao comprometimento e criatividade dos educadores estaduais. Verificamos na prática os efeitos positivos da paixão e do propósito dos educadores pela atividade que abraçaram como profissão. Eles têm plena consciência da relevância de seu trabalho para o desenvolvimento das competências e habilidades cognitivas e socioemocionais e, por conseguinte, para o futuro dos seus alunos.

Em que pese a paixão dos educadores, faltava a educação pública uma maior utilização das tecnologias digitais no processo de ensino-aprendizagem. A pandemia forjou as condições objetivas para este avanço. As tecnologias facilitam enormemente o trabalho dos professores, ampliam as bases de acesso ao conhecimento para os estudantes e conectam de forma mais fácil a escola com as famílias. O uso das tecnologias digitais na educação básica veio para ficar, não tem volta. O ensino híbrido, atividades presenciais nas escolas somadas a atividades remotas mediadas pela tecnologia, se tornará uma realidade cada vez mais consolidada e abrangente na educação básica pública.

Neste ano de 2020, em termos de uso da tecnologia na educação, faremos o que seria feito em condições normais em uma década. Pesquisa do Instituto Península realizada em abril e maio, com professores de todo o Brasil, indicam que 88% dos professores não tinham até então dado aulas remotas e que apenas 19% dos professores das redes estaduais se consideravam muito ou totalmente preparados para as aulas remotas. Por outro lado, se na largada era baixo o nível de preparo dos professores, são muito significativas as motivações para o futuro.

A Pesquisa Educação, Docência e a Covid-19, IEA/USP, mostra que 79% dos professores acreditam que a educação mediada por tecnologia mude para melhor o trabalho docente e 68% acreditam que mude para melhor a educação. Estes dados são muito animadores, pois assim teremos uma chance real de transformar a educação e implementar um novo modelo de escola e de educação para o século XXI.

O uso da tecnologia na educação básica avançava lentamente antes da pandemia, em grande medida, devido a inercia da escola tradicional que acompanha a humanidade ao longo dos últimos 200 anos. Esta escola se caracteriza por um trabalho pedagógico predominantemente fundamentado em aulas expositivas, que são ministradas para alunos organizados em fileiras nas salas de aulas e que cada vez mais se mostram entediados com este modelo de escola.

Na verdade, as tecnologias digitais poderão ser grandes aliadas da transformação da educação. Os estudantes e os professores do século XXI podem, através da internet, ter acesso ao conhecimento infinito e querem cada vez mais ter autoria no trabalho de busca do conhecimento. Muda o foco da escola, do professor que ensina conteúdo, para o estudante que desenvolve competências e habilidades cognitivas e socioemocionais, tornando-se fundamental e revitalizando-se a parceria das escolas com as famílias.

A pandemia de Covid-19 forçou o uso da tecnologia digital para que a paralisação das aulas presenciais não gerasse o abandono dos estudantes e a interrupção completa de seus processos de aprendizagem. O lema principal tornou-se a escola não pode abandonar seus estudantes e abrir mão de cumprir sua missão. A solução já existia e estava latente. A pandemia acelerou o processo. No caso da rede estadual paulista já havia o planejamento e o início da implementação do Centro de Mídias da Educação de São Paulo (CMSP), mas isto se realizava em ritmo lento, tanto por conta das complexas regras de compras do setor público, como também pelas dificuldades enfrentadas pelos professores para mudar sua prática de sala de aula.

Com a emergência criada pela pandemia, com o apoio de parceiros privados e um enorme esforço da equipe de tecnologia da SEDUC/SP, num prazo de 30 dias foi implantado o Centro de Mídias. Nos cem dias que se seguiram foram feitos avanços tecnológicos extraordinários, cabendo citar as turmas digitais que possibilitam aos professores a interação com seus alunos através do CMSP. Por outro lado, na linha de frente as equipes escolares incrementaram de forma crescente a comunicação com as famílias, conseguindo assim o aumento gradativo de engajamento dos estudantes.

Além do Centro de Mídias, foi incrementado o uso de outras tecnologias digitais que já se faziam presentes no dia a dia das escolas. Cabe mencionar os sistemas de videoconferência (zoom, teams, meet, etc), as mídias sociais (facebook, youtube), o whatsapp e várias plataformas digitais de conteúdos educacionais.

O retorno às aulas presenciais contará com o complemento da educação mediada por tecnologia propiciada pelo Centro de Mídias e  outras tecnologias. Teremos assim o chamado ensino híbrido, que deverá ser a nova realidade pós-pandemia, não só neste ano, mas passando a fazer parte do dia a dia da escola pública nos próximos anos. É certo, contudo, que isto não se realizará simplesmente por um desdobramento natural deste período de educação remota realizado durante a fase de isolamento social.

Teremos que continuar o esforço de aprimoramento tecnológico do Centro de Mídias. Os professores, atores estratégicos desse processo, também precisarão ser continuamente estimulados e mobilizados para consolidar o novo modelo de escola do século XXI, no qual as tecnologias digitais de informação e comunicação e o letramento digital são elementos essenciais, como já preconiza a Base Nacional Comum Curricular.

Haroldo Corrêa Rocha é Secretário Executivo de Educação do Estado de São Paulo e Ex-Secretário de Estado de Educação do Espírito Santo

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