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domingo, 18 DE maio DE 2025

Imagine um João-de-Barro no comando da infraestrutura

O João-de-Barro é um pássaro arquiteto. Não haveria obra parada nem intermináveis revisões orçamentárias

Por André Gomyde

Duas notícias recentes chamaram a atenção do mundo e, sem querer, lançaram um olhar curioso sobre a eficiência das nossas próprias estruturas de gestão. Segundo O Globo, na República Tcheca uma família de castores construiu, em apenas dois dias, uma barragem que estava há sete anos aguardando autorização do governo. Já na Polônia, mexilhões estão sendo usados para monitorar a qualidade da água: quando detectam impurezas, fecham automaticamente o sistema de abastecimento — uma decisão que, se dependesse de pareceres técnicos e reuniões de comitê, levaria meses.

Esses exemplos fizeram surgir uma pergunta inevitável: e se o Brasil adotasse um representante da fauna para otimizar a execução de projetos? Minha aposta é no João-de-Barro.

Para quem não conhece, o João-de-Barro é um pássaro arquiteto. Constrói sua casa com eficiência impressionante, sem cronogramas que se estendem por anos e sem assessorias externas e consultorias especializadas, que no caso dos humanos são fundamentais e deveriam ser melhor e mais rápida e facilmente utilizadas pela gestão pública.

A obra do João-de-Barro resiste ao tempo, às tempestades e, principalmente, aos planejamentos intermináveis. Ao contrário de certos projetos que ficam mais tempo no papel do que em execução, o João-de-Barro simplesmente começa e termina.

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Imagine um João-de-Barro no comando da infraestrutura. Não haveria obra parada nem intermináveis revisões orçamentárias. As construções sairiam do papel antes mesmo de se discutirem ajustes no plano diretor. Uma ponte, por exemplo, não levaria décadas para ser concluída — muito menos ligaria nada a lugar nenhum.

No setor da saúde, hospitais e postos de atendimento apareceriam com a mesma velocidade e precisão com que o João-de-Barro ergue suas casas. Não haveria risco de uma obra ficar inacabada porque um material não chegou ou porque um aditivo contratual dobrou o custo. O pássaro resolveria tudo com barro e eficiência.

Na educação, a lógica seria a mesma. As escolas seriam construídas antes mesmo de se formar o primeiro grupo de trabalho para debater a viabilidade do projeto. Enquanto a burocracia analisa, o João-de-Barro entrega.

Claro, desafios sempre existirão. Afinal, nossa dificuldade não está na falta de capacidade técnica ou de profissionais qualificados, mas nos modelos de gestão que tornam processos mais lentos e complicados do que deveriam ser. Enquanto insistirmos em estruturas que priorizam a tramitação ao invés da realização, continuaremos assistindo histórias como a dos castores tchecos, que em dois dias fizeram o que humanos planejaram por sete anos.

O João-de-Barro não pediria muito. Apenas um bom espaço para trabalhar e a liberdade para fazer o que já sabe: construir. E, quem sabe, nos ensinar que quando há menos burocracia e mais ação, as coisas simplesmente acontecem.

André Gomyde é presidente do Instituto Brasileiro de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis e Mestre em Administração pela FCU, nos Estados Unidos. Instagram: @andre.gomyde

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