Segundo Fátima Pinho, sócia e Líder de Healthcare na Deloitte Brasil, as tecnologias devem atuar como ferramentas que complementam o trabalho humano
Por Erik Oakes
A Inteligência Artificial (IA) está cada vez mais presente no setor de Saúde, mas a ferramenta não substituirá os profissionais humanos. Essa foi a mensagem central de Fátima Pinho, sócia para a indústria de life sciences & health care da Deloitte, ao abordar o impacto da IA na área durante o 11º Congresso Brasileiro da Federação Nacional dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde (FENAESS), realizado em Vitória, na última sexta (30) e sábado (31), com profissionais de saúde e representantes de hospitais de todo o Brasil.
Segundo a especialista, a introdução de tecnologias avançadas não visa substituir os médicos ou outros profissionais, mas sim atuar como uma ferramenta facilitadora que complementa o trabalho humano.
“A IA vai substituir a gente, vamos perder nossos passos? Não. A gente sempre vai ter que ser uma camada de ajuste. A IA não anda sozinha, tem sempre outras camadas atuando para fazer funcionar e ter a automação”, disse a palestrante.
Fátima explicou que a implementação dessas tecnologias começa de forma modular, permitindo uma evolução gradual à medida que se ganha segurança em relação aos aspectos regulatórios. “É uma mudança que vai ocorrer ao longo dos próximos 20 a 30 anos, e a tecnologia é uma alavanca que nos permitirá avançar para o futuro.”
Exemplos em ação
Pinho também destacou que a tecnologia pode revolucionar a interação com o paciente e a gestão de dados. Aplicativos que transcrevem o que os médicos tradicionalmente escreviam à mão são um exemplo de como a IA pode aliviar a carga administrativa e permitir que os profissionais se concentrem no atendimento ao paciente.
“A máquina vai aprendendo à medida que inserimos os dados e, com isso, conseguimos ter um controle melhor da informação e uma gestão mais eficaz.”
Quem também vê a IA com bons olhos é o advogado Marcos Vinícius Ottoni, que falou sobre a regulamentação do uso da ferramenta. “Existe IA que lê a receita do médico com aquela letra. Ela lê, transforma em dados e joga no computador. Já insere no computador, automatiza e leva para o faturamento, tirando o erro humano”, cita como bom exemplo.
“Já tem soluções na China em que a pessoa, indo para o hospital, liga para a unidade e passa os sintomas e principais informações. O robô já traz uma estimativa do que pode ser e, quando ela chega no hospital, já tem uma equipe pronta para atender dentro do quadro, sabendo se ela tem plano de saúde ou não e o caminho a seguir com o atendimento”, destacou.
Apesar das facilidades, a classe médica ainda aguarda a regulamentação do uso da IA. Segundo Marcos, a regulação torna todo o processo mais tranquilo.
“Pense que se a gente usa uma ferramenta para dar um diagnóstico e ela dá um diagnóstico errado. Eventualmente, o médico deveria usar a IA como auxiliar e usou como principal ferramenta. Quem vai responder por isso? Quem vai ser processado para pagar a indenização? Pela legislação será o hospital e o médico pela ação”, disse Ottoni durante a palestra.
Apesar dos desafios e do custo elevado, Fátima vê a tecnologia como um caminho inevitável e promissor. “O futuro é cheio de perspectivas, e a tecnologia está aqui para nos ajudar a chegar lá. É importante que olhemos para isso com otimismo, pois a transição para um sistema de saúde mais eficiente e tecnologicamente avançado já está em andamento”, concluiu.