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sexta-feira, 29 março, 2024

Eterno 6: homenagem inédita a Bill Russell dificilmente se repetirá

Dentro e fora do basquete, é quase impossível aparecer alguém tão inegavelmente talentoso, revolucionário e instigante quanto ele

Na última quinta (11), a NBA divulgou uma homenagem sem precedentes em sua história: o número 6, usado pelo ex-pivô Bill Russell, falecido em 31 de julho, aos 88 anos, será aposentado por todas as 30 franquias da liga. Num meio que produz estrelas em escala cada vez maior, com rostos e currículos mais ao alcance do público leigo do que Russell, a decisão chamou a atenção. Mas a verdade é que não é necessário fazer maiores reflexões para entender no que está fundamentada a iniciativa e como Russell deve se manter como o único a receber tal honraria por muito tempo.

O impacto (desconhecido, desprezado ou simplesmente não compreendido) causado por Russell no basquete, e principalmente na NBA, já o tornaria digno de ter recebido a homenagem ainda vivo. Mas é compreensível que o legado deixado por ele tenha recebido tal reconhecimento com a avalanche de reações do mais elevado respeito que a notícia de sua morte causou.

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No entanto, não foi por isso que o número 6 foi retirado. A tragédia ocorrida com Kobe Bryant em 2020, em um momento em que o ex-jogador ainda era extremamente presente no imaginário dos fãs (alguns deles atletas que estão em atividade), provocou possivelmente a maior catarse coletiva da história da liga, mas ele não recebeu homenagem semelhante.

Também não foi porque Russell seria, incontestavelmente, o melhor jogador que já pisou em uma quadra de basquete. Não que haja alguém incontestável nesse sentido, mas, para efeito de comparação, Michael Jordan, a resposta mais comum para a pergunta “quem foi o melhor da história?”, só teve o número 23 aposentado por duas franquias: o Chicago Bulls e o Miami Heat (pelo qual nunca atuou, aliás).

Seguindo neste raciocínio, também não foi somente pela luta pela causa dos direitos civis e humanos que Bill Russell foi alçado a tal patamar. No presente, as tensões sociais movidas por discriminações raciais sofridas por negros nos Estados Unidos voltaram a um ponto de ebulição, como aconteceu nas primeiras décadas da carreira de Russell, nas décadas de 1950 e 1960. Hoje também temos figuras de imensa projeção dentro de quadra que se colocam como líderes fora dela.

Por último, o que demarca o ar rarefeito respirado pelo ex-atleta foi a consciência do seu papel em mudar o status quo. Por mais vencedor que tenha sido em sua carreira, Bill Russell nunca deixou de sofrer com o racismo. Durante os anos de jogador, segundo relatos dele próprio, foram inúmeras as situações degradantes que viveu, mesmo na cidade na qual atuou por 13 temporadas, como jogador e técnico.

Ele teve dificuldades de conseguir comprar uma casa em Boston por não encontrar vendedores interessados em negociar com um negro. Quando enfim pôde firmar um lar, ele foi vandalizado em mais de uma ocasião, com pichações de termos racistas e gestos repugnáveis, como a vez em que invasores defecaram em sua cama.

É quase impossível aparecer alguém tão inegavelmente talentoso, revolucionário, instigante e, principalmente, pioneiro quanto ele. Assim, ficar com um número a menos para se vestir está longe de ser um problema.

Com informações Agência Brasil

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