É certo que iremos nos adaptar à nova vida e aos novos protocolos
Por Danielly Medeiros
A “ameça invisível” deste tempo pandêmico segue provocando em nós uma mistura de sentimentos, aflorando muitas vezes a insegurança do “não saber” diante de um cenário ainda indefinido. Mediados pelas telas, vamos aprendendo a ressignificar a vida (por vezes lembro-me do desenho dos Jetsons e de como o pensamento de um “futuro distante” passou a ser a nossa rotina, como videochamadas e robôs que limpam as casas). Ao buscar a sentença “adaptabilidade na pandemia” (considerando que para mim este é o caminho a ser trilhado diariamente) me deparei com o trabalho de Rohit Bhargava (especialista em inovação, curador de tendências e fundador da Non-Obvious Agency) e seu relatório sobre “tendências não óbvias para o futuro”.
Um alerta: este texto não é sobre tecnologia, sobre robôs e inteligência artificial. Até porque o foco da pesquisa de Bhargava está pautada em como o comportamento humano tem evoluído, sobre como nós nos relacionamos com a tecnologia e como somos afetados por ela. Não é a análise da tecnologia em si, mas do quanto ela pode ser benéfica ou prejudicial ao ambiente de trabalho e para nossa vida particular, por exemplo. Não é sobre “prever de futuro” e sim observar o hoje e projetar “cenários possíveis”, especialmente diante de tanta (des) informação.
A cada ano, desde 2011, Bhargava dedica-se a descobrir quais tendências serão as mais relevantes e impactantes e, em seguida, lança um livro sobre elas como parte de sua série “Não óbvia”. No ano passado, no evento South By Southwest (SXSW), o autor apresentou seu trabalho para um auditório lotado. Neste ano, por questões óbvias, a apresentação foi realizada em uma sessão virtual transmitida de sua casa, no mês de maio.
Em linhas gerais, o autor aponta a adaptabilidade como um importante fator a ser buscado em todas as áreas (principalmente nos tempos atuais). Cito aqui as quatro tendências apontadas por ele que foram amplificadas pela pandemia: o “revivalismo” (nostalgia; redescoberta do analógico, dos jogos de tabuleiro e busca por experiências mais simples como cuidar de plantas), o “modo humano” (necessidade de nos conectar por vídeo e até realizar rituais como festas de aniversário de modo virtual), o “conhecimento instantâneo” (aprender tudo rapidamente via tutorial e se posicionar como especialista sobre temas que se tem somente conhecimento e não domínio) e “flux commerce” (empresas estão se adaptando como nunca imaginaram – e as que não conseguem se adaptar estão, infelizmente, com problemas).
Não tenho dúvida, é certo que iremos nos adaptar à nova vida e aos novos protocolos (os atuais e os que ainda surgirão), assim como ocorreu a partir de 1997, quando o uso de cinto de segurança se tornou obrigatório.
O caminho é saber quão rápido isso se dará… não é mágica, é processo, e por isso é necessário começar já. “Fazer é o novo falar” (como defende a antropóloga do consumo Hilaine Yaccoub) e é preciso colocar-se em movimento (ao invés de ficar somente na teoria ou cultivando o medo das incertezas). Vale para os negócios e vale para a vida. Busque o quanto antes adaptar-se a partir de um olhar sobre si e sobre as pessoas e não “tentando digerir todas as coisas” (consumo simbólico das mídias, por exemplo).
Aplique a adaptabilidade – assim como outras habilidades subjetivas (também chamadas de soft skills) como criatividade, inteligência emocional, comunicação eficaz, liderança e antifragilidade – no enfrentamento das incertezas. E mais do que nunca, amplie o repertório, “retenha e descarte” referências e vivências (algumas fórmulas e receitas já não cabem mais) e principalmente tenha sempre a crítica, a criatividade e a curiosidade como balizadores do pensamento “não óbvio”. Vamos juntos?
Danielly Medeiros é jornalista, especialista em Economia para Jornalistas e Comunicadores Institucionais pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)