Somos a geração que viveu o melhor dos dois mundos e ainda ri das novas gerações que só conhecem o digital. Somos o link vivo entre o passado e o futuro
Por André Gomyde
Dizem por aí que quem tem entre 45 e 65 anos faz parte da “geração perdida”. Perdida? Só se for de tanto rir das novas gerações, que não sabem o que é esperar uma foto ser revelada, enrolar a fita cassete com uma caneta Bic ou ouvir a musiquinha do modem discado. Porque se tem uma coisa que essa geração aprendeu bem foi a arte de esperar – e de valorizar cada minuto das experiências vividas.
Nossa geração cresceu com brinquedos que não eram digitais, mas que faziam nossa imaginação voar longe. Quem nunca passou horas olhando num caleidoscópio ou segurando um monóculo, aquelas pecinhas mágicas com uma foto no fundo, como se fosse uma janela para outro mundo? Tivemos o privilégio de brincar na rua até a noite, sem sermos rastreados por GPS e sem a obsessão de compartilhar cada segundo da nossa vida nas redes sociais. Aliás, se tivéssemos redes sociais naquela época, o máximo que compartilharíamos seria a foto de um bolo queimado no forno ou uma brincadeira com os amigos.
É verdade, vivemos no mundo analógico e agora estamos no digital. Nos adaptamos ao computador quando ele parecia uma nave espacial; depois, ao celular, que mais parecia um tijolo; e hoje manuseamos o smartphone como se tivéssemos nascido com um na mão. Sem falar que fomos a geração que trocou cartas escritas à mão, que esperou semanas para receber resposta e, ao mesmo tempo, aprendeu a mandar mensagens instantâneas por aplicativos.
Fomos de discos de vinil, fita cassete e CD até as playlists no streaming. E, cá entre nós, cada mudança dessas foi uma nova aventura! Experimentamos todos os formatos de música, e hoje somos tão ecléticos que nem conseguimos explicar direito qual nosso estilo preferido. Nossa geração foi pioneira no que hoje é considerado “vintage”, só que, para nós, essas coisas não são moda – são memórias!
Enquanto muitos falam da “pressão” para acompanharmos as tecnologias, a verdade é que já estamos tão calejados com adaptações que aceitamos essa corrida digital com naturalidade. Aprendemos que nada se perde; tudo se transforma. Sabemos o valor do novo, mas também não descartamos o velho – e é esse equilíbrio que faz de nós uma geração única.
Então, geração perdida? Nada disso! Somos a geração que viveu o melhor dos dois mundos e ainda ri das novas gerações que só conhecem o digital. Somos o link vivo entre o passado e o futuro, testemunhas da mudança de uma era e protagonistas da era atual. E isso, meus amigos, não é coisa de geração perdida. É coisa de geração sobrevivente.
André Gomyde é presidente do Instituto Brasileiro de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis e Mestre em administração pela FCU-EUA. @andre.gomyde